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“Queermada Gyn é uma comunidade formada tanto por pessoas LGBTQIA+ tanto por aliados também, nós somos unidos por um esporte que é um pouco subestimado, que é a queimada. Apesar que esse esporte é o nosso pilar principal, a gente também possui outros pilares que é a formação de eventos, ações sociais e o objetivo desde o início foi sempre promover de alguma forma um impacto em Goiânia.”

Thales Flambo Azevedo.
Foto: Reprodução, Queermadagyn.

Projeto social nasceu da vontade de 6 amigos de se reunirem e jogarem queimada. Um esporte que não possui regras oficiais no Brasil, mas que não foi apenas criado com a intenção de ser uma atividade física. Com a intenção de promover a inclusão, ações sociais e de ser um espaço de acolhimento a Queermada Gyn, anteriormente chamada Gaymada, cresceu e ganhou espaço no cenário goiano participando até mesmo do Festival Bananada em 2019. Começou com apenas 30 integrantes e atualmente possui cerca de 300 membros.

Thales Flambo Azevedo, de 24 anos, é veterinário e integrante da Queermada Gyn desde 2019. Além disso, é um dos Gestores do Projeto e participa da casa Laranja, Tangayrinas. O Lab Notícias realizou uma entrevista exclusiva com o integrante para apresentar esse projeto goiano.

LabNotícias (LN): Flambo, Quem foram os criadores da Queermada?

Thales Azevedo “Flambo”: A Queermadagyn foi criada por um grupo de amigos compostos por 6 pessoas que estavam precisando espairecer a mente, pois tinha acabado de ter as eleições de 2018, o presidente tinha acabado de assumir e estava um clima de tensão para o público LGBTQ+. Então um grupo de amigos resolveu se reunir ali no Setor Sul para jogar uma Queimadinha e o negócio começou a crescer sem querer, digamos assim.

Primeiro registro, Fevereiro de 2019. Foto: Reprodução Thales Azevedo.

LN: O esporte é ainda um espaço heteronormativo. Qual a necessidade de uma atividade física formada por pessoas LGBTQIA+?

Flambo: É, infelizmente isso é uma realidade, o esporte é um espaço heteronormativo e você vê muito que todos nós LBTQs fazem todos os outros esportes também mas parece que a queimada, é uma coisa da nossa cultura queer brasileira. A criança LGBTQIA+ se sente mais confortável jogando queimada no ensino fundamental e médio do que os outros esportes que tem mais a presença de um hetero. Já falei com uns amigos sobre isso e a maioria fala isso. Então a queimada sempre foi vista como um esporte inferior, uma brincadeira de menina, até mesmo de criança, mas no fim era um espaço que nós nos sentiamos melhor, pois não tinha tanta presença de héteros.

LN: No início se chamava Gaymada, e depois o nome foi alterado para Queermada. Por que se deu essa mudança? E para você qual a relevância da mudança de nome?

Flambo: A mudança aconteceu de uma forma bem simples, apesar de ser um bom trocadilho. E apesar de muitas outras queimadas pelo Brasil se chamarem Gaymada a gente queria que fosse mais inclusivo, a gente quer incluir as outras siglas da comunidade, então acabou caindo em desuso e preferimos deixar como Queermada, a gestão da época.

Olha, com certeza tem uma relevância e posso falar por mim, que sou um homem gay, para quem mudar o nome em nada me afetou, mas para as outras pessoas das siglas na Queermada, se sentiram mais representadas e de certa forma ajudou até para passar esse movimento para frente e não ficar restrito apenas para pessoas gays.

LN: Quantos membros participam atualmente da Queermada? Existe realmente a diversidade de pessoas da comunidade?

Flambo: Não temos exatamente um número oficial de pessoas, mas acredito que tenhamos 300 pessoas hoje em dia e dessas trezentas, 150 são realmente membros ativos que frequentam os jogos, os rolês. E sobre a diversidade ainda é um caminho a se trilhar, pois é um objetivo que estamos tentando desde 3 anos atrás e estamos sempre buscando essa participação e queremos que o movimento cresça para outras pessoas também.

Sétimo sorteio das Cores. Foto: Reprodução, Queermadagyn.

LN: Onde são realizados os treinos? É um espaço público e as quadras que vocês jogam são cobertas? Contam com algum apoio dos moradores, da prefeitura?

Flambo: A gente joga nas quadras do Setor Sul, então elas não são cobertas, infelizmente. Jogamos ali no Bosque dos Pássaros que fica na Rua 118, perto da 88, e a gente foi ocupando outras quadras também, pois a iluminação não era legal e a gente descia para a quadra de baixo.

Na verdade a associação dos moradores dos bosques dos pássaros ali do setor sul, é muito amigável com a gente. Sempre que precisamos, as muretas estão com uma pintura muito feia, desgastada, está precisando refazer as linhas, a gente fala com eles e o pessoal se organiza e fala com a Comurg para dar uma ajudada. Então é uma parceria que temos com os moradores da região.

LN: De onde surgiu a ideia de criar as casas de cores?

Flambo: Para o Bananada precisava ter time, acabou decidido que em vez de haver 8 times, era melhor 6, por conta da ideia de cada time ter uma cor do arco-íris: vermelho, laranja, amarelo, verde, azul e violeta, então a priori cada time tinha seu nome: RedQueens, Tangayrinas, Piu Piu de Ouro, Suculentas (anteriormente Pepinões Trevosas), BlueCats, PurplePocs.

Após o evento do torneio a galera já tava tão integrada nesses times, ja estava uma amizade tão legal, tão bacana, a gestão decidiu que seria interessante continuar, só que ao invés de times, serem casas inspiradas em Harry Potter. Que serviram como local de apoio para novos membros e são essenciais para a formação da Queermada, pois gerir um número grande de pessoas é muito complicado e essa divisão ajuda bastante, pois cada liderança da casa faz o seu papel e a gestão consegue ser fluida.

LN: Como ocorre a entrada de novos membros nas casas?

Flambo: É uma forma bem simples, geralmente as pessoas procuram pelo instagram querendo saber como faz para jogar e um gestor transfere para um grupo chamado Berçário e lá são repassadas informações se vai ter jogo ou não vai, montar lista de novatos. Durante os meses de Berçário, a pessoa precisa ter 2 meses de participação na Queermada e de ter jogado 4 jogos para estar apta em participar do Sorteio das Casas e entrar em uma casa. Não queremos membros inativos, queremos pessoas que vão nos rolês, joguem e participem.

Quarto sorteio das Cores, Fevereiro de 2020. Foto: Reprodução, Thales Azevedo.

LN: Neste final de semana vocês irão realizar a 8ª edição do sorteio das casas focado em apoiar a Casa de Bailes Laroye. Qual a responsabilidade de se firmar esse apoio com a casa Laroye?

Flambo: Bom, assim como eu falei antes, um dos pilares da Queermada é promover ações sociais, então a cada sorteio as lideranças das casas buscam fazer isso de alguma forma, trazer isso à tona e dessa vez também não foi diferente. Já fizemos uma roda de conversa com pessoas Trans com a ONG projeto Farol, já fizemos natal solidário em um asilo no Senador Canedo, então estamos sempre tentando movimentar esse pilar. A representante da casa suculentas, Ravena Veracity, sugeriu que dessa vez ajudassem a Casa Laroye pois ela tem muito contato com a cena vogue aqui em Goiânia, fazendo doações e também dando espaço para as manas, pois elas precisam muito, porque elas são muito fodas, e precisam de apoio pois a cena vogue em Goiânia está crescendo.

LN: Caso alguém se interesse em participar da Queermada, como deve proceder?

Flambo: Eu sugiro que ela procure a gente pelo instagram que é @queermadagyn que lá a gente passa todas as informações: onde vão ser os jogos, em quais horários vão acontecer, quantas pessoas vão ter. Também gostaria de deixar o convite para quem quiser participar de algum evento. Vamos ter o último do ano agora que é o Réveillon da Queermada e se a pessoa quer passar a virada com o público LGBTQ+, está super convidada.

One thought on “QueermadaGyn: ‘é um espaço onde nos sentimos melhor, pois não há a presença de tantos héteros’”

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