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No sétimo dia do mês passado, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva postou nas redes sociais uma enquete questionando os seguidores sobre uma volta do horário de verão que poderia vir com seu mandato: a pesquisa contou com a participação de mais de 2 milhões de internautas e a opção “sim” venceu com 66%.
Em território brasileiro, o horário de verão foi iniciado no dia 3 de outubro de 1931, implantado pelo então presidente Getúlio Vargas, com a justificativa de redução do consumo de energia elétrica pelo aproveitamento de luz natural. No decorrer dos 90 anos após o decreto, a medida foi suspensa diversas vezes, sendo a mais recente no ano de 2019 por ordem de Jair Bolsonaro: o site oficial do governo afirma que, por causa de mudanças de hábito de consumo de energia, esse adiantamento de horário já não mostrava eficácia.
A votação no Twitter reacendeu discussões sobre os efeitos de avançar 60 minutos no relógio, mas vale ressaltar que tal interação alcançou apenas um grupo seleto, e não garante certeza acerca do posicionamento da população total brasileira. E, falando em posicionamento, esse tema ocasiona divergência de opiniões: um estudo realizado pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) afirma que a mudança possui efeito neutro e/ou insignificante no uso de energia, mas o coordenador do Instituto Clima e Sociedade afirma que o recurso pode nos ajudar a atravessar uma possível crise energética.
Assim, para comentar sobre o assunto e contextualizá-lo para o cenário goiano, entrevistamos Enes Gonçalves Marra: engenheiro eletricista com graduação e mestrado na Universidade Federal de Uberlândia. Atua desde 1993 como professor na Escola de Engenharia Elétrica, Mecânica e de Computação da Universidade Federal de Goiás. Além disso, suas áreas de atuação também incluem: Eletrônica de Potência, Acionamento de Máquinas Elétricas, Processamento de Energia, Qualidade da Energia Elétrica, Processamento de Energia e Fontes de Energia.
LabNotícias: O horário de verão realmente tem impacto na economia de energia no brasil?
Enes Marra: Ele tem impacto na economia de infraestrutura. O maior objetivo do horário de verão não é economizar energia elétrica, mas aliviar a estrutura e aumentar a segurança do sistema: esses fatores desencadeiam, como resultado, um efeito de economia na tarifa kWh(quilowatt-hora) de energia e não na fatura que chega para o consumidor residencial.
LabNotícias: Como funciona esse alívio estrutural no Brasil e no Centro-Oeste?
Enes Marra: O horário de verão é importante como um mecanismo de uso racional de energia, desde que o sistema no qual ele se insere favoreça sua utilização. Ele está baseado no aumento da duração de luz solar a partir do início da primavera até certa parte do verão. Nesse período, nos locais abaixo do Trópico de Capricórnio, o aproveitamento da luz solar pode produzir alívio de uso de infraestrutura. No momento em que as pessoas estão retornando para casa, a iluminação noturna ainda não entrou. Algumas atividades como banho, abrir geladeiras, acender luzes, não se sobrepõem à iluminação. Há também uma mudança de hábitos: como ainda tem a luz do Sol, algumas pessoas optam por não ir pra casa e, em vez disso, saírem para passear.
A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (ABRASEL), por exemplo, é favorável ao horário de verão pois ele ocasiona aumento de consumidores. Esses fatores, combinados, causam alívio na demanda do sistema. No Centro-Oeste do país, o horário de verão não apresenta efeito tão significativo, dada nossa localização tropical. Mesmo assim, por fins administrativos, adotamos a medida: os horários bancários e de sistemas governamentais acompanham o relógio da capital do Brasil, que fica na região.
LabNotícias: Pessoalmente, você acha pertinente o retorno do horário de verão?
Enes Marra: Quando, no governo atual decidiu se acabar com o horário de verão, foi por uma análise técnica da ONS, que mostrou que seu efeito era tão pequeno que não valia o transtorno de aplicação. Além disso, a decisão não é permanente e deve sempre ser revista: em contexto atual, um incentivo à isso é o aumento no uso de energia solar.
Portanto, seria sim interessante a existência do adiantamento no relógio, podendo inclusive aumentar seu impacto positivo até no Centro-Oeste. A aplicação do horário de verão pode evitar a utilização de bandeiras tarifárias, o que ocasionaria em benefícios financeiros e ambientais (já que elas se baseiam majoritariamente no uso de combustíveis fósseis).