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Bia de Lima fez duras críticas ao governador de Goiás, Ronaldo Caiado, e ao prefeito de Goiânia, Rogério Cruz, em entrevista para o Lab Notícias

Foto: Sintego

O Dia Internacional da Educação foi comemorado no último dia 24 de janeiro, data instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU), como forma de valorizar e realçar a importância do papel educacional. Para falar sobre esse assunto tão importante, o Lab Notícias entrevistou de forma exclusiva, Bia de Lima, deputada estadual (PT) e presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Goiás (Sintego).

A presidente do Sintego falou muito sobre a luta intensa do sindicato para que seja respeitada a lei do piso; destacou que não vêm tendo apoio do governantes de Goiás; realçou a importância da eleição de Lula como presidente do Brasil; falou sobre o novo ministro da Educação; além de destacar suas pautas e pensamentos para o sistema educacional goiano e brasileiro.

Batalha pela lei do piso salarial dos professores

LN: Para iniciar, gostaria que você comentasse a forma como o Sintego tem trabalhado para valorizar os profissionais da educação?

Bia de Lima: Nós estamos numa luta intensa para que os prefeitos e governadores possam respeitar o piso. Desde que foi anunciada a portaria do piso pelo ministro da Educação, Camilo Santana, infelizmente, os prefeitos têm buscado através de um argumento que eu chamo de ‘subterfúgios’, para dizer que ‘em decorrência de uma lacuna na lei, eles estão dizendo que a lei do piso não está em vigor’, e consequentemente, se recusando a pagar o piso. Alegando que teriam que pagar de acordo com o INPC, e o INPC nunca foi o indexador para reajustar o salário dos professores. Então, nós estamos aguardando uma decisão do Supremo Tribunal Federal, onde irá dirimir um pouco essa questão levantada pela Federação Goiana dos Municípios, e assim, a gente possa fazer com que estado e prefeituras venham respeitar a carreira do magistério e valorizar os profissionais da educação.

Infelizmente, o que mais a gente vê em época de política: todo mundo fica falando que vai valorizar a educação, passou o período, da ‘amnésia coletiva’ e ninguém faz nada, efetivamente, para que os professores sejam reconhecidos. O Sintego tem trabalhado muito nesse sentido, mas, infelizmente, enfrentado muitas barreiras, porque no Brasil, não basta ter uma lei em vigor, como é a lei 11.738, da lei do piso. Todo ano temos que fazer enfrentamentos, para que a gente possa obter o piso.

Os prefeitos só ficam felizes quando tem o percentual zerado, como foi feito pelo Bolsonaro em 2021, onde não deu um tostão de reajuste, e aí, quando foi em 2022, deu 33,24%, que pouquíssimas foram as prefeituras, que de fato cumpriram a lei, e nós estamos numa demanda judicial imensa para que as prefeituras venham respeitar a lei federal. Então, essa é a realidade que nós estamos vivenciando, a busca de que o piso seja lei, assim, como o respeito a carreira.

Relação do Sintego com Caiado e Rogério Cruz

Foto: Secom

LN: Como você acha que o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, e o prefeito de Goiânia, Rogério Cruz, tem lidado com as causas pró-educação?

Bia de Lima: Nós não temos apoio! A verdade é que o governo Caiado, no primeiro mandato, só reformou escolas, achatou e destruiu a carreira do magistério em Goiás. Aqui em Goiás, o governador nunca aplicou a lei do piso na carreira, só pagou para quem ganhava menos do que o valor, e isso, foi o que destruiu a nossa carreira. O mesmo caminho, o prefeito Rogério Cruz aplicou ano passado, 15%, sendo que o percentual era 33,24%.

Nós estamos buscando um diálogo para ver se a prefeitura volte a respeitar a carreira como outrora. Isso é uma luta intensa que nós estamos travando, mas que não tem sido nada fácil. Há sempre desculpas, preferem investir em infraestrutura, coisa que nós não somos contra, mas não pode ser e nem achar que só de prédio vive a educação. Nós precisamos que os profissionais da educação sejam valorizados, efetivamente, e nada melhor do que respeitar a carreira, tanto na hora de aplicar o piso, como na hora de respeitar os direitos de cada profissional.

Governo Lula e a sua conexão com a educação

Foto: Ricardo Stuckert/PR

LN: Com a troca na presidência do Brasil, você acha que a educação brasileira vai ser “melhor tratada” nos próximos 4 anos, no governo Lula?

Bia de Lima: Essa é a nossa esperança, justamente, porque o presidente Lula tem uma outra ideia sobre o valor e a importância da educação. Eu creio que nós teremos, inclusive, condições de resolver tanto essa questão do piso, mas também condições para resolvermos outras questões, como o ensino médio, a própria valorização da carreira para os administrativos da educação, investimentos na educação infantil, além, lógico, das universidades. Eu vejo que vamos ter bastante conquistas nesse sentido.

Nós estamos buscando uma audiência com o ministro Camilo, pode ser que dia 15 de fevereiro a gente já tenha essa audiência, porque nós queremos que o MEC converse com os prefeitos e governadores, para que se respeite a lei do piso. Nesse sentido, quando ele anunciou e assinou a portaria, ele já poderia ter chamado os prefeitos e evitado a situação que nós estamos vivendo neste momento. Mas enfim, a expectativa é muito boa.

Ontem, o ministro da educação já anunciou o investimento na ordem de mais de 250 milhões para finalizar obras inacabadas do governo passado, em torno de mais de 1.200 escolas que serão concluídas, rapidamente, pelo governo Lula, e para poder investir nesses outros pontos que são tão importantes também. Eu estou com muita esperança de que a gente vai dar a educação o patamar que ela merece, de voltar a ter investimento, ampliação da educação infantil, a pós-graduação.

Estive esta semana na Universidade Federal de Goiás, na faculdade de direito, discutindo os cursos de pós-graduação e como a pesquisa é tão necessária para nós que estamos no movimento sindical, para que a gente possa fazer a defesa das pautas, embasadas em estudos, pesquisas, que a universidade possa nos apresentar, e assim, facilitar nossas pautas, as nossas reivindicações e lutas. É um trabalho que leva um certo tempo, mas eu estou muito esperançosa no sentido de que a gente possa ter os êxitos e os resultados que todos nós esperamos com o governo Lula.

Mudança no Ministério da Educação

Foto: Luis Fortes/MEC

LN: Após muitos anos o Ministério da Educação volta a ter um ministro professor, qual o impacto dessa mudança para a educação goiana e brasileira? Na sua avaliação, esse ministro irá contribuir e dar mais auxílio aos profissionais da educação?

Bia de Lima: Nossa expectativa com o ministro Camilo é muito grande, mas nós estamos atentos para não ficar muito voltado para algumas fundações como a Lemann, que vem financiando muitas questões em vários estados, inclusive, no Estado de Goiás, sem não ter um olhar só para essas grandes fundações financiadoras de interesses, mas que possam olhar a pauta, que nós do movimento sindical, defensores que somos da educação e de todos os trabalhadores da educação, para que ele possa ter um olhar também para esses profissionais.

Estava ontem, eu, em Brasília, junto com a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação, onde nós estamos levantando os pontos prioritários que entendemos que o ministro Camilo deva se posicionar. Um deles, é por fim a questão das escolas cívico-militares, que tem um entendimento muito diferente que nós profissionais da educação entendemos, como também as mudanças no ensino médio.

O propósito é que a gente possa mais do que nunca, ter a juventude chegando nas universidades e esta é uma luta que o governo Lula vai ter que ter um olhar diferenciado, para que as vagas das universidades não fiquem ociosas e a gente tenha condição tanto de ter a classe trabalhadora fazendo uma universidade, conquistando a profissão que almeja; não apenas quem está na classe média ou alta; mas, principalmente, quem é da classe trabalhadora. Então, essas são questões que nós estamos lutando e esperamos que este olhar cuidadoso por parte do Ministério da Educação ocorra, e aí sim, nós vamos avançando nessa perspectiva toda.

Planos de Bia de Lima para a educação

Foto: Alberto Maia / Câmara Municipal

LN: Como deputada estadual (PT) eleita, quais são os seus planos para a educação na Câmara?

Bia de Lima: Para nós foi muito importante fazer com que a educação tivesse um assento na Assembleia Legislativa, porque não basta só as pessoas falarem, como falam quase todos, de que vão defender a educação, a saúde, a segurança, mas depois, na hora que nós mais precisamos, esses parlamentares nos dão as costas, tem sido assim ao longo da nossa vida, na luta sindical. Motivo que a categoria compreendeu, mais do que nunca, que é necessário termos assento, termos voz, termos posição.

Vou lutar bravamente para que as nossas pautas possam ter avanços, possam ter aprovação na assembleia, e a gente, efetivamente, ter nossos direitos respeitados. Eu sei que não será fácil, até porque eu faço parte da bancada de oposição ao governo Caiado, mas quero fazer uma oposição de diálogo, uma oposição inteligente, capaz de conquistar os avanços que o nosso povo trabalhador da educação tanto espera.

LN: De que forma você pretende respaldar os professores em relação aos desrespeito sofrido nas salas de aula?

Bia de Lima: Estou muito preocupado com essa questão de assédio moral, violência que se prática contra os professores no interior das escolas. Nós vamos ver, principalmente com uma nova possibilidade de termos nossas pautas e valorização, mas também respeito social, que é o que mais anda faltando. Nós precisaremos de todo o envolvimento, para que a gente tenha condições de garantir no regimento escolar, que eu tô pretendendo apresentar uma proposta, especialmente, de fazer com que haja uma respeitabilidade para que os professores possam, de fato, ter condições de conquistar seus direitos.

É necessário que a gente construa novos patamares para que os professores tenham o prestígio social e profissional, que devem ser acompanhados por valorização desses profissionais no dia a dia, no interior das escolas, e fundamentalmente, pelos governantes. Chega disso ficar só no campo da retórica. Nós queremos mais livros, menos armas; nós queremos mais investimentos na educação do ponto de vista dos profissionais, não apenas do ponto de vista da luta.

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