Izza Monteiro: Representatividade Negra

Izza Monteiro é atriz, apresentadora, modelo, designer, empreendedora e empresária. Ela conta um pouco de sua trajetória, suas vivencias e as mudanças dentro do mercado fashion.
fev 23, 2023 ,
Tempo de leitura: 8 min
Bianca Nascimento

Apesar do universo da moda estar em constante transformação, sendo em tendências ou estilo, algumas coisas insistem em continuar as mesmas, mudando à passos lentos. O negro na moda é um exemplo disso, o racismo estrutural no ramo da moda está enraizado, tornando os passos de jovens negros que resolvem se aventurar nesse mundo, mais difícil.

Pra falar um pouco sobre suas vivências o LabNoticias trouxe Izza Monteiro, atriz, apresentadora, modelo, designer e além de tudo empreendedora e empresária, Izza é embaixadora do salão especialista em cabelos crespos Kira Cabelos Poderosos (@salaokiras) e o (@perolasmake) loja pioneira em maquiagem no brasil, por um preço único, com lojas físicas em Goiânia, São Paulo e Tocantis. Confira abaixo a entrevista com a empresária.

Foto: Letycia Antonello (@euleletsr)

Lab Notícias: Você consegue visualizar de dentro do mercado um aumento das oportunidades para modelos negros? Como você vê a representatividade e a importância de ser vista como uma inspiração?

Sim, eu já trabalho como modelo há muitos anos, hoje eu entendo a responsabilidade que é ser uma mulher preta trabalhando para uma área de moda justamente por essa questão da representatividade, quando eu era criança não se via muitas mulheres na televisão, no jornalismo, no cotidiano das notícias, em locais de destaque e liderança, em faculdades, nem nada do tipo, e isso também era visível na moda brasileira que pouquíssimas situações a gente [mulheres pretas] se viam em local de destaque e nem sinônimo de beleza e feminilidade. Então hoje é uma realização enorme de estar onde estou e não só de realizar um sonho de criança de se ver ali em uma situação de valorização e poder saber que sirvo de inspiração para outras meninas.

Lab Notícias: Você encontrou e encontra algumas dificuldades ainda hoje?

Muitas dificuldades, eu acho que todas as dificuldades que outras modelos independentemente de cor, estatura ou biótipo, eu acredito que eu também tive essas dificuldades e mais algumas. Por exemplo, é sabido que, principalmente em Goiânia, muitas empresas grandes não olham para nós como uma opção de perfil para lançamento das coleções, com exceção das coleções de verão, então nós sabemos que algumas empresas ainda têm na cabeça que a mulher preta é sinônimo de beleza para esses momentos, como se não consumissem os produtos nas outras épocas do ano. Teve uma situação que eu tive a oportunidade de falar sobre isso com algumas pessoas que trabalham na região, como lojistas, e falei ‘ Gente vamos pensar um pouco sobre isso? Na época de férias, nas épocas que se vendem muito biquíni, as pessoas gostam muito de fazer fotos com mulheres pretas, principalmente pretas não retintas e a gente já sabe bem o porquê, que está ligado a uma questão racial, mas é uma coisa a se pensar.’

LabNoticias: Há um tempo atrás o mercado da moda seguia muito o que aparecia nas novelas, ou vice e versa, e víamos muito figuras negras como Tais Araújo e Camila Pitanga com os cabelos lisos, maquiagem para afinar o nariz e etc. Você acha que o mercado da moda mudou um pouco esse pensamento e começou a abraçar a diversidade?

Eu acredito que hoje, por conta da internet mesmo, e da forma que a gente consome conteúdo essa diversidade está sendo melhor apresentada, não só em questões raciais mas também em outras situações (pessoas albinas, pessoas com vitiligo, pessoas com obesidade) então eu acredito que tem se mostrado um pouco mais [diversificado] mas não por uma questão de consciência por si só, mas por a gente estar falando muito mais de consumo de informações pelas redes de streaming, pelas redes sociais do que pela televisão propriamente dita, há uma concorrência muito maior de chegada de informação, a televisão ela acaba que começa a abrir mais esses espaços e você falou de personalidades que foram por muito tempo únicas na TV de entretenimento, sempre foi Tais e Pitanga aqui para o Brasil, sempre só tivemos elas em destaque representadas como mulheres de poder mas mesmo assim muito sexualizadas. E tivemos Gloria Maria que por muito tempo ficou sozinha no jornalismo de destaque, então a gente vê que algumas coisas mudaram mas não é tão presente, eu acho que por conta dessa movimentação toda que a gente tem na internet, já era pra gente ter avançado mais.

Ainda sobre questões de diversidade, Izza também comenta com a gente sobre alguns pontos discutidos entre ela e outros produtores de conteúdo preto na região de Goiás.

É uma questão que é muito discutida entre mim e outros produtores de conteúdo preto, principalmente daqui da nossa região que se perde muito em fazer essas contratações, porque há pessoas muito competentes mas que as marcas não olham com muita atenção e ainda não valorizam de verdade. Tem um documentário muito interessante no Google Play, que fala justamente da dificuldade dos produtores de conteúdo preto em ter os seus alcances e ter seus conteúdos entregues pela própria plataforma e isso é comprovado, não só na mídia Norte Americana mas também aqui, no Brasil, embora tenhamos muito mais pessoas negras do que brancas, então acaba que a gente sabe que está muito prejudicado e ainda foi um desenvolvimento muito pequeno do que realmente poderia ter sido justamente por conta desse acesso gigantesco, acho que está muito escancarado pro mercado que o publico preto começou a olhar pra isso e agora tem demanda de consumo altas.

Foto: Letycia Antonello (@euleletsr)

Outra coisa que tem se falado muito é sobre a moda do cabelo cacheado, sobre a tendência do cabelo cacheado, e agora está na moda as pessoas se assumirem cacheadas e é uma coisa que eu vivo comentando e tentando discutir no meu Instagram, porque lá eu tenho construído uma comunidade muito interessante de meninas, mulheres e mães, principalmente de meninas pretas, que tem se visto nessa posição de olhar com um pouco mais de carinho pra si mesma, mas não que seja moda mas é bem essa movimentação que a gente falou na TV e na moda, sobre as pessoas estarem de certa forma abraçando a diversidade, por pressão mesmo e não por pura consciência, vem muito disso, porque eu acho que quando a gente começa a trazer esse movimento de começar a levantar essas questões de ‘ah mas eu preciso de um produto de maquiagem que tenha uma paleta de cores diversas para me atender’, ‘eu preciso de uma gama de produtos para o meu tipo de cabelo’ aí a indústria começou a acordar para esse publico, que tem uma demanda e tem um consumo alto também desses produtos que muitas vezes são esquecidos.

Ainda sobre a falta de demanda de produtos para pretos e pretas, Izza complementa:

Apesar de ser uma preta não retinta, eu ainda tenho dificuldades de compra de produtos de maquiagem compatíveis com o meu tom de pele, e os maquiadores e as pessoas envolvidas com a moda ainda conseguem errar minha tonalidade, que não é uma tonalidade muito saturada, eu não sou uma preta retinta, então ainda temos essas questões e ficam por ai pairando. Hoje a gente tem alguns profissionais que estão se especializando mas não é geral, eu já escutei muito dessa classe falar ‘Eu não faço modelos pretas porque eu não tenho demanda desse publico aqui’, não é uma questão de não ter demanda, é porque a gente sabe que as pessoas erram muito no nosso tipo de pele e cabelo, ainda faltam salões especializados para cuidar da gente, os poucos que tem, tem muito sucesso justamente por conta disso, então eu acho que a moda quando ela fala de comportamento e de espelho social, ela ainda falta muito mas nos tivemos um avanço bem interessante, pensando na minha geração mesmo, a minha geração passou por dificuldades muito extremas e agora temos acesso a não só conteúdos como os meus, mas diversos produtores que fazem conteúdos para o entretenimento falando sobre essas questões. Então assim, estamos em um balanço, tivemos um avanço muito bom, ainda não perto do que poderia ter sido mas estamos no caminho.

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