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É difícil pensar sobre isso, mas ainda há pessoas que são excluídas na sociedade. Simplesmente em razão de suas características físicas ou mentais, enfrentam um preconceito social. Vemos que ainda existe uma exclusão de pessoas com autismo por meio da ignorância do ser humano e também pela falta de conhecimentos sobre o assunto.
Considerado um espectro, o autismo engloba vários e diferentes níveis de funcionamento, não há diagnostico especifico para identificá-lo. Pessoas com o Transtorno de Espectro Autista (TEA) sofrem com o distúrbio do neurodesenvolvimento que tem início na gestação ou infância, mas que pode se estender até o início da juventude, interferindo nas relações sociais ou afetivas. Isso ocorre devido à falta de conscientização das famílias e das escolas, que muitas vezes tardam em buscar auxílio da equipe médica. Como consequência, tem-se o prejuízo no tratamento, já que quanto mais precoce o diagnóstico, maiores as chances de sucesso no desenvolvimento da pessoa autista, que deverá contar com a ajuda e união da equipe de saúde, professores, pedagogos e família.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) o autismo é uma síndrome que atinge cerca de 2 milhões de pessoas no Brasil e estima-se que o autismo afeta uma em cada 160 crianças no mundo. O autismo afeta importantes aspectos da vida em sociedade, tais como comunicação e interação social. Contudo, apesar da quantidade, os pais de crianças autistas ainda sofrem para encontrar tratamento adequado e que possa contribuir para que os filhos garantam a tão desejada inclusão. E uma das grandes dificuldades encontradas na sociedade é de conseguir uma escola que tenha estrutura adequada.
A inclusão da criança com transtorno do espectro autista na escola é extremamente importante, por conta de seus comportamentos e da sua trajetória de desenvolvimento tão singular, são crianças que tendem a ficar excluídas dos espaços sociais, seja na escola ou no lazer do dia-a-dia em uma praça ou clubes.
A inclusão é uma tarefa muito complexa no sentido de que ela precisa de uma reinvenção da escola. O conceito de inclusão se contrapõe ao conceito de integração. A integração é quando a criança com deficiência entra na escola e suas necessidades individuais são atendidas sem impactar o funcionamento global da escola. Já a inclusão é o contrário a escola se reorganiza para poder responder e estar ao alcance das necessidades da criança autista ou com outras necessidades especiais, e é esse processo de transformação da escola que é fundamental para que essa criança seja realmente inclusa.
Uma criança especial tem dificuldades extremas de interação social e na comunicação. A escola tem uma grande função pedagógica, porém ela pode passar a construir novas possibilidades para que o aluno com deficiência consiga interagir com as outras crianças. E com uma função muito importante: o meio escolar pode ajudar o aluno autista a desenvolver capacidade de interação, podendo assim interagir com outras crianças. Também é importante para que os outros colegas possam aprender a lidar com as diferenças, sendo isso um aspecto muito importante.
Na escola, o conhecimento do aluno autista vai poder ser desenvolvido. Uma criança autista que é muito marcada pela organização, pode ser uma boa ajudante da professora em atividades básicas dentro da sala de aula, como ajudar a professora na contagem de alunos, ela pode ajudar na organização do material, e uma criança autista que repete palavras, pode ser alfabetizada a partir dessa repetição. Então uma questão fundamental na escola é compreender que essas características da criança autista podem ser usadas para ajudá-la a fazer laços sociais.
Os sistemas escolares e os serviços sociais têm capacidade muito limitada para oferecer os recursos necessários para autistas de qualquer idade e para tratar dos problemas enfrentados. Ao mesmo tempo, as famílias ficam sobrecarregadas pelos desafios envolvidos na criação e no sustento de familiares autistas.
Para transformar a sociedade e o ambiente escolar, para os autistas se sentirem incluídos, precisamos de conscientização, acesso à informação, parceria governamental e empatia em enxergar o outro, entender as dificuldades, além de contribuir para facilitar o acesso ao tratamento, estará colaborando para minimizar a exclusão que as crianças com autismo sofrem.
Faltou ler/ouvir pessoas autistas falando sobre autismo, porque escaparam várias visões capacitistas. Não falamos “pessoa com autismo” nem “criança com o transtorno”, porque autismo não é uma peça de roupa que tiramos ou colocamos pra sermos “com autismo” ou “sem autismo”. O correto é dizer “pessoa autista” mesmo. Os termos “especial” e PNE também não são mais utilizados. O termo político é PCD, sendo, no caso do autismo, uma deficiência psicossocial. Vale também pesquisar os conceitos de modelo médico e modelo social de deficiência.
Por último: não existem tratamenos para o autismo, apenas pra minimizar as dores causadas por minorias viverem num mundo de maiorias opressoras (no caso, as dores de uma minoria PCD num mundo capacitista). Assim, o que garante a inclusão das crianças autistas na escola não é lotar a agenda de terapias e tentar modificar comportamentos e traços autistas. O que garante a inclusão é a mudança do ambiente, não da pessoa com deficiência.