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Fotografia: bandeira transexual; autoria desconhecida.

Adolescência. Esse período pode parecer distante aos mais velhos, A questão é que a adolescência representa uma jornada significativa de nossas vidas. É o período no qual nos questionamos sobre tudo, mas principalmente sobre quem somos nós. É exatamente nessa fase que Sam Oliveira M. e centenas de outras pessoas se questionaram sobre orientação sexual e gênero.

Descoberta:

“Na minha percepção, provavelmente fui começar a me descobrir trans em um dos piores momentos da minha vida. O que não ajudou nem um pouco na minha autoaceitação. Lá pra meados de 2019, fazia mais ou menos um ano que tinha perdido minha mãe e muitos pensamentos me rondavam.”

Envolto de pensamentos confusos, os quais reforçavam coisas que “no fundo” Sam sempre soube, mas que ainda sim, eram pesados demais para serem falados em voz alta: Ele adoeceu.

Devido ao descontentamento constante e a inquietação que ali pairava, Sam começou a alimentar uma fúria contra o próprio corpo. Por mais que se odiasse frente ao espelho, ainda permanecia lá, sem mover um dedo, quase que de maneira obsessiva. Como se, de repente, todas as lágrimas fossem consertar tudo que era visto de errado, como um truque de mágica.

 “Desenvolvi um transtorno alimentar como forma de tentar adaptar o meu corpo, mesmo que a força, eu acreditava fielmente que tinha alguma coisa de errado comigo, e tinha que eliminá-la. Entretanto, eu só fui descobrir e entender isso tudo realmente, meses depois, com tratamento psiquiátrico e medicamentoso.”

Já em 2020, Sam passou pela pandemia. Em casa, muitos momentos de reflexões racionais se sucederam, e finalmente ele conseguiu dar nome à coisa: ele era transexual não-binário. “Eu pesquisei muuuuuito sobre o assunto, muito mesmo, a comunidade trans não era algo que eu conhecia tanto ainda. Passei a conhecer mais e quanto mais eu me identificava, mais eu me desesperava.” – diz ele.

Autoaceitação

Era papo de outra realidade se ver explicando tudo isso para a própria família. Comenta ele: “Como que eu falo pra minha irmã, que literalmente escolheu meu nome, que eu não gosto do meu nome, que ele me deixa desconfortável? Como que eu vou explicar para o meu pai o que que é um binder (vestimenta utilizada para reduzir o tamanho do seio)?”

Esses eram só alguns dos pensamentos que passavam pela cabeça do rapaz, enquanto mais uma vez chorava. Mas dessa vez era diferente. Era um choro de alívio, um choro de autoaceitação. Com esse processo mais leve, era muito mais fácil de ser verbalizado. Em pouco tempo contou aos seus amigos a novidade e foi acolhido com muito carinho.

” Tive muita sorte, era a melhor coisa do mundo quando eles diziam que estava tudo bem, que estavam orgulhosos de mim. Quando eles me chamavam de Sam, de Sammy, ou só pelo sobrenome mesmo e quando usavam os pronomes masculinos para falarem de mim, sei que foi difícil pra eles também me ver de outro jeito, com o cabelo cortado, roupas mais largas, era difícil entender o que é um não-binário também.” – diz Sam.

Ele finaliza: “Mas, pra mim nunca foi um problema muito forte as pessoas entenderem ou não o que é ser não-binário. Definitivamente era frustrante no começo, quando eu estava saindo do armário, porém, eu sou mais bem resolvido comigo mesmo atualmente. Eu sei quem eu sou, eu sei como eu me represento, só espero que as pessoas me respeitem e respeitem a comunidade (trans).

Violência contra pessoas trans

Infelizmente, o Brasil lidera a lista de países que mais matam pessoas trans. Ademais, é responsável por 1/3 de todos os homicídios ao redor do mundo contra a comunidade. A grande maioria atinge pessoas pretas e pardas. Após diversos protestos e mobilizações, criminalizou-se a transfobia no país em 2019. Ainda sim, no ano passado (2021) registrou-se 140 assassinatos de pessoas transexuais. Esse número ainda é de 35 mortes a menos (175) do que o ano anterior (2020). Todos os dados podem ser encontrados no Dossiê assassinatos e violências conta travestis e transexuais no Brasil (2021).

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