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O estilista nova-iorquino, Curtis Cassell, natural do Brooklyn, concedeu uma entrevista ao LabNotícias acerca de sua jornada artística e seu protagonismo na moda queer estadunidense.
Na última temporada do reality show, Making the cut 2022, pela Amazon Prime, Curtis destacou-se em diversos desafios ao apresentar sua identidade, personalidade e conduzir o viés político-social em suas criações. Sua notoriedade foi tão grande ao longo do programa que concedeu ao estilista uma collab com uma das principais marcas de sport wear mundial, a Champion, aumentando a visibilidade de sua marca Queera Wang.
Eu acredito que como artista é importante você achar seu caminho e produzir algo único pra você. Eu me encontrei na moda, comecei fazer algumas coisas e depois transformei isso num negócio” , discorre Curtis na entrevista.
Queera Wang é onde Curtis se encontra. Posto que, através da moda ,o artista encontrou sua voz no mundo. Assim esbanjando sua arte e solucionando seus próprios questionamentos. “Não tive o objetivo de me inserir no mundo da moda, a moda foi um caminho que encontrei para solucionar problemas de vestimentas formais para pessoas queer”, continua Curtis.
A entrevista foi realizada através de zoom meeting, em inglês. A tradução foi realizada pelo repórter.
Adan Neto: Qual sua história com a moda? Como sua infância impactou na sua identificação com ela?
Curtis Cassell: Eu sempre costumei desenhar, desde criança eu produzi todo tipo de arte, desde desenhar vestidos, casas e outras coisas. Quando eu era criança eu tinha medo de desenhar certos tipos de coisas, como vestidos e arranjos florais, porque eu temia que soubessem que eu era gay. Desde essa época eu passei a desenhar prédios, arquiteturas, desenhos mais gráficos, considerados mais “masculinizados”. Depois de um tempo eu pude olhar pra trás e perceber que o importante é fazer o que você mais gosta, que se dane o que os outros tem pra dizer! Você pode fazer isso! Quem se importa se isso te faz gay?! Tipo, eu sou gay sem precisar desenhar vestidos. Minha infância foi assim! Havia interesse ali, mas eu estava lutando com outras questões internas.
Adan Neto: Qual foi o momento que você se identificou com a moda queer? Essa vertente mais livre.
Curtis Cassell: Eu costumava trabalhar com casamentos, havia muitos casamentos gays e me pegava julgando o que cada um estava vestindo e pensava sobre o que eu gostaria de vestir no meu casamento. E o primeiro questionamento que me vinha era “usaria um vestido ou terno?”. Não há muita inovação entre eles, sempre será um terno preto e um vestido branco, e eu comecei a pensar como eu poderia criar roupas formais para pessoas queer. E eu comecei a ir cada vez mais adentro desse nicho, então meu objetivo sempre foi fazer roupas formais para a comunidade queer.
Adan Neto: Sobre o processo criativo: de onde surgem suas inspirações na produção de seus designers?
Curtis Cassell: Quando você é uma pessoa criativa você é inspirado por algo, tipo a luz de um prédio, a cor de uma árvore, uma pessoa que está andando na rua… Eu sempre faço anotações, registro, tiro fotos de algo que me inspira. Tecidos, texturas e silhuetas. Acredito meio que numa “intervenção divina” quando surge algo na minha mente. Então é observar, analisar as coisas ao seu redor que eventualmente elas tomam suas formas. Eu acho que nenhuma das minhas criações saíram da minha cabeça, geralmente eu vou em lojas de tecidos e sempre busco algo que me encanta.
No primeiro desafio do reality show (Making the Cut, terceira temporada) eu queria fazer uma roupa de noite em azul, mas na loja de tecidos eu não encontrei nada que me agradasse, então eu encontrei um tecido roxo berinjela e pensei” hmmm, isso é estranho, acho que pode funcionar!”. O importante é manter a mente aberta que as coisas fluirão. Você precisa estar aberto pra poder identificar o que seu público deseja, o que alguns estilistas andam fazendo eu acho entediante, como criar algo e colocar ali e dizer “vista isso!”. Eu gosto de observar as pessoas pelas ruas, ver o que elas estão usando no dia a dia, o que elas usam pra sair à noite. Você tem que ouvir as pessoas e criar aquilo que elas querem usar.
Adan Neto: Como o reality show, Making the cut, impactou sua vida pessoal e no reconhecimento de sua marca?
Curtis Cassell: Eu ando fazendo as mesmas coisas que fazia antes de entrar no reality show, mas agora as pessoas me levam mais a sério! Caso eu precise de dinheiro pra fazer algo, as pessoas estão mais propícias a ajudar. Eu acho que pessoalmente isso te ajuda com uma validação, quando você assiste o reality e percebe o quão bom você é. O Making The Cut ajudou a minha marca ter uma audiência maior. Eu acho isso importante, fazer as pessoas terem reconhecimento de quem você é.
Adan Neto: A moda sem gênero é o futuro da moda? Como podemos viabilizar sua propagação à sociedade?
Curtis Cassell: Eu realmente acho que a moda sem gênero é algo promissor, atualmente há muitos casais heterossexuais compartilhando roupas. É definitivamente o futuro. Como retirar esse estereótipo de “isso é pra menino e isso pra menina” e vender isso para várias pessoas. Por mais que eu viva numa bolha, como é Nova Iorque, eu acho que as pessoas não colocam mais tantos tabus em suas vidas. Eu acho que o meio principal para essa propagação são as lojas de roupas, não ter mais essa divisão de roupas masculinas e femininas. É preciso saber como vender, como modelar essas roupas.
Adan Neto: Em relação à gênero e sexualidade: Como a moda impacta a vida de pessoas queer?
Curtis Cassell: Eu acho que tudo é importante quando se trata de representatividade, não importa se é um filme ou até mesmo a moda. Quanto mais acharmos coisas para nos inspirarmos, mais empoderados seremos. Há outras pessoas como você, você não é o único “estranho” aqui. Eu como designer da minha marca é importante pra mim produzir não somente um vestido que se encaixe num homem gay, é importante pra mim que esse vestido possa servir também para uma mulher lésbica, pessoas trans. É preciso representar todos.
Adan Neto: Pra finalizar, sobre o futuro da Queera Wang, há algo que você possa me contar?
Curtis Cassell: Talvez! Estou desenvolvendo peças de outros tamanhos, era algo que as pessoas já estavam me cobrando antes. Mas, meu próximo plano é fazer roupas para bailes de formaturas, esses de ensino médio mesmo! Uma prom colection. Não necessariamente um vestidão, mas algo que encaixe em pessoas queer. Isso é algo para o próximo ano.