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Bianca Nascimento

O Lab notícias entrevista três talentosos e empreendedores jovens negros e negras.

A moda é um sistema que acompanha a forma como as pessoas se vestem e se comportam, integrando o simples uso das roupas no dia a dia a um contexto social. Com o passar do tempo, o lugar da moda mudou drasticamente: se tornou modelo a ser seguido por inúmeras industrias e passou a ser referência fundamental para todas as culturas.

Porém, apesar da moda ter sido integrada a várias culturas, é importante ressaltar que foi bastante difícil a inclusão dos negros e mestiços. Os melânicos (relativo a presença de melanina, pigmento que determina a cor da pele) ainda são, infelizmente, tidos e vistos como inferiores na sociedade, o que por muitas vezes está relacionado à sua origem africana e escrava.

Apesar dos avanços em outras indústrias, a representatividade negra no universo fashion ainda precisa crescer. No entanto, negros e negras tem adentrado cada vez mais esse universo trazendo pautas raciais à tona para um “mundo totalmente novo” quando o assunto é diversidade, afinal, para ter mudanças, sempre será necessário um pontapé inicial.

“Uma revolução na moda precisa ter raça como pauta” – escreveu a Carta Capital em 24/02/2019.

Que a moda tem força, isso não temos dúvidas, mas seria suficiente para começar a mudar o mercado? Essa reportagem te conta que sim, a sociedade está no caminho, três jovens adultos resolveram ir em busca dos seus sonhos, desde blogueiras até designs de grandes marcas. O Lab Noticias entrevista hoje três áreas diferentes da moda: Miguel Machado que é design da marca brasileira “Água de Coco”; Gabriella Andressa que é CEO do Instagram “Cheia de Razão” em parceria com o jornalista Matheus Alves, onde passam conhecimentos e tendências sobre moda; e Izza Monteiro, influenciadora e modelo.

O primeiro entrevistado é Miguel Machado Pereira da Costa (como o conheci) — hoje, é conhecido por Miguel Costa, estilista da marca de moda praia brasileira “Água de Coco”. Filho de dona Maura Machado passou sua infância em Manaus, no Amazonas, e foi seguir seu sonho em 2016, se mudou para São Paulo para estudar moda na faculdade Anhembi Morumbi com 100% de bolsa. Miguel fala um pouco com gente, e conta como foi a estrada até aqui:

“Meu caminho começou quando decidi fazer moda e vir morar em São Paulo, assustava um pouco o fato de não ter muita oportunidade e medo de não ter emprego, mas era o que tinha. Comecei como estagiário na Privalia, consegui uma vaga de assistente na John John, onde passei por quase todos os setores de masculino, e tive a oportunidade de ir fazer masculino da Água de Coco.”

Foto: Miguel Machado/Acervo Pessoal – Instagram

Perguntado sobre se o mercado abraça jovens talentos negros ou é um pouco mais difícil, Miguel Costa responde:

“Ser negro é difícil em muitos aspectos, a moda não foge disso. Não devemos esperar o mercado abrir portas e oportunidades, temos que ir atrás, e conquistar nosso espaço”.

Foto Reprodução: Instagram

A presença de mulheres negras aumentou em campanhas de publicidade no Brasil, assim mostra a pesquisa feita pela agencia Heads, porém o percentual das participações ainda é pequeno se formos comparar com a quantidade de negros presentes na população: brancos ainda são a grande maioria. Esses estudos são feitos a cada seis meses.

Trouxemos Izza Monteiro, atriz, apresentadora, modelo, designer e além de tudo empreendedora e empresária, Izza é embaixadora do salão especialista em cabelos crespos Kira Cabelos Poderosos (@salaokiras) e o (@perolasmake) loja pioneira em maquiagem no brasil, por um preço único, com lojas físicas em Goiânia, São Paulo e Tocantis. Confira a entrevista com a empresária.


Para ler uma versão estendida da entrevista, clique aqui.

Foto: Letycia Antonello (@euleletsr)

Lab Notícias: Você consegue visualizar de dentro do mercado um aumento das oportunidades para modelos negros? Como você vê a representatividade e a importância de ser vista como uma inspiração?

Sim, eu já trabalho como modelo há muitos anos, hoje eu entendo a responsabilidade que é ser uma mulher preta trabalhando para uma área de moda justamente por essa questão da representatividade, quando eu era criança não se via muitas mulheres na televisão, no jornalismo, no cotidiano das notícias, em locais de destaque e liderança, em faculdades, nem nada do tipo, e isso também era visível na moda brasileira que pouquíssimas situações a gente [mulheres pretas] se viam em local de destaque e nem sinônimo de beleza e feminilidade. Então hoje é uma realização enorme de estar onde estou e não só de realizar um sonho de criança de se ver ali em uma situação de valorização e poder saber que sirvo de inspiração para outras meninas.

Lab Notícias: Você encontrou e encontra algumas dificuldades ainda hoje?

Muitas dificuldades, eu acho que todas as dificuldades que outras modelos independentemente de cor, estatura ou biotipo, eu acredito que eu também tive essas dificuldades e mais algumas. Por exemplo, é sabido que, principalmente em Goiânia, muitas empresas grandes não olham para nós como uma opção de perfil para lançamento das coleções, com exceção das coleções de verão, então nós sabemos que algumas empresas ainda têm na cabeça que a mulher preta é sinônimo de beleza para esses momentos e não consumisse os produtos nas outras épocas do ano.

Foto: Letycia Antonello (@euleletsr)

Teve uma situação que eu tive a oportunidade de falar sobre isso com algumas pessoas que trabalham na região, como lojistas, e falei ‘ Gente vamos pensar um pouco sobre isso? Na época de férias, nas épocas que se vendem muito biquíni, as pessoas gostam muito de fazer fotos com mulheres pretas, principalmente pretas não retintas e a gente já sabe bem o porquê, que está ligado a uma questão racial, mas é uma coisa a se pensar.’


Uma das melhores partes da internet é que ela te permite escolher quem você vai acompanhar. Os conteúdos de moda e beleza, principalmente negra, tem ganhado mais espaço, e nada melhor do que se identificar com uma influenciadora que possui o mesmo tom de pele que o seu, nossa entrevistada fala um pouco sobre isso:

Gabriella Andressa da Silva Rodrigues tem 26 anos, é jornalista e CEO do perfil de Instagram de informação sobre o mundo da moda, o Cheia de Razão (@cderazao), em colaboração com o também jornalista Matheus Alves e comenta um pouco com a gente como surgiu a ideia de criar um Instagram de moda:

Eu sempre quis trabalhar com moda, foi algo que eu sempre quis fazer, eu pensava ‘como eu posso entrar nesse mundo’. Eu gosto muito de moda e roupas, mas eu queria criar algo mais acessível, ai quando eu entrei no jornalismo, eu já estava com a ideia na cabeça que eu queria fazer um site ou algo semelhante, aí em uma disciplina de designer gráfico, eu criei o Cheia de Razão. O convite para o Matheus veio depois que me formei. Eu queria fazer o site crescer e ele tinha essa mesma vontade.

Virgil Abloh e Oliver Rousteing são nomes fortes quando se fala em negros na moda, você acredita que a representatividade que eles transmitem inspiram outros jovens a querer se aventurar pelo mundo da moda?

Eu sempre digo que a questão da representatividade é que, se você vê uma pessoa que parece com você, que tem uma renda parecida com a sua e conseguiu chegar lá, não existe nada que te impeça de chegar lá também e da mesma forma que todos esses profissionais incríveis, não só em questão desses nomes que você me deu, mas também em questão de produtores de conteúdos como uma das editoras da Vogue Americana, que é a Gabrielle, que é uma mulher preta gorda, cada uma dessas pessoas dão para nós a possibilidade que é possível fazer, se eles também estão fazendo eu também posso ter ideias tão boas quanto a deles. E a intenção é justamente inspirar outros criadores negros que queiram trabalhar com moda.

Foto (Acervo Pessoal): Instagram
Foto: Instagram

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