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O termo fast fashion pode ser traduzido, literalmente, como “moda rápida”, expressão adequada para definir o novo modelo de produção que tomou, por completo, o mundo da moda. Esse molde é delineado por características como a “renovação constante das peças comercializadas no varejo de moda”, segundo a Gestão do Produto do SEBRAE.
De acordo com o site ECicle, o fast fashion teve início em 1970, com a crise do petróleo. Após a comercialização desse recurso natural ser proibida, as empresas têxteis criaram um novo modo de manufaturar seus produtos, assim, impedindo o colapso e conseguindo escoar a produção. Quando esse modelo foi adotado, inúmeras mudanças começaram a reverberar tanto na forma como as roupas são produzidas, como na configuração das grandes casas da moda, como Versace, Gucci, Chanel, etc. Além disso, a população também recebeu influência do novo modelo, o que resultou em uma percepção diferente sobre o que se veste e como se veste.
Nesse sentido, é possível perceber como o surgimento desse tipo de comercialização se mesclou rapidamente com a crescente era da cibercultura, que valoriza conteúdos que são divulgados de maneira rápida e contínua, além de sucatear produtos com ainda mais velocidade.
Logo, quando marcas como Shein, Shoppee, Boohoo ou Fashion Nova se apresentaram para o público, apenas em formato digital e com um repertório de roupas maior do que qualquer outra instituição conseguiria sustentar, torna-se fácil descobrir o que as ajudou a alcançar o topo de vendas.
Nesse momento, é válido levantar o caso da loja Forever 21, que já foi um dos grandes nomes do mercado de moda, mas declarou falência em 2019. A marca tinha construído uma franquia de mais de 800 lojas espalhadas por 50 países, se tornando referência na época para os adolescentes e jovens adultos, seu público-alvo.
Em 2015, a Forever 21 atingiu seu pico, acumulando 4.4 bilhões de dólares em vendas. Ainda, a marca criava apenas lojas físicas que, em média, eram inauguradas a cada seis meses. Entretanto, vale dizer que grandes conglomerados, como Macy’s e Kohl’s, já sofriam os impactos de não conseguir alcançar as expectativas do público e se viam forçados a fechar algumas das suas lojas físicas para investir em setores online.
A youtuber de moda Toni Bryanne afirma que esse foi o grande equívoco da Forever 21, pois eles começaram a diminuir sua franquia apenas em 2018, quando já era tarde demais. Fato este que é perceptível logo depois, quando, em setembro de 2019, a loja declarou falência. A influencer explica que os motivos principais para isso ter acontecido foram: a marca não ter investido em e-commerce ou redes sociais, e o preço ser considerado caro, quando comparado com o valor cobrado por marcas de fast fashion.
As informações trazidas por Bryanne ficam ainda mais impactantes quando comparadas com o dado de que a marca de fast fashion, Fashion Nova, adiciona mais de mil roupas toda semana no seu website, e a Shein, mais de cinco mil novos produtos diariamente. Há também o agravante de que essas marcas sempre colaboraram com grandes influencers, como Kylie Jenner e Khloe Kardashian, o que as faz atingir reconhecimento global.
A partir desse caso, é válido ouvir indivíduos que trabalham na área e presenciam, em primeira mão, a ascensão da fast fashion.
Adan Neto, administrador do Brechó 505, compartilhou sua opinião sobre o assunto. Segundo ele, “o fast fashion com certeza é a maneira mais democrática de acesso à moda, pois os preços são mais acessíveis do que outros tipos de negócios no mundo da moda. Tive contato com o fast fashion desde sempre! Fast fashion é desde grandes empresas, como Zara e Renner, até o mercado varejista/atacadista de polos de moda, como a 44 e o Brás.”
Ele também descreve essa forma de comercialização como “um tipo de mercado dentro do ramo da moda que visa a produtividade massiva e a venda desses produtos de forma acessível, podendo ou não, serem produtos de qualidade.” O administrador afirma que “é uma das formas mais democráticas de acesso à moda e tendências. Já que o consumo de produtos produzidos de forma ´mais consciente´ não é algo acessível. A produção de roupas no fast fashion, majoritariamente, sustenta-se em mão de obra barata, tecidos e materiais de qualidade inferior, visam a venda acima de tudo e baseia-se, assim como quase toda indústria, na concepção de obsolescência programada, ou seja, as roupas produzidas para o descarte e consumo constante de outras novas peças, isso ocorre devido a lucratividade dessas empresas, assim como a efemeridade do mercado da moda.”
Adan Neto ainda revelou que não sente os impactos que o movimento teve nos seus negócios: “definitivamente não sinto! Consumir produtos de brechó também não é algo para todos, quando digo todos me refiro a diversidade de estilos, corpos e culturas. O mercado de brechó demanda procura, tempo e uma educação cultural de comércio e consumo que infelizmente não é muito vigente no nosso país. Além do fato que as redes de fast fashion são poderosíssimas no mercado da moda justamente pela acessibilidade, diversidades de produtos e tamanhos! Graças ao debate acerca de um consumo consciente as pessoas estão emergindo mais dentro do mundo do brechó e da sustentabilidade, mas não é algo forte o suficiente para gerar uma concorrência às vendas dos brechós. O fast fashion impacta muito mais o meio ambiente e as concepções de trabalho do que outros fundamentos.”
Ele finalizou com a mensagem de se é ou não ético recomendar o consumo de fast fashion: “acredito que uma grande hipocrisia levantar o discurso de ´não consuma fast fashion! Não consuma produtos da Shein!´. Principalmente quando encontro pessoas levantando essa pauta de boicote a Shein e continuam consumindo Zara, por exemplo. Torna todo o discurso insustentável, posto que ambas baseiam-se nos mesmo métodos de produção, e a Shein torna-se um alvo mais fácil justamente pelo quesito de acessibilidade aos produtos, uma vez que a Zara cobra mais que o dobro dos produtos vendidos na Shein. Então o consumo de mercadorias no fast fashion é um debate que demanda diversas perspectivas, pois torna a situação complicada ao incentivar o descontrole e exploração do fast fashion, como também ignorar seu poder de acessibilidade à moda.”
Nesse sentido, é possível perceber que a existência do fast fashion é algo que não pode ser julgado sem uma longa interpretação.
O próprio SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) enumerou algumas das vantagens do fast fashion no varejo da moda, como: “o estoque baixo (devido à alta rotatividade das peças), ciclo de vida curto dos produtos (o que facilita a venda), antecipação de tendências (que pode ser um diferencial competitivo), renovação constante da vitrine (fator que pode atrair uma clientela mais diversificada) e diminuição dos riscos, porque como as etapas são mais rápidas, é produzido o que está sendo vendido”.
Tendo isso em mente, percebe-se que em 2020, quando a pandemia do Covid-19 se espalhou e milhões de pessoas foram obrigadas a ficar em casa, foi a existência da presença massiva das marcas de fast fashion online que consolidou de vez seu sucesso. O site “Em pauta” afirmou que “na pandemia, o e-commerce ganhou destaque: sem precisar sair de casa, ou sequer da cama, qualquer pessoa com acesso a internet pôde comprar todo tipo de peça de roupa. Os dados do Relatório E-commerce no Brasil, desenvolvido pela Conversion, agência especializada em SEO, mostram que o comércio eletrônico brasileiro chegou a 1,49 bilhão de acessos em fevereiro de 2021. As lojas de fast fashion também alargaram os clientes: A Shein, por exemplo, teve um salto de 522% de crescimento, comparando fevereiro de 2021 ao mesmo período do último, quando ainda pouco se falava em isolamento social no Brasil.”
A partir disso, a estudante Vitória Gomes compartilhou como foi a sua primeira experiência com o fast fashion na pandemia: “creio que foi em 2020, durante a pandemia. Eu queria comprar um óculos que havia visto em uma propaganda no Instagram para poder fazer um ensaio fotográfico e uma das pessoas nos comentários da postagem disse que havia visto o mesmo óculos por menos da metade do preço no AliExpress, daí acabei comprando por lá”.
Ela também explicou sobre o impacto que esse mercado tem na sua vida de consumidora: “é um impacto positivo, porque acabo economizando. A maioria dos produtos tem uma grande diferença de preço entre aplicativos de fast fashion e lojas físicas, são coisas muito semelhantes em estilo, estampa e afins, mas vendidos de uma forma bem mais acessível nesses aplicativos.” A estudante finalizou afirmando que recomenda o mercado, “porque são produtos de boa qualidade, alguns que tenho são de 3 ou 4 anos atrás e estão intactos, são bonitos e, principalmente, dá para economizar bastante.”
Além dela, a assessora de comunicação Iara Vilela também deu sua opinião sobre a existência do mercado de fast fashion: “seria incoerente da minha parte dizer que o fast fashion impacta minha vida de forma negativa. Consumo fast fashion desde muito nova, e continuo por ser a alternativa que consigo pagar”.
Ela explica que sabe os impactos negativos que as marcas que dominam esse mercado causam, mas “recomendaria para pessoas que não possam pagar muito por uma vestimenta”.
Logo, é possível perceber que a ascensão da fast fashion no meio digital ocorreu de maneira avassaladora e foi a geração z quem influenciou o aumento do seu consumo.