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Nas minhas várias viagens no 263 – linha de ônibus que faz o trajeto do Terminal da Bíblia ao Câmpus Samambaia da UFG em Goiânia – eu reparo muito nas interações das pessoas. Porém, o que me chama mais atenção é a falta de interação quando um idoso gira a catraca, todos desviam olhares, fingem ler algo no celular e até mesmo simulam um cochilo. Toda essa encenação tem apenas um propósito: não ceder o lugar para uma pessoa que tem o corpo tão cansado, mesmo quando estão a ocupar assentos preferenciais.
As pessoas perderam a habilidade de se colocar no lugar do outro e não digo apenas pensar nos entes queridos, como os pais e avós, mas sim em um sentimento egoísta que em um futuro pode ser você a necessitar de um assento em um ônibus.
Não é incomum ouvir a frase “a humanidade sai quando entro no ônibus”. O transporte coletivo acende no indivíduo comum um comportamento primitivo de sobrevivência, que se resume em conseguir um assento. Após a vitória, a próxima batalha é não perder o lugar para algum idoso e não importa muito se o idoso pare ao lado do sujeito e que o mesmo observe as rugas, a coluna mais curvada, a pouca força contra os solavancos do transporte. Nada disso importa! O que importa mesmo é seguir viagem sentado.
Talvez o ônibus realmente desperte isso nas pessoas, esse egoísmo. E pode ser que fora desse ambiente selvagem, os mesmos que simulam cegueira sejam capazes de atos louváveis, ou não.
O grande fato é, as pessoas jovens perderam o respeito pelos mais velhos, pela inteligência empírica que muitos carregam, pelo corpo cansado, pela mente não mais tão lúcida. Toda essa geração enxerga os idosos como descartáveis. Um sujeito que cede seu lugar para uma alma cansada, poderia ser até ser considerado um santo, de tão incomum que o ato se tornou.