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A discussão surgiu após uma obra de arte, a qual foi produzida a partir do uso de IAs , ganhar um concurso artístico em Connecticut , Estados Unidos da América. Muitos artistas e designers gráficos levantaram o questionamento acerca da atual concepção de arte com o advento constante da tecnologia, assim como as ameaças das IAs às profissões.
O que é Inteligência Artificial?
Primeiramente, pra adentrar dentro dessa temática, precisa-se ponderar o que é Inteligência Artificial.
O estudante de Inteligência Artificial pela Universidade Federal de Goiás, Guilherme dos Reis, 20, diz “Inteligência artificial (IA) é a capacidade de um computador ou máquina de realizar tarefas que normalmente exigem inteligência humana, como reconhecimento de padrões, tomada de decisão e aprendizado. Isso é alcançado por meio de algoritmos de computador e técnicas de machine learning (aprendizado de máquina).”
Logo, as IAs aprendem a partir da ação humana, ou seja, são programadas a partir de uma inteligência humana em dados computadorizados, possibilitando, assim, a geração de padrões a partir desses dados “humanizados”.
“Antigamente tínhamos a máquina datilográfica para realizar essa tarefa. Em seguida, migramos para o teclado e agora podemos simplesmente usar a fala, que muitas máquinas conseguem escrever com perfeição aquilo que falamos e até mesmo te trazer respostas caso você faça uma pergunta”, discorre a estudante e membra do Centro de Excelência em Inteligência Artificial (CEIA), Evellyn Machado, sobre a evolução e utilidade das Inteligências Artificiais no cotidiano.
De certo modo, a tecnologia tornou-se tão comum ao dia a dia que ignora-se as formas de sua vigência. A IA pode ser inserida no contexto de tradução, produção, programação e diagnóstico, porém há implicações no uso. “É importante notar que, embora a IA possa ser muito útil em muitas áreas, ela ainda tem limitações e não pode realizar todas as tarefas que um ser humano. Além disso, a IA deve ser utilizada de forma responsável e ética, levando em consideração seus possíveis impactos sociais e econômicos”, continua Guilherme dos Reis.
Dentro do aspecto ético do uso tecnológico em produções humanas, inicia-se a discussão sobre a questão artística, posto que a comunidade artística, com ressalvas, vê o uso das IAs como algo deturpado, assimilando com o plágio. Já outros, beneficiam-se do uso para complemento de suas criações.
Arte na era digital
O debate sobre o que é arte ,ou não ,é algo discutido ao longo dos anos pela comunidade artística. De certo modo, com o advento das tecnologias e internet a concepção de arte tornou-se também mais abrangente, transgredindo certezas e teses.
“A concepção de Arte, o que é arte, é flutuante e se modifica no tempo e no espaço. Dito isso, o que é arte hoje, pode não ser amanhã e vice-versa”, discorre o doutor em tecnologia e designer, Márcio Alves.
Por certo, a manifestação artística sustenta-se em diversos alicerces e atributos sociais. Com a atual realidade digital e o esplendor cibernético, a arte transmuta sua significação como um produto de seu tempo, refletindo as expressões sociais em diferentes meios.
“ A Arte, aliada a tecnologia é uma realidade que veio para ficar, transformar e ampliar nossa compreensão do que é Arte, ampliando o debate.” , continua Márcio Alves.
Em entrevistas à redação, obteve-se uma diversidade de considerações de artistas acerca do uso crescente da tecnologia na arte. Assim, nota-se que a capacidade crítica acerca da temática é conforme a realidade de cada indivíduo.
Subjetividade vs robôs
Um dos questionamentos levantados é a questão da subjetividade. Desde a ficção à ciência, abordam que a sentimentalidade é algo exclusivo da natureza animal. A questão do robô que tem sentimentos é explorada até mesmo pela indústria cinematográfica. Recentemente, a partir das discussões acerca da IAs na arte, esses questionamentos ganharam visibilidade em timelines e recomendados do YouTube.
A grande maioria dos internautas defendem que os produtos visuais realizados pela IAs não partem de um processo criativo único e singular, pois baseiam-se em dados referentes a outras artes, acusando essas criações de plágios. Porém, outros acreditam que servem como forma complementar e dotada, de forma mínima, de subjetividade, dado que, mesmo produzida por IAs, há uma orientação humana por trás da máquina.
“De fato, não existe um consenso sobre o que seja a Emoção, tanto quanto sua teoria ou taxonomia. Cabe lembrar porém que, sempre há um humano por trás da tecnologia, seja programando ou tornando-a viável de alguma forma”, prossegue o especialista ,Márcio.
Dessa forma, surgiu novas concepções acerca da validação do trabalho artístico e a perca, ou não, das estruturas fundamentais relacionadas às expressividades humanas. Pois, as visões acerca dessa polêmica incessante variam conforme a realidade e o fazer artístico de cada profissional, levando ao não consenso dessa polêmica.
Logo, a artista visual independente, Isadora Portella, diz “[…] também tenho como convicção que a IA jamais será capaz de substituir a arte produzida por um ser humano repleto de sentimentos e de bagagem que se derramam em suas produções”, ao ser questionada acerca da subjetividade como detentora do fazer artístico.
Já a artista visual 2D, Michelle Santos, acredita que “a tendência é que a tecnologia possa simplificar processos e que os esforços humanos passem a ser cada vez mais intelectuais do que técnicos”, uma vez que a designer de games utiliza ferramentas de IAs como técnica compositora e expressiva em suas produções.
Por outro lado, o designer gráfico, Erick Almeida, defende: “Acredito que tenha seus pontos positivos, mas da forma que está hoje em dia, e da forma que eles pretendem deixar no futuro, prejudicará muito nosso trabalho.Hoje em dia a IA ainda não tem capacidade de fazer artes perfeitas, mas ainda estamos no início de tudo isso. O que me preocupa é pensar onde isso vai parar. A cada dia que passa as ferramentas estão melhorando e alguns clientes já não vem mais necessidade de contratar artistas.”
Arte: produto do seu tempo
De fato, o cenário artístico torna-se cada vez mais diversificado conforme os avanços sociais, desde o surgimento de novas técnicas de pinturas ao uso de computadores, a arte torna-se um produto do seu tempo.
Assim, a discussão acerca do que é arte ou não torna-se uma viagem passadista, dado que a pós- modernidade modificou estruturas intelectuais, artísticas e práticas. “No nosso contexto de “modernidade líquida”, quanto mais a tecnologia avança, mais conceitos como: reprodutibilidade, autoridade, efemeridade da arte e consumo de arte vão sendo questionados”, continua Michelle.
Outro fator pós-modernidade que vem crescendo conforme o advento das máquinas e a Internet é a autenticidade. Pelo bombardeamento constantemente de informações, estéticas e narrativas, instiga-se a capacidade reprodutiva, dado que a criatividade é um processo natural e expressivo.
“Essa discussão fica mais complexa quando consideramos o uso de ferramentas como o Midjourney, que utiliza uma combinação de comandos em texto para gerar imagens através de inteligência artificial, mas que usa imagens da internet como ponto de partida para “treinar” a máquina. Essas imagens utilizadas são de artistas humanos, logo há uma grande discussão sobre quais problemas de direitos autorais ferramentas como o Midjourney podem gerar.”, prossegue a designer de games acerca do uso de dados pelas IAs em obras de arte e a originalidade.
Logo, nota-se que mesmo partindo de uma máquina, os dados e as produções de artes pelas IAs são recorrentes a produção humana, ou seja, possui o DNA de artistas.
” A questão da originalidade na arte, sempre esteve vinculada a questões que envolvem autoria e estilo. Com o uso da Inteligência Artificial na Arte, esses conceitos se tornaram mais difusos, de forma que estamos sempre a nos questionar e ressignificar nossa compreensão do que seja considerado Arte.” Finaliza o professor Márcio Alves.
Arte & Expressão
Como dito anteriormente, o consenso dessa discussão demanda estudos e análises de realidades de profissionais. De fato, as consequências das máquinas ao contexto social são inevitáveis, algo que é vivenciado pela humanidade desde a Revolução Industrial. Há benefícios, há consequências. O importante é produzir arte, sem arte não há humanidade.
Se expressar, produzir emoção, ato político e estético. O poder artístico é inspirador, independente do meio de produção. “Minhas inspirações vêm de absolutamente tudo que me rodeia, até mesmo de uma conversa.” Finaliza Isadora Portella, sobre o verdadeiro sentido da arte: inspirar.
Excelente publicação!