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Sem contestação, o alcance e influência que as redes sociais exercem nos dias atuais sobre o debate público é nítido, e em certos casos, crucial. As eleições presidenciais no Brasil em 2022 são fatos que nos permitem refletir sobre o assunto e realizar debates de como essa influência tem afetado a política. Para falar sobre o assunto, o Lab Notícias entrevistou o sociólogo Fernando Filgueiras.
Fernando, além de sociólogo, é Cientista Político pela UFMG e IUPERJ. Pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia – Democracia Digital (INCT-DD), Universidade Federal da Bahia (UFBA), possui atuação em temas como Estado e governo e governança digital.
Ainda sobre as eleições presidenciais de 2022, o cientista aponta que as redes sociais tiveram um impacto significativo, pois elas funcionam como mecanismo de comunicação política. Em diversas situações, mídias sociais perpetuaram discursos de ódio e ajudam a promover a polarização política:
Algoritmos de mídias sociais funcionam como mecanismos institucionais uma vez que eles entendem e constroem as preferências dos cidadãos para então produzir engajamento e participação com relação a variados conteúdos disseminados na internet.
Nesse sentido, essas redes são vistas como “jardins privados” que controlam o debate público. A opacidade dos algoritmos que constroem as plataformas digitais tornam elas locais sem transparência, e por assim serem, um perigo à democracia. Ao retirar o direito do cidadão de saber como funcionam, ou seja, quando não se sabe como esses algoritmos impulsionam determinados conteúdos em detrimento de outros, terceiriza-se esse poder aos algoritmos, permitindo que eles decidam questões importantes sobre a vida cotidiana.
Muitos especialistas políticos, se tratando das famigeradas Big Techs, afirmam que é necessário dar tal transparência aos algoritmos que passam por elas. Para Fernando, esse mecanismo não seria suficiente para resolver o problema:
Não basta dar transparência às linhas do código computacional e verificar como ele opera os diferentes cálculos. O fundamental é nos atermos às consequências da tomada de decisão por parte desses algoritmos e então criticá-los. A transparência dessas consequências é essencial para que se exerça a crítica dessas decisões e se estabeleça responsabilização.
Notoriamente, as regras do jogo (manobras políticas que influenciam diretamente no processo democrático), já não podem mais ser as mesmas. As ágoras da atualidade, e lê-se aqui as redes sociais, tornam todo o jogo político diferente. Dessa forma, precisa-se centrar o debate sobre a regulamentação desses locais na governança do conteúdo disseminado em nome do interesse público. Cuidados dos desenhos dos algoritmos, qualidade dos dados que operam, princípios para tornar a comunicação correta e responsabilização, tanto da plataforma como do usuário, são questões que norteiam esse debate.
Retomando o fato das eleições presidenciais recente no Brasil, pode-se enxergar um novo molde de fazer política dentro das plataformas. A exemplo, exclusivamente no segundo turno, a campanha do atual presidente Luís Inácio deixou de lado pautas estratégicas como saúde, emprego e educação para focar nas mentiras que estava sendo alvo, como o satanismo. Filgueiras problematiza a comunicação política das plataformas:
Para ampliar a audiência e o engajamento é uma espécie de vale tudo, em que a desinformação é um recurso importante para produzir resultados eleitorais. O problema está no dia seguinte, na legitimidade do sistema político e no modo como vamos produzir ação coletiva para enfrentar todos os problemas públicos hoje existentes no Brasil.
No final de tudo, a sociologia já desmistificou a ideia que se tinha que o meio digital poderia ser motivo determinante no voto das pessoas. Atualmente, são condições necessárias, mas não suficientes para a vitória eleitoral de algum candidato. A vitória do ex-presidente Bolsonaro em 2018 teve um importante componente nas mídias sociais, porém vocalizou um conjunto de demandas conservadoras da sociedade, associadas com uma crescente liberalização da economia no âmbito das políticas que ele defendia.
Além disso, Fernando comenta sobre a responsabilização, tanto das plataformas digitais, como do indivíduo sobre tema:
O problema todo é que as plataformas de mídia social monetizam as publicações dos usuários, associando-as ao impulsionamento de mensagens e propagandas. Assim, as plataformas têm muita responsabilidade porque elas impulsionam conteúdos que estão associados à sua visibilidade e engajamento. Muitos desses conteúdos são polarizadores ou de profundo ódio, que ameaçam a democracia e difundem ideias autoritárias ou reacionárias. A plataforma deve ser responsabilizada porque lucra muito com isso.
[…] uma realidade cada vez mais comum. A sensação de pseudo-segurança que vem sendo causada pelas redes sociais, nas quais se pode controlar as pessoas que podem ou não te seguir, além de ser possível […]