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Pedro Paulo Lemes

Flag Football está cotado como uma das modalidades favoritas para entrar no quadro olímpico de Los Angeles 2028 e já conta com apoio inclusive da NFL

Você já imaginou como seria um futebol americano sem pancadas e sem todos aqueles equipamentos? Já imaginou como funcionaria a dinâmica da modalidade?

Foi pensando nesses detalhes que surgiu o flag football, modalidade variante do futebol americano, mas sem os chamados tackles e com um custo bem menor para os atletas que a praticam.

Quando o flag football foi criado?

Os primeiros registros históricos da prática do flag football são de soldados americanos da Segunda Grande Guerra Mundial. Em busca de diversão e de uma válvula de escape durante seus longos períodos nas bases de guerra, os soldados desenvolveram essa nova forma de jogar futebol americano com menos riscos de contusões.

Quais as principais diferenças do flag football para o futebol americano?

Assim como no Futebol Americano, o objetivo no Flag Football é o mesmo: avançar a bola pelo território adversário e alcançar a zona final para marcar pontos, no caso, touchdowns.

À primeira vista, a maior diferença entre o Futebol Americano e o Flag Football é todo aquele equipamento de proteção, ou no caso, a falta dele.

Quando falamos sobre futebol americano, provavelmente o primeiro pensamento que temos no imaginário popular é o de um esporte muito agressivo e com várias pancadas. Visando promover uma modalidade mais acessível, o flag surgiu com a proposta de no lugar de as jogadas serem terminadas com um tackle (agarrar e derrubar um adversário), elas terminam quando as fitas que ficam presas na cintura do adversário são retiradas.

Essa fita, que é chamada de flag – daí o nome ao esporte – é presa em um bocal chamado “pop” devido ao som que faz ao ser retirada – mas também pode ser velcro ou outras adaptações em campeonatos recreativos – e precisa obrigatoriamente estar nas laterais e não pode ser obstruída.

Outras diferenças além da quantidade de contato são: a quantidade de jogadores em campo, que no FA são 11 de cada time, enquanto no flag são 5 (havendo modalidades com até 9×9); ao tamanho do campo, que são 100 jardas no FA e 50 no 5×5. 

No Brasil, a modalidade começou a ser praticada no ano de 2008, na cidade de São Paulo, mas o primeiro campeonato nacional foi praticado apenas em 2012.

Competições praticadas no Brasil atualmente

O principal campeonato de flag existente no Brasil hoje é a Copa do Brasil, que é dividida na etapa regional e na Super Final (etapa nacional). Além disso, a maioria dos estados brasileiros possuem campeonatos ou copas estaduais.

Existe seleção Brasileira de flag?

Segundo a atleta Giovanna Sociarelli, defensive back do Six Spartans FA, “As seleções masculina e feminina funcionam de forma diferente. A seleção feminina está consolidada há 10 anos, inclusive temos atletas que continuam nela até hoje. Em relação ainda a atletas, a base continua a mesma há alguns anos, mantendo a continuidade do trabalho. A comissão principal está no cargo desde 2019, ano que o Brasil ficou em 4° no mundial de Israel, já os auxiliares são todos novos e estão focados na nova fase da seleção, que se prepara para o intercontinental e sonha com o mundial, TWG e Olimpíadas. Agora existe uma seleção de desenvolvimento com atletas que devem renovar o time para os próximos anos.”

A respeito da seleção masculina, Sociarelli completa: “eles tiveram sua primeira temporada no ano passado e está em um momento diferente da feminina. E para ajudar a fomentar a maior qualidade do flag do Brasil foi criada a Copa das Regiões, em que as seleções masculinas regionais fazem jogos entre elas, cada região treinando com sua comissão específica”.

Ausência de contato influencia decisão dos atletas?

À primeira vista, um atleta novato pode preferir praticar o flag football no lugar do futebol americano por conta da menor agressividade do jogo, mas se engana quem diz que o flag não possui contato.

“Eu sempre tive vontade de jogar FA mas tenho receio dos tackles, além de o valor dos equipamentos ser inviável É um investimento alto, então por enquanto não tenho pretensões de mudar. O flag é muito mais dinâmico e acessível, então sem dúvidas não ter tackles é algo que me faz jogar flag, mas não pense que flag não tem contato [risos]”, diz Giovanna. Em várias jogadas, podemos ver alguns choques no momento de receber a bola ou para retirar a flag.

Mas existem também outros motivadores que influenciaram na escolha de jogar flag football. “O que me motivou foi principalmente em questão de tempo (menos jogos, rotina de treino mais leve, etc)”, relatou André Limas, defensive back do Vasco Almirantes.

Se para os atletas a rotina de treinos do flag é mais leve, não podemos dizer o mesmo para outra parte muito importante do jogo, as zebras. Segundo Giane Pessoa, árbitra de futebol americano e comentarista de arbitragem dos canais ESPN, em alguns campeonatos, a equipe de arbitragem chega a fazer 12 jogos em um final de semana.

“Por muito tempo eu preferi apitar o flag, mas hoje eu não tenho mais preferência. É muito difícil aguentar fisicamente o ritmo louco que é um campeonato de flag. Agora sem o meu condicionamento de atleta, dificilmente consigo sem outros árbitros para alternarem comigo. Hoje em dia se eu arbitro um fim de semana de campeonato de flag, eu preciso folgar no final de semana seguinte, não dá para fazer um mês inteiro com campeonato toda semana.”, relatou Giane.

Desafios para os atletas

Perguntado a respeito das principais dificuldades enfrentadas pelos atletas praticantes do flag football, André respondeu: “As dificuldades de um atleta de esporte amador, praticamente tudo sai do bolso do atleta. Algumas equipes, como a minha, pagam as inscrições dos campeonatos, mas isso é caso raro. Normalmente os atletas pagam inscrições, uniformes e as viagens.”.

Como funciona a arbitragem de flag football no Brasil?

Assim como para os atletas, existem inúmeras dificuldades para quem decide atuar com a arbitragem de flag no Brasil. Uma delas é a dificuldade para se traduzir os materiais e livros de regras para o português. “É um processo totalmente voluntário, tanto o de flag, quanto o de FA. O de futebol americano o Daniel Vasquez faz a tradução há mais de 10 anos, já o de flag eu traduzo junto com a Graziela. Ela começou traduzindo os primeiros e o último tivemos a ajuda de profissionais e o apoio do portal Flag Football Brasil. Atualmente eu faço parte do comitê que elabora o livro de regras para a federação internacional, mas assim como a confederação Brasileira, a IFAF apenas apoia essa elaboração, sem remuneração.”, relata Giane.

Quando perguntada a respeito do processo para se tornar zebra no Brasil, Giane diz variar bastante de estado para estado, mas existe um curso e alguns testes após ele.

Flag Football nas olimpíadas?

Como dito anteriormente, o flag football está cotado como um dos esportes favoritos para entrar no quadro olímpico de 2028, em torneio que será realizado na cidade de Los Angeles. Diversos atletas de futebol americano, como por exemplo o astro Tom Brady, já disseram ser favoráveis a ideia. A própria National Football League (NFL), a principal liga de futebol americano do mundo, demonstrou apoio a organização olímpica.

Em pesquisa feita pelo Lab Notícias, de 64 pessoas ouvidas, 23 são favoráveis à entrada do esporte no quadro olímpico, 6 são contrárias e 35 não sabem opinar sobre o assunto.

“Primeiramente, acho que a possibilidade é muito real, visto que a NFL tá fazendo campanha forte pra isso, além de jogadores da liga e ex jogadores também. A seleção brasileira vem em constante evolução, a feminina participou dos World Games que seria como a Copa do Mundo, os jogos são em Birmingham, no campo da NFL, também tivemos uma árbitra na competição. Eu vejo com bons olhos o projeto, ainda é cedo pra pensar em medalha, até porque tem países como Japão, México e USA que tem seleções fortíssimas atualmente. Porém, nada pode ser descartado”, disse André Limas.

Para Giane, a possibilidade de o flag se entrar no quadro olímpico de 2028 é muito real, mas ela teme que possa não ser uma modalidade fixa no quadro para o futuro, talvez, como o TWG, seja apenas para uma primeira participação.

Se o flag vai estar nas Olimpíadas de 2028 ou não, nós não sabemos. Mas com certeza é uma modalidade que vai crescer muito nos próximos anos e você ainda vai ouvir muito sobre ela.

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