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Em um país como o Brasil, o qual possui elevada desigualdade socioeconômica, e no qual a fome cresce gradativamente, doar é um ato de solidariedade com o próximo. Todavia, as instituições estão com dificuldade de arrecadar alimentos devido ao crescimento dos preços dos produtos.
“Não temos pessoas que doam tantas cestas por mês. A gente arrecadava muito mais no começo da pandemia, porque as pessoas tinham mais condições, eram mais sensíveis a causa”, relato do fundador do projeto Caminhos do Bem Goiás, Paulo Henrique.
O contexto da fome no Brasil
A fome é uma problemática que o Brasil enfrenta há vários anos. Assim, caracterizada pela privação e ausência de alimentos ao qual uma parcela da população está submetida, é causada pela desigualdade socioeconômica, problemas políticos e as crises sanitárias. Além da pobreza, redução ou ausência de políticas públicas, manejo inadequado dos recursos naturais e a distribuição desigual de alimentos no território nacional.
Esse desafio impacta, principalmente, as áreas rurais e a região norte e nordeste. Dessa forma, a fome é o estágio mais grave da insegurança alimentar, esta que também é dividida, segundo a ONU, em: leve (preocupação com quantidade e qualidade dos alimentos disponíveis), moderada (restrição quantitativa de alimento) e grave (identificada como fome). Sendo o último estágio o causador da subnutrição e desnutrição.
Em 2022, dados do Segundo Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia de Covid-19 no Brasil, apontam que 33 milhões de pessoas estão passando fome no país. Isso significa que, em pouco mais de um ano, 14 milhões de novos brasileiros entraram nessa situação. O levantamento realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), ainda informa que 58,7% da população brasileira vive com insegurança alimentar.
O país saiu do Mapa da Fome da Organização das Nações Unidas (ONU) em 2014. No entanto, a partir de 2015 voltou a ocupar o mapa e, em razão da pandemia de Covid-19, o quadro se agravou.
Aspecto econômico
A pandemia de Covid-19 ocasionou o aumento da inflação e do preço de produtos básicos, fator que agravou a situação da fome no Brasil. Além dos problemas gerados a saúde, esse período gerou a diminuição da renda e do poder de compra e o desemprego. Além disso, houve o aumento da pobreza e da desigualdade social, aspectos que contribuem para a ampliação da fome no cenário nacional.
A cesta básica, principal forma que as pessoas possuem de ajudar quem necessita, compromete hoje cerca de 58,78% do salário mínimo e, em 2019 afetava apenas 43,8%, segundo dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
“A inflação e o aumento dos preços influenciou muito o projeto. Ano passado foi muito complexo tudo, mas de setembro pra cá tivemos muita dificuldade. No Natal do ano passado arrecadamos em torno de 150 cestas básicas, já no ano de 2021 a gente arrecadou mais de 700 cestas básicas em um mês. Em 2022 tivemos que comprar cestas menores, com menos itens, em torno de 9 itens. Além de trocar alguns produtos, por exemplo o café que é muito caro, para poder atingir uma boa quantidade de pessoas.”, disse Paulo Henrique.
As instituições que recebem doações de cestas básicas sentiram as consequências da diminuição da entrega dessa mercadoria. Glauciene Sousa, gestora do Projeto Metamorfose, menciona que as doações reduziram consideravelmente durante e após a pandemia. Sendo assim, necessitaram se reinventar, pois a escassez havia tomado conta. A instituição acolhe pessoas em situação de vulnerabilidade social, cadeirantes, deficientes físicos e mentais, idosos, moradores de rua e dependentes químicos.
“É um grande fato que a inflação e o aumento dos preços influenciaram a nossa arrecadação. Um exemplo é que hoje ninguém mais doa óleo, e sem ele é impossível cozinhar.”, afirmou Glauciene Sousa.
Doações: um ato de solidariedade
O ato de doar vai muito além do que está definido no dicionário: “transferir gratuitamente a outra pessoa, de forma legal, bem, quantia, imóvel ou vantagens, que antes era de sua posse”. Doar, além de refletir sobre as dificuldades do próximo, é fazer algo para auxiliar, é demonstrar compaixão, solidariedade e amor. Portanto, a doação contribui para a melhoria da sociedade, tornando ela mais justa e igualitária.
“Ajudar aquele que está precisando, ver o sorriso no rosto de cada pessoa, das crianças e das famílias, não tem preço. Nós ganhamos muito mais ajudando do que eles que estão recebendo ajuda”, menciona Gabriela Morais, integrante do projeto Os Abençoados.
O grupo de oração Os Abençoados completa 10 anos agora em fevereiro de 2023. Desde 2015 realizam a Novena de Natal, na qual saem de casa em casa arrecadando alimentos para montar cestas básicas para as famílias mais necessitadas. “Geralmente pegamos o nome, endereço e telefone das famílias que alguém já sabe que precisa e também escolhemos algum setor necessitado. Temos o contato de um comandante da polícia que conhece alguns bairros necessitados aqui em Aparecida de Goiânia, ele passa o contato da presidente da associação do bairro e a gente organiza com ela uma lista das famílias” explica Gabriela Morais sobre como funciona a seleção de pessoas que vão receber a doação.
O grupo não parou as atividades durante o período pandêmico, muito pelo contrário, a quantidade de pessoas para ajudar nas doações apenas cresceu, uma vez que todos enxergavam que a situação havia piorado para as famílias mais carentes. Nesse sentido, é nítido que os indivíduos que compõem o projeto não permitiram se abalar devido ao momento difícil, mas foram solidários ao priorizar os mais necessitados.
“O medo cercava a gente, por ter que se expor, sair de casa, ir na casa de cada família pra entregar as doações. Usávamos luva, máscara e tentávamos tomar todo o cuidado possível e valeu demais a pena, ver a alegria daquelas famílias não tinha nada que pagava” relata Gabriela Morais.
“A fome não espera”
A ONG Caminhos do Bem Goiás realiza doações de cesta básica desde o início da pandemia de Covid-19, e já impactou, até o momento, mais de 20 mil famílias. A ação é Estadual e já foi realizada em várias cidades de Goiás, como Goianira, Goianésia, Trindade, entre outras.
O destino das doações é escolhido no mês de Janeiro, em que eles visitam instituições como se fossem o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica), fazem perguntas e cadastros. Nesse momento o projeto organiza os calendários de ações do ano. Ademais, todo mês ajudam pessoas diferentes, nunca é a mesma. Esse ato de solidariedade envolve mais de 100 voluntários.
“A minha motivação é porque existem pessoas que dependem de uma ajuda nossa. O mundo tem jeito, se nós dermos as mãos e fazermos a nossa parte. A fome não espera. Ela não espera férias, não espera crise financeira, não espera nada”, declara Paulo Henrique.
Apesar dos desafios enfrentados pelo projeto para arrecadar alimentos, parar de ajudar não foi uma opção. Sendo assim, a instituição Metamorfose, que acolhe pessoas em situação de vulnerabilidade social, foi uma das beneficiadas pelas ações realizadas pelo Caminhos do Bem Goiás. Glauciene Sousa, gestora da Instituição, afirma que ao doar, você está salvando vidas.
Como doar
Para aqueles que possuem interesse em doar para o projeto Caminhos do Bem Goiás, Os abençoados ou para a instituição Metamorfose, é só entrar em contato pelo Instagram ou WhatsApp.
Instagram e Telefone: Caminhos do Bem Goiás / (62) 99253-7362
Instagram: Projeto Metamorfose / Os Abençoados