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Historicamente, a cultura brasileira nunca foi inteiramente voltada para a pesquisa e a inovação. Tendo seu início como colônia, o território brasileiro sempre foi muito explorado por países com a economia desenvolvida, formando operários que não tinham tempo hábil para pensar.
Essa realidade mudou no início dos anos 2000, com a vitória nas urnas do ex-Presidente Luís Inácio Lula da Silva pelo Partido dos Trabalhadores (PT). Multiplicação de vagas em universidades, criação de institutos federais e Lei de Cotas foram algumas ações implementadas por Lula e sua sucessora, também do PT, Dilma Rousseff.
Após 14 anos de avanço tecnológico e inovação, o Brasil caiu, em 2018, na onda da direita conservadora, fanática religiosa, que tem como principal alvo a ciência. Com a posse, em 2019, do atual presidente Jair Messias Bolsonaro, os ataques a educação foram iniciados.
Um dos primeiros atos do governo de Bolsonaro foi o corte de verbas para universidades públicas do Brasil. Grandes manifestações contrárias à redução orçamentária foram vistas por todo o país, sendo a mais marcante no dia 15 de maio de 2019. Mesmo reitores e gestores provando que o repasse não seria suficiente para a conclusão do ano letivo, o ministro da educação, escolhido a dedo pelo presidente, Abraham Weintraub, não recuou.
O governo atual é destacado pelas escolhas duvidosas de ministros da educação. Até o presente momento, Bolsonaro nomeou, em quatro anos de governo, cinco ministros da educação. Ricardo Vélez Rodríguez foi o primeiro e permaneceu três meses no cargo, ficou marcado por querer deturpar a trajetória política do Brasil trocando os livros de história para que o Golpe Militar de 1964 pareça um ato heroico de salvamento contra o temido comunismo.
Weintraub, segundo no cargo, durou mais tempo: cerca de um ano e dois meses. A desastrosa gestão do ministro de Bolsonaro culminou em erros na correção do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e cortes na educação. Além disso, ele também participou de atos contra o Supremo Tribunal Federal (STF), grande inimigo do presidente.
Já Carlos Decotelli foi apenas anunciado, não tomando posse por escândalos em seu currículo, como plágio em sua tese de mestrado e invenção de um doutorado e pós-doutorado inexistentes.
A mais polêmica de todas as escolhas de Bolsonaro foi com certeza o pastor presbiteriano Milton Ribeiro. Apesar de ter durado um ano e oito meses no cargo, o pastor acumulou escândalos em seu mandato, de assédio moral ao gabinete paralelo ao Ministério da Educação (MEC) com outros dois pastores. o “gabinete” cobrava propina, de prefeitos, para liberação de verbas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Ribeiro foi preso preventivamente em 22 junho e vergonhosamente solto no dia 23 de junho.
As consequências dessa trágica trajetória que é a educação no governo Bolsonaro, são universidades sem manutenção adequada, ausência de inventivo a estudos com potencial de revolucionar diversos campos importantes para a vida humana, como a indústria farmacêutica e a medicina, e reféns do financiamento de empresas privadas com seus próprios objetivos egoístas.
Victor Godoy, último ministro nomeado por Bolsonaro, por hora, trilha o mesmo caminho de seus antecessores. Mesmo com a inflação nas alturas, Godoy protagonizou um novo corte na educação superior, que já tinha recursos insuficientes para continuar operando em 2019.
O corte anunciado em 27 de maio de 2022 foi de 14,5%, cerca de 3,2 bilhões, o que inviabiliza toda a administração prevista por reitores do país inteiro. Diversas universidades publicaram notas de repúdio contra os cortes feitos pelo Ministério de Educação (MEC).
A ação compromete o funcionamento das Instituições Federais de Ensino Superior (IFES), uma vez que impossibilita honrar os compromissos assumidos e as atividades planejadas, o que torna incerta a conclusão do ano letivo.
Universidade Federal de Goiás (UFG)
A esperança de que este ano seria um pouco menos traumático para a ciência brasileira não demorou a ser rechaçada pelo governo federal. Mais da metade dos recursos que estavam previstos no Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) para serem investidos em pesquisa neste ano foram recentemente “bloqueados” pela equipe econômica do governo, sob a justificativa de evitar um estouro do teto de gastos do orçamento federal.
Herton Escobar – Jornal da USP
Mesmo com a declaração das instituições de que não conseguem concluir a agenda acadêmica com o novo orçamento, o MEC reafirma sua decisão de redução orçamentária da educação. E negligencia, sem surpresa alguma, todos os professores, técnicos e estudantes presentes nas universidades do país.