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Em uma noite comum após um dia estressante, a rotina é a mesma: banho, jantar e assistir um pouco de televisão antes de dormir. Após um momento de distração ao conversar com amigos pelo celular, o foco voltou a determinado jornal que, no momento, passava uma grande reportagem sobre a desvalorização do peso, a alta na inflação na Argentina e a forma com que a situação está afetando os cidadãos argentinos.
Nos dias seguintes, ao seguir a rotina noturna, segui acompanhando a série de reportagens, na qual foram retratados tópicos sobre o consumo de mercadorias na Cidade Autônoma de Buenos Aires, a inflação, a pobreza e a fome que assola com mais força a população dos bairros periféricos e mais antigos da capital argentina.
É fato que a situação dos hermanos não está fácil, visto que a inflação no país chegou à marca de 71%, recorde em 30 anos, e com a previsão de chegar a 90% até o fim do ano, de acordo com a CNN. No entanto, parece cômico que grande parte das críticas surjam de países (lê-se Brasil) com líderes conservadores e em tom de ataque aos governos e governantes de esquerda, numa tentativa de autopromoção da direita, quando, na realidade, a situação do país é grave assim como a de nossos vizinhos.
No final de semana seguinte à exibição da reportagem, me deparei com grande parte dos pontos levantados pela reportagem em Goiânia, no simples trajeto de ir ao supermercado e retornar para casa. Mães com crianças de colo aproveitando a sombra nas ilhas entre as ruas pedindo ajuda para sobreviver, aumento da população em situação de rua, pessoas revirando o lixo em busca de comida para alimentar a família, a inflação altíssima, levando o preço de itens básicos de consumo à beira do absurdo, como 5 quilos de arroz por mais de R$ 20 e o litro de leite a quase R$ 10 — isso sem mencionar o preço da carne… O real extremamente desvalorizado nos proporciona essa experiência terrível de crise, onde 100 reais está longe de ter o mesmo valor de compra que tinha há 5 anos e o salário aparenta ser cada vez menor.
É muito fácil criticar o governo da Argentina e se comover com a dificuldade que a população enfrenta em tempos de campanha política, enquanto não existem e não foram aplicadas medidas para combater os altos índices de desemprego, a pobreza e a fome que ocorrem aqui no Brasil e, ao que parece, a intenção do atual (des)governo foi justamente essa. Mas aparentemente a situação só é relevante quando não está próxima e visível aos nossos olhos.