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Os obstáculos dos escritores nacionais no mercado literário brasileiro

Foto/Reprodução:Google

Uma das pesquisas mais recentes do Instituto Pró-Livro revelou que, em 2019, apenas 52% da população fez a leitura de algum livro nos últimos 3 meses. E o mais impactante é que a média de leitura não passa de 2 livros inteiros lidos por pessoa.

Fonte: 5° edição da pesquisa Retratos da Leitura

Existem diversos motivos que contribuem para essa realidade, a falta de estímulo e a grande ocupação em redes sociais são alguns deles. Porém, as dificuldades não circulam somente entre os leitores, mas também entre quem produz.

Desde o início de sua carreira, o escritor brasileiro enfrenta diversos desafios, como a não regulamentação da sua profissão, a falta de apoio das editoras, o pequeno público leitor. Entretanto, mesmo com essas adversidades, essa profissão ainda se faz graciosa aos olhos daqueles que buscam público para seu trabalho.

Os autores nacionais conhecem bem essas dificuldades, mas precisam estar dispostos a enfrentá-las. E é exatamente assim que o escritor mineiro Cavalheiro Verardo encara a realidade: sendo positivo. “Os desafios são muitos, mas se formos desanimar por conta deles, não fazemos nada. Desde o começo eu entendi que eu precisaria ser mais forte do que eles. Para publicar meus livros eu andava pelas ruas atrás de patrocinadores e depois vendia por um preço compatível com a realidade. Foi assim por 10 a 12 anos. Eu acreditava em mim e batalhava”, afirma Verardo.

Após se aposentar da sua primeira profissão de dentista, o escritor buscou levar suas palavras para aqueles que a desejassem ouvir. Seu principal objetivo é fazer com que o maior número de pessoas possa ler cada vez mais livros, e é por isso que embute preços simbólicos nos seus exemplares. Em uma de suas frases mais marcantes ele diz: “O país só cresce, se as pessoas crescerem; as pessoas só crescem, se lerem.”

Mas logo no começo de suas carreiras, os escritores precisam definir a forma como irão lançar seu trabalho no mercado. O modo independente, alternativo e tradicional são alguns meios de publicação que dominam. Cada um deles carrega suas singularidades.

O ingresso no mercado

Para muitos, lançar seus livros com a parceria de uma editora está se tornando cada vez menos comum, já que as mais tradicionais dão prioridade a autores já consagrados, a maioria deles internacionais. Por isso, buscam novos métodos de se lançarem.

Em 2021, o sindicato nacional dos editores livres (SNEL) lançou sua pesquisa anual sobre produção e vendas no setor editorial brasileiro. Entre os dados, um que revela o cenário do tradicionalismo editorial é que apenas 16% dos exemplares impressos foram novos títulos. Evidenciando que o novo precisa de muita expressão para se lançar.

A publicação independente parece ser o meio mais fácil de se inserir no mercado, e com sorte, obter público e notoriedade para que, em um futuro próximo, o escritor receba apoio de alguma editora. As novas mídias contribuíram muito para esse feito. Para Gabriela Bortolotto, escritora mato-grossense e graduanda em jornalismo, as redes sociais foram essenciais para a divulgação e publicação do seu trabalho, mas afirma também que com elas, as responsabilidades a tiram do seu objetivo principal, que é escrever.

“As novas mídias trazem benefícios, com elas consigo fazer a divulgação do meu trabalho no Instagram, tenho mais proximidade com minhas leitoras através do WhatsApp. Porém, acaba sendo um trabalho a mais, pois temos que dividir nosso tempo de escrita com a questão da divulgação”, afirma a escritora.

Já para Cavalheiro Verardo, a interação foi exclusivamente vantajosa. “Pra mim, as novas mídias foram fundamentais para alavancar a minha humilde carreira literária”, escreve o autor, que já acumula mais de 60 mil seguidores em suas redes sociais.

Público leitor

Outra grande problemática muito preocupante é a falta de interesse pela leitura no Brasil. Quando questionados sobre quantos livros leram por inteiro no último ano, a resposta assusta: a média brasileira de leitura quase não passa de um livro por brasileiro, segundo a 5° edição da pesquisa Retratos da Leitura.

Mas por que esse dado é tão assustador? As consequências de ter uma população que não lê é que o Brasil apresenta muita dificuldade de discutir questões um pouco mais complexas. Paulo Freire, em seu livro “A importância de ler” destaca algumas delas. O processo de leitura estimula habilidades cognitivas. Sem elas, é difícil praticar ações como se colocar no lugar do outro, pensar em soluções criativas para problemas do dia a dia, ir a fundo em debates éticos, apresentar como argumento fatos de outras épocas e lugares. Em resumo, ao não ler, o Brasil se torna um país raso.

E para os escritores, a problemática é mais objetiva, pois a falta de público prejudica diretamente a sua profissão, já que sem leitores, não conseguem vender seu trabalho.

Gabriela afirma que não é fácil ser escritora, e que só depois de um ano de profissão obteve os primeiros resultados financeiros esperados, e que agora, consegue custear seu site e suas despesas pessoais somente pela escrita.

Gabriela Bortolotto Foto/Reprodudção: site da Amazon

Diálogo com o público

A interação com o público por muitas vezes é dinâmica e construtiva, porém ainda é necessário vencer diariamente o preconceito que os escritores brasileiros sofrem. Alguns julgam não existir leitura contemporânea brasileira, outros afirmam que os livros brasileiros são repletos de erros, outros dizem que a escrita é de baixa qualidade.

Essa problemática é considerada a mais desafiadora, para Gabriela. “Existe muito preconceito e discriminação. Se exige muito uma perfeição do autor nacional, porem essa perfeição não existe em nenhum escritor”, afirma.

Além do julgo do público, as editoras, por muitas vezes, mesmo que de forma discreta, também deixam a escrita nacional de lado por conta desse preconceito, subentendendo que não haveria público para esse tipo de escrita.

Campanha criada por Luana Cadoso. Foto/Reprodução: [site]

Buscando vencer esses paradigmas, inúmeros projetos surgem para fomentar a literatura nacional e apoiar os escritores brasileiros. A campanha criada por Luana Cardoso, por exemplo, busca ajuda financeira, no qual ela recebe doações ou mesmo autografa livros para seus escritores.

Dificuldades são constantes, mas os escritores, como amam o que fazem mantêm seus focos e conquistam seu espaço. Perseverança é a palavra que manda quando o assunto é essa profissão que traz tanta coisa boa para a vida de seus leitores.

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