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Cybercondria vem da junção de ‘‘Cyber’’ (tecnologia) + chondria (que significa desordem obsessiva). Trata-se de um comportamento no qual a pessoa tende a tirar conclusões precipitadas sobre assuntos relacionados à saúde, por meio de buscas instantâneas na internet. Isso ocorre toda vez que a pessoa sente alguma dor ou desconforto e logo após, vai ao Google pesquisar os sintomas para descobrir do que se trata. Assim, a pessoa chega a se autodiagnosticar e consequentemente se automedicar, o que desencadeia em um grande problema.

Muitas vezes também, as pessoas tendem a pesquisar os sintomas na internet por causa do imediatismo, já que elas não têm paciência para aguardar os resultados de um diagnóstico médico. Em decorrência disso, pesquisam no Google os sintomas, para obter um resultado instantâneo.

A Cybercondria por si só não é uma doença, mas ela pode desencadear a hipocondria, patologia na qual a pessoa acredita que possui uma doença, geralmente séria, mesmo sem nenhuma evidência médica, como afirma o site Unimed Fortaleza.

Uma vez que o autodiagnóstico é realizado, a pessoa passa a achar dispensável a consulta com um especialista e começa a se automedicar. A automedicação acaba gerando graves problemas, como intoxicação e piora ou ocultação do quadro clínico do indivíduo. Além disso, essa prática pode desencadear algumas doenças emocionais, como ansiedade, estresse, síndrome do pânico e transtorno de dependência da internet, como dito no site do Instituto de Desenvolvimento Educação (Faculdade IDE).

A dona de casa Elaine Gonçalves Lima, de 52 anos, que sofre com esta problemática, diz que ‘‘Qualquer sintoma que eu sinto eu vou no Google, para saber, pode ser até de amiga minha. Falou que tá sentindo alguma coisa, eu vou no Google e vejo o que é, o que ela tem. Inclusive quando eu vou ao médico, já tô sabendo o que eu tenho, aí eu vou lá, mas já ciente do que é que eu tô tendo.’’ 

Em entrevista, a dona de casa relata também que já chegou a se automedicar, seguindo indicações encontradas no Google. Além disso, ela diz que sentia fortes dores no estômago e ao pesquisar os sintomas na Internet, passou a acreditar que estava com câncer, o que resultou em problemas psicológicos.

A estudante Gabriella Lopes, de 19 anos, que também possui o hábito de se autodiagnosticar e se automedicar, conta o seu relato: ”a primeira coisa que faço é pesquisar no Google pra saber se mais pessoas sentiram a mesma coisa. A gente tem tanta informação disponível, é digitar dor de garganta na aba de pesquisa que já aparecem medicamentos, chás, o tratamento completo. Todo excesso é prejudicial, eu falo isso porque já aconteceu comigo de me diagnosticar pelo Google e quando procurei atendimento médico, não era nada daquilo”, disse.

A estudante acredita que as redes sociais têm se tornado um grande problema para a área da saúde, já que tem influenciadores que fazem propaganda de inibidores de apetite, inibidores de sono, calmantes, sem a devida orientação médica. Ela conta que já chegou a se automedicar com ivermectina, somente com base em informações que lhes foram passadas de que o medicamento inibia o contato com o vírus da Covid-19, mesmo sem haver comprovação científicas.

Amanda Grabriele Lima, outra estudante de 21 anos, que também não fica de fora desse grupo, diz que quando sente alguma dor independente de qualquer parte do corpo, e de intensidade, imediatamente ela busca ajuda no Google, procurando os sintomas, já que o resultado saí de forma imediata. Segundo ela dependendo do que aparece no resultado das pesquisas, ela não ver a necessidade de ir a um médico.

Em uma entrevista com a Psicóloga Karina Morais de Azevedo, ela discorre sobre como essa psicopatologia se torna banalizada.

O acesso à informação é muito bem-vindo, contudo podemos compreender que alguns termos, em certa medida, vão perdendo seus significados por serem expostos sem contexto e sem fontes confiáveis. Assim, as experiências de quem vive um transtorno passam a ser percebidas como atributos generalizados a todos. Por vezes, ignoram a relevância de um tratamento adequado e o sofrimento vivido por essas pessoas.”

A psicóloga também relata sobre a necessidade de criação de políticas públicas, para ensinar a população acerca do tema. ”É importante ressaltar a relevância da criação de políticas públicas que visam produzir campanhas educativas em saúde ensinando a população acerca dos cuidados necessários e os riscos aos quais são expostos por se automedicarem e autodiagnosticarem.”

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