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Oitenta e nove por cento dos brasileiros classificam a saúde – pública ou privada – como péssima, ruim ou regular. A avaliação é compartilhada por 94% dos que possuem plano de saúde e por 87% dos que dependem do Sistema Único de Saúde (SUS), segundo dados apresentados pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) em 2018.
Por esse motivo, aqueles que têm condições e buscam um serviço de melhor qualidade preferem pagar por planos de saúde. Assim, a pessoa que aderiu deveria passar, através do pagamento mensal de sua mensalidade, a ter a garantia da cobertura de seus gastos médicos, hospitalares e ambulatoriais prestados por sua Rede Assistencial (o conjunto de médicos, hospitais, exames ligados ao seu plano).
Porém, esse serviço prestado ainda tem deixado muito a desejar. Recentemente, o senhor Ronan Ricardo Pereira, vendedor de gás industrial e assinante do plano de saúde HAPVIDA, queixou-se da dificuldade que encontra ao tentar marcar uma consulta. “É frustrante, porque quando você não tem muita habilidade com as tecnologias fica muito difícil agendar uma consulta pelo SAQ. E ninguém ali está disposto a te ajudar, as pessoas te atendem mas dizem que não ‘é sua função’. Então muitas vezes, se eu não tenho ajuda, acabo desistindo de marcar minha consulta”, afirma Ronan.
Outras problemáticas como longas esperas por atendimento médico, dificuldade para agendar uma consulta, recusa na hora de contratar exames complexos ou obter remédios caros continuam a assolar o consumidor.
Embora reconheça que o serviço de saúde privado cumpre um importante papel e que sem ele o Estado teria ainda mais dificuldades para oferecer à população um serviço de qualidade, a médica Déborah Borges defende as vantagens do Sistema Único de Saúde (SUS) sobre os convênios particulares.
“Apesar da constante preocupação com a falta de recursos, no serviço público não se recusa atendimento, especialmente na urgência, nos tratamentos de alta complexidade e na oferta de medicamento de alto custo. Já na assistência privada, todos os dias nós observamos recusas de procedimentos”, declarou Déborah, alegando que, apesar dos problemas, a assistência pública é “muito superior aos convênios particulares. “
Déborah afirma também que “as operadoras de saúde suplementar perseguem o lucro fácil, demonstrando enorme oportunismo e ganância. Há várias operadoras cujo atendimento é péssimo. Falta um monte de coisas nos hospitais, ambulatórios e prontos-socorros e toda a responsabilidade acaba recaindo sobre os médicos”.
João Pedro da Costa, agrônomo atuante no estado de Goiás, revela que já não paga mais por planos de saúde. “Eu preferi tentar juntar o dinheiro para uma eventualidade em vez de todos os meses pagar por algo que eu vou usar de vez em quando”, explicou. Admitindo, porém, a dificuldade de poupar dinheiro e o receio de não ter como pagar pelo tratamento médico em caso de uma doença grave.
Toda vez que precisa de um atendimento de urgência, a funcionária pública Bárbara Santana tem que percorrer cerca de 15 quilômetros, distância que separa a casa dela, no setor goiânia 2, bairro de Goiânia, do Hospital Jardim América, no setor Jardim América. Segundo ela, não há nenhum hospital mais próximo conveniado ao seu plano de saúde.
As reclamações são constantes e levantam a dúvida: Por que ainda pagar por um serviço mal prestado?
“Eu tenho o plano que é oferecido pela empresa que trabalho. Ele me serve basicamente para as situações emergenciais mais simples. Por exemplo: quando você está com uma virose e vai a uma unidade pública de pronto atendimento, certamente vai ter que esperar mais de 7 ou 8 horas para ser atendido, já no plano esse atendimento é mais rápido.” afirma Ronan.
Segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), os números de beneficiários de planos de saúde referente a abril de 2022 totalizaram 49.395.520 usuários em planos de assistência médica. Diante desse dado, a importância dos planos de saúde é evidente para a Doutora Déborah. “Imagina o serviço público, com todas as suas carências, tendo que atender aos quase 50 milhões de clientes de planos particulares. Haveria um colapso!” explica a médica.
Ao entrar em contato com os canais de reclamação de certas prestadoras desse serviço em Goiânia, a resposta é sempre a mesma: “Obrigado pelo seu depoimento, repassaremos suas queixas para a supervisão”. Com isso, a espera por melhorias, a confiança e parceira com órgãos fiscalizadores parecem ser as únicas alternativas do consumidor.
A ANS, agência reguladora dos planos de saúde, tem papel fundamental ao fiscalizar as operadoras de planos de saúde e pela regulação do mercado, tanto nos aspectos assistenciais como naqueles ligados à atividade econômica. Em 2021, a agência investigou a Hapvida após relatos de que a empresa supostamente pressionava médicos de diferentes locais, inclusive no Grupo São Francisco, para receitar hidroxicloroquina em casos suspeitos ou confirmados de covid-19.
Em abril do mesmo ano, o Ministério Público do estado do Ceará (MP-CE) multou a Hapvida em R$ 468 mil por, segundo o MP-CE, “impor, indistintamente a todos os médicos conveniados, que receitem determinados medicamentos no tratamento de pacientes com Covid-19”. Após aplicar a penalidade, o promotor de Justiça Hugo Vasconcelos Xerez, responsável pelo procedimento, pediu ainda que o caso fosse encaminhado para a ANS.