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No dia 9 de fevereiro de 2023, uma das livrarias mais tradicionais do Brasil, a Livraria Cultura, declarou falência pela Justiça de São Paulo. Criada há 70 anos, essa empresa era referência de qualidade no mercado editorial e contava com uma sede na capital paulista que era considerada ponto turístico no mundo literário.
O site da Livraria Cultura faz questão de explicar que eles se dedicam a “oferecer um espaço multimídia, onde a busca pelo produto é apenas o início de uma jornada enriquecedora”. Nesse sentido, eles também deixam claro que sua missão como empresa é “disponibilizar um acervo de títulos completo, com equipe de colaboradores competente e treinada, orientada a fazer do momento da compra uma experiência única de descoberta e prazer”.
A declaração de falência desta livraria simboliza uma grande perda para a literatura nacional, que luta diariamente para se manter erguida em um contexto de constante desvalorização e prejuízo.
Em entrevista para Laura Coelho, o presidente da companhia, Sérgio Herz, afirmou que “o setor encolheu 40% na crise econômica, o que levou ao fechamento de lojas e atrasos nos pagamentos”. A jornalista ainda explica que a rede de livrarias Saraiva também passou por problemas semelhantes. Segundo Coelho, em 2018, a Saraiva reportou um prejuízo de 37,6 milhões de reais e também entrou com um pedido de recuperação judicial. A Livraria Cultura e a Saraiva são responsáveis por cerca de 35% das vendas do setor.
A partir dessas informações, foram entrevistadas Alessandra Cervetto e Laura Almeida, sócias da Editora Lampejo. Estas deram suas próprias perspectivas sobre a situação cultural do Brasil.
Lab Notícias: Quais foram as suas motivações para decidir criar uma editora?
Alessandra Cervetto e Laura Almeida: Nós tivemos duas motivações principais. A primeira, sem dúvidas, foi o nosso amor pela literatura, que nos acompanha desde a juventude. Nós temos uma amizade fundada em livros!
Ao mesmo tempo, já estávamos inseridas neste universo por trabalharmos com publicação independente. A nossa frustração com as propostas de publicação e com as práticas que víamos neste mercado nos fizeram pensar que poderíamos criar algo diferente.
Quais preparos foram necessários antes de começar a trabalhar como uma editora?
Além da captação de recursos para o início de uma empresa, tivemos um longo tempo de planejamento e preparação. Decidimos qual o nicho que gostaríamos de atuar, como ia ser o modelo de negócio da empresa, qual a missão, a visão e os valores que teríamos.
O que você acha do cenário brasileiro atual em relação à literatura? Ele motivou ou desencorajou o seu trabalho?
O Brasil é reconhecidamente um dos países menos favoráveis à abertura de um negócio. Segundo o Doing Business – um relatório relevante no mercado que classifica os países de acordo com seus índices –, o Brasil ocupa o 124º lugar em um ranking de 190 países. Frente à burocracia, à complexa cadeia de impostos e aos custos que aumentam em um ritmo acelerado, qualquer empreendedor pode se sentir intimidado. Mas, com planejamento e um propósito de empresa muito claro, é possível contornar as adversidades e construir um negócio próspero.
Além disso, acreditamos muito no potencial de leitura dos brasileiros e nossa missão é inspirar a leitura por meio de histórias encantadoras. Por isso, quando vemos nossos livros tão cuidadosamente preparados chegando às mãos dos leitores e sendo fonte de inspiração e entretenimento, com certeza sentimos que vale a pena navegar por esse cenário econômico incerto.
Como você decide quais são os livros que vai publicar?
Seguimos uma combinação de análise de mercado/público, com os valores que buscamos divulgar. Antes de tudo também somos leitoras, então buscamos histórias que nos deixem envolvidas, apaixonadas.
Qual a sua opinião sobre o efeito das redes sociais na promoção da literatura brasileira? Existe algum impacto que foi perceptível na sua editora?
Com certeza há um grande impacto. As redes sociais são o nosso principal canal de marketing e comunicação com o público. Nós focamos em parcerias com influenciadores, conteúdos exclusivos, contato com os leitores e divulgação de produtos/ações.
Você incentiva que mais empresários persigam o sonho de criar a sua própria editora? Se sim, quais dicas você pode dar para esses profissionais?
Com certeza. A leitura forma cidadãos, muda o mundo e inspira pessoas, e quanto mais gente aderir à essa missão, melhor! Se podemos dar dicas, essas seriam: peçam ajuda a um time diverso de profissionais para planejar da melhor forma possível e estejam dispostos a aprender todos os dias.
A partir do depoimento das sócias da Editora Lampejo e a atual situação da Livraria Cultura, pode-se notar diferentes abordagens à literatura contemporânea. Mesmo que existam inúmeros fatores sistemáticos que contribuam para a desvalorização dos livros, uma adaptação para a realidade digital pode ser a resposta que o Brasil precisa no processo de apreçamento cultural.
Como Alessandra Cervetto e Laura Almeida afirmaram, as redes sociais são o principal canal de marketing e comunicação delas com o público. O que é uma fala interessante, tendo em vista que a venda de livros no país em 2021 cresceu 33% em comparação com 2020, segundo dados divulgados pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), por causa do TikTok.
Segundo o jornalista Samuel Ruiz Anklam, uma pesquisa realizada na última Bienal Internacional do Livro de São Paulo apontou o crescimento da influência das redes sociais, como o TikTok, no interesse por obras literárias – não é à toa que a hashtag #BooktokBrasil tem mais de 13 bilhões de visualizações. Samuel também afirma que, “na Amazon, principal loja de e-commerce do mundo atualmente, os livros são identificados com a etiqueta ‘Sucesso do TikTok’, indicando que a obra já é comentada no aplicativo. Com isso, compradores podem ser direcionados à plataforma para consumirem conteúdo sobre o livro antes de comprar, assim como podem já ter vindo diretamente do TikTok, uma vez que os booktokers costumam divulgar promoções da Amazon e recebem uma espécie de ‘comissão’ da empresa”.