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Historiador comenta as adversidades e desafios que o governo eleito deve ter e como provavelmente vai tratar e tomar decisões quanto a essas dificuldades.
José Leonardo Santana, professor e diretor do Colégio Igor Xavier em Trindade, graduado em História pela Universidade Federal de Goiás, discorre em entrevista para o Lab Notícias, sua visão sobre os desafios do, recém-eleito, presidente Lula e como o governo lidará com essas adversidades, tendo em vista seus antigos mandatos.
Lab Notícias(LN): Segundo o próprio PT e historiadores, Lula iniciou sua trajetória política no movimento sindical e teve muito apoio do MST durante sua caminhada política. Como esse início de vida política ligado a esses movimentos influenciará nas tomadas de decisões do seu governo?
José Leonardo: Essas são as principais bandeiras do presidente eleito Luís Inácio Lula da Silva, tanto pelas questões da origem pessoal dele, um retirante nordestino que vai para São Paulo para tentar ter uma vida melhor, que ele viveu na pele o que muito dos brasileiros hoje vivem, a questão da desigualdade, da miséria e da fome, quanto pela luta pela legitimidade desses movimentos, luta a qual – tanto os movimentos ligados à terra quanto os ligados aos operários, têm para legitimar sua importância dentro do cenário nacional e enquanto indivíduos. Então a história política e social do Lula está diretamente ligada a esses movimentos, logo seria muito incoerente caso suas decisões não fossem baseadas nessa história política e social.
LN: O Brasil historicamente foi, na maioria do tempo, governado por candidatos de direita até Lula ser eleito em 2002. Porém, desde 2013 os movimentos de direita e extrema direita voltaram a tomar conta do país. Como presidente, Lula tem a missão de unir o país, como?
José Leonardo: Um desafio muito complexo e muito difícil vai ser essa união do país. De acordo com alguns especialistas, essa polarização é fruto de algo que foi construído sobre um espectro aonde o PT foi culpabilizado de todas as mazelas que estão acontecendo no país, principalmente ligado à corrupção, aonde parte da mídia e parte dos partidos políticos colocaram o PT como precursor e criador da corrupção no país.
Logo, um dos grandes desafios do Lula será o de mostrar que, houveram sim falhas no antigo mandato, mas que houveram muito mais pontos positivos do que negativos dentro do seu governo. E pacificar as massas, tentar desmistificar essa culpabilização do PT, mostrar que o Brasil pode melhorar sim, se unindo e lutando contra os principais inimigos que são a desigualdade social, a fome e a miséria, trazendo políticas públicas que podem potencializar essa visão de melhora para o nosso país, políticas que podem mudar a realidade da grande maioria da população que passa por situação de vulnerabilidade financeira, social e emocional, então trazer esperança é o principal desafio do presidente Lula.
LN: As manifestações antidemocráticas contestando o resultado das urnas completaram 1 mês recentemente. Lula diz que irá governar para todos, mas como lidar com esses movimentos extremistas em relação ao presidente eleito?
José Leonardo: Sobre esses movimentos, o objetivo é mostrar serviço, cumprir as promessas de campanha e mudar a cabeça desses manifestantes, claro que têm outras coisas que eles são contras, por exemplo essa questão de políticas afirmativas, mas muito do que está por trás desses movimentos antidemocráticos são pautados em fake news e eu acredito que quando o governo começar a trabalhar esse calor das manifestações vai acabar um pouco, a gente anda vendo coisas tão absurdas, estão pedindo intervenções de alienígenas, mas acredito que quando perceberem que muito está em volta de notícias falsas e coisas inexistentes, eles irão voltar para a realidade.
LN: Durante a campanha, principalmente do segundo turno, foi formada uma “frente ampla”. Vários políticos, como FHC, e personalidades outrora antagônicas demonstrando apoio ao presidente Lula. A que pode-se atribuir isso?
José Leonardo: Com certeza essa formação da frente ampla demonstrou muita força política e me lembrou muito a frente ampla formada durante o período da ditadura militar, aonde o objetivo era tirar os militares do poder e reuniu muitas personalidades antagônicas, como Carlos Lacerda, Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros entre outros, no intuito de salvar a democracia. Então, essa formação de frente ampla com ideias diferentes foi pautada a favor da democracia, o que fortaleceu muito politicamente a campanha do presidente Lula.
LN: Apesar de benéfica, essa frente ampla, que uniu Boulos, Meirelles e João Amoêdo, também trouxe muita discordância para o, agora, governo eleito. Alguns de dentro do gabinete são favoráveis a políticas econômicas mais liberalistas e conservadoras, outros já são mais keynesianos. Como foram as políticas econômicas dos outros dois mandatos do Lula e o que esperar agora, com esse cenário político mais dividido?
José Leonardo: Em relação a parte econômica, acredito que será uma postura um pouco mais contida, mais conservadora, por conta dessa união em relação com essa gama de ideologias. São muitos pensamentos, às vezes antagônicos, mas o objetivo seria pegar o que há de positivo em cada um desses pensamentos em prol das políticas públicas para mudar a realidade. Não cabe discussão política, não cabe antagonismo por si só, de maneira volátil, mas uma política voltada para a população brasileira, agora é hora de pensar sobre a população brasileira.
Então, acredito que essas forças que se uniram contra essas ameaças antidemocráticas estão em prol da população, mas tem que ser tirado do papel, com ações, comportamentos e com resultados, porquê é disso que a população brasileira precisa: sair dessa situação.
LN: O teto de gastos tem sido muito criticado ou defendido atualmente. Qual será, possivelmente, a postura do governo com essa política?
José Leonardo: É muito complexa essa questão do teto de gastos, pois de um lado temos o mercado financeiro que cobra por responsabilidade fiscal, e do outro lado tem pessoas passando fome, então tem que achar um meio termo, achar um equilíbrio, obviamente responsável, mas o governo tem que ter uma postura em prol da população brasileira e ao mesmo tempo atender alguns interesses do mercado, acredito que terá que ser uma gestão muito inteligente e com responsabilidade. Nesse primeiro momento, o teto vai precisar ser ultrapassado, mas é preciso planejamento, o Lula precisa trazer uma segurança para o mercado financeiro mas sem deixar de lado as políticas públicas.
LN: Segundo o IBGE, em 2018, a indústria de transformação representava 11,8% do PIB brasileiro, esse número é considerado baixo por muitos especialistas, que afirmam que esse processo desindustrializante reflete na alta taxa de desempregos e aumento da fuga de mão de obra qualificada. Como, historicamente, se deu esse processo de desindustrialização e como o governo eleito pode agir em relação a essa categoria histórica?
José Leonardo: Durante o governo do PT a gente teve avanços significativos na indústria brasileira, mas historicamente o Brasil sempre exportou mais matérias primas do que produtos industrializados. Hoje, produtos ligados à tecnologia principalmente. O Brasil está muito atrás de outros países, inclusive países semelhantes, com economias semelhantes, países emergentes como a própria Índia, por exemplo, então é investir nesse processo de industrialização e, acredito eu, abrindo um pouco o mercado para manter um equilíbrio quanto à isso, mas focar na geração de empregos com políticas que incentivem o pequeno empresário e empreendedor, que gerará emprego e trará essas demandas para o processo industrializante.
LN: Em 2002, quando venceu, Lula teve mais alinhamento na transição de governo do que tem agora com o governo Bolsonaro. Com tantas divergências, como lidar com essas adversidades?
José Leonardo: Essa questão da transição tem muito a ver com a questão da pacificação do país, agora é sentar, dialogar com seus pares e fazer política, que foi o que faltou muito no governo Bolsonaro, o diálogo. O que que é essa fazer política? É, infelizmente, negociar com a galera, claro que com sabedoria, com responsabilidade, mas quando falamos de negociação, falamos de ouvir tanto oposição, quanto a situação, o Brasil precisa de união nesse momento, da mesma forma que o pensamento durante a campanha foi em prol da democracia, agora temos que pensar em prol da população brasileira.
LN: Olhando um pouco para educação, como a comunidade de professores e acadêmicos vêem a vitória de Lula? As universidades e ensino superior foram carros chefes nos governos petistas, nos governos de Lula e Dilma 18 novas universidades federais e 173 campus universitários foram criados, além disso também houve a criação do PROUNI e a expansão do FIES. É de se esperar uma retomada desses investimentos?
José Leonardo: Para a educação eu acredito que a vitória é muito positiva, pois durante o atual governo, a gente sabe que a educação sofreu vários golpes, várias tentativas de intimidação, principalmente utilizando a questão financeira, querendo ocupar cargos em universidades, retirando reitores democraticamente eleitos, querendo mudar a realidade das universidades por uma bandeira ideológica que não existe, que é baseada em fake news, em costumes que só segregam o país ao invés de unir e a educação precisa sim de investimento.
Tivemos também muitos ataques à ciência, cortes de bolsa, CNPQ, várias pesquisas foram interrompidas – o que influenciou diretamente até no combate contra a Covid, questão das vacinas e da saúde. Já no PT, uma das marcas do governo do PT foi justamente isso, o crescimento das universidades, o crescimento do valor investido em ciência e tecnologia, e acredito que isso vai retornar agora, pois é uma das promessas de campanha.
LN: Entrou em vigor no governo do presidente Bolsonaro o Novo Ensino Médio, que causou polêmica entre os educadores. Agora eleito, Lula deverá lidar com essa nova forma de ensino no Brasil. Com base no que foi feito em seus mandatos anteriores, como Lula e sua equipe devem agir em relação a essas mudanças na educação?
José Leonardo: Uma das coisas que estão deixando os estudantes e escolas em geral aflitos é que, junto com o novo ensino médio, automaticamente vai ser criado o novo ENEM, e para que haja uma prova dessa magnitude, é necessário ter uma matriz curricular, uma matriz de produção, de criação da prova e essa matriz ainda não foi criada e o novo ENEM já é em 2024.
Então, o novo governo vai ter apenas um ano para criar essa nova matriz, acredito que isso deve ser feito, na verdade isso tem que ser feito, porquê temos um ano para construir uma prova que impacta na vida de todos os estudantes do país. Tivemos vários escândalos dentro do próprio INEP, tentativas de interferência na prova por questões ideológicas, acredito que, agora, esse governo vai levar a educação de maneira mais séria e se preocupar com a parte científica, intelectual e educacional dos alunos.