Pânico VI tem desafios maiores do que só o assassino Ghostface

Novo filme da franquia traz Ghostface em Nova York, mas será que consegue convencer?
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A franquia Pânico retorna com seu sexto filme, trazendo de volta estrelas como Melissa Barrera (“Um bairro em Nova York”), Jenna Ortega (“Wandinha”) e Courtney Cox (“Friends”). Mais uma vez, o lendário assassino Ghostface volta com seus desejos sangrentos, mas agora com um toque especial: ele deixa a pequena cidade de Woodsboro para aterrorizar a grande metrópole Nova York.

O longa-metragem é o primeiro a não contar com Neve Campbell na pele da final girl Sidney Prescott, a protagonista de todos os filmes anteriores. Para a tristeza dos fãs, a atriz optou por não reprisar o papel devido a divergências sobre seu cachê. O roteiro tenta justificar, de maneira insatisfatória, a sua ausência e preenchê-la com a nova safra de personagens apresentados no filme anterior: Sam (Melissa Barrera), Tara (Jenna Ortega), Chad (Mason Gooding) e Mindy (Jasmin Savoy Brown).

A química do quarteto funciona bem, afinal, o que mais pode unir as pessoas do que uma experiência de quase-morte? Agora na faculdade, Tara, Chad e Mindy têm que se adaptar após o evento traumático ocorrido no filme anterior. Já Sam, por ser filha do icônico serial killer Billy Loomis, primeiro Ghostface lida com inúmeras discussões na internet que a culpam pelos assassinatos de Pânico (2022).

Sam, interpretada por Melissa Barrera, e Tara interpretada por Jenna Ortega. As duas parecem assustadas e atrás tem vários carros.
Samantha e Tara Carpenter em Nova York. Reprodução: Paramount Pictures

Sam consegue convencer levemente mais como protagonista nessa nova jornada, mas Tara ainda não possui uma personalidade própria e que se mantenha por si só, continuando com uma dependência intrínseca de sua irmã para existir. O protagonismo das irmãs Carpenter continua não se comparando ao de Sidney Prescott, mas cativa mais do que no anterior.

Ainda há a adição de caras frescas: Samara Weaving (“Casamento Sangrento”), Tony Revolori (“Homem-Aranha: De Volta ao Lar”), Liana Liberato (“A Casa do Terror”), Dermot Mulroney (“O Casamento do Meu Melhor Amigo”), Josh Segarra (“Arrow”), Henry Czerny (“Casamento Sangrento”), Jack Champion (“Avatar: A Forma da Água”) e Devyn Nekoda (“Backstage”). Também há a esperada volta de Hayden Panettierre como Kirby, sobrevivente de Pânico 4. Mas, como já é de se esperar, a maioria dos personagens apresentados serve apenas para aumentar a contagem de corpos típicas de qualquer filme slasher (subgênero com um assassino misterioso que mata suas vítimas um por um), não expressando nenhuma personalidade significativa.

Falando em terror slasher, Pânico VI veio em boa hora, com o ressurgimento do subgênero através de obras como Rua do Medo, Morte Morte Morte e X – A Marca da Morte. Contendo cenas que conseguem atingir o objetivo de deixar o espectador na ponta da cadeira, o filme vale a pena ser assistido por quem gosta de sentir um friozinho na barriga. Mas não só de tensão se vive um filme de terror: a produção enfrenta problemas, principalmente causados pelos furos de roteiro.

O roteiro não é nem de longe tão inteligente quanto o que já havia sido apresentado anteriormente quando estava nas mãos de Kevin Williamson e isso pode afetar levemente a experiência de imersão. A trilha sonora tenta ressonar com a geração Z, com músicas badaladas, mas em certos momentos simplesmente não encaixa. Há um começo cheio de gás, mas que acaba raleando: o filme nunca atinge seu potencial completo.

Esse é o segundo filme da franquia dirigido pela dupla Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett, que tentam dar continuidade ao universo consolidado pela lenda do terror Wes Craven, responsável pelos quatro primeiros Pânico e por A Hora do Pesadelo. É um fardo grande a se carregar, mas, na medida do possível, os diretores conseguem fazer algo interessante e que entretém fãs e quem está indo ao cinema só para assistir mais um filme de terror. Entretanto, não é uma grande obra do gênero e ao final fica aquele gostinho de potencial desperdiçado.

Para quem já assistiu

Pessoa fantasiada com uma máscara de fantasma branca e um manto preto. Ele está com uma espingarda em uma loja de conveniência.
Ghostface com uma espingarda. Reprodução: Paramount Pictures

Agora entramos na parte com os fatídicos spoilers. O que marca a franquia desde seus primórdios são as intensas cenas de abertura: quem não lembra da cena do primeiro filme em que há o inesperado assassinato de Casey Becker, interpretada por Drew Barrymore, que era até então a mais famosa do elenco? Ou a criativa e aflitiva morte de Jada Pinkett-Smith no cinema em Pânico 2? Assim que se inicia o filme, temos a sensação de tensão que se prolongará por todo o restante da trama.

Pânico VI não foge da regra: tem uma das cenas mais inventivas que já foi apresentada no começo de um dos filmes. Logo de início, a professora de cinema Laura (interpretada por Samara Weaving) é apresentada e, como já era esperado, ela protagoniza a primeira morte da obra, pois assim como Drew, Samara é o nome com maior destaque entre as novas adições à franquia. A cena do assassinato em si não é nada memorável: ela toma decisões estúpidas e nem sequer tenta lutar pela sua sobrevivência. Assim que a vida dela é ceifada que ocorre algo inesperado: Ghostface tira a máscara, revelando que era Tony Revolori por trás dela.

A identidade do assassino mascarado nunca tinha sido mostrada já no começo do filme, o que foi um toque legal, mas que infelizmente não durou tanto. Jason, personagem de Revolori, é destaque de um dos momentos mais tensos da película, afinal, é mostrado que ele tem contato direto com Tara e os demais protagonistas, sendo colega de classe dela. Em seguida, o moço retorna ao seu apartamento e toda a excitação que tinha sido criada pela cena é totalmente descartada: Jason é vitimado por aquele que será realmente o Ghostface da vez.

A decisão de trazer Ghostface para a efervescência nova-iorquina é acertada, mas nunca atinge tudo aquilo que poderia ser. Os momentos mais interessantes de tensão já são mostrados no trailer: a do mercado e a do metrô. Ainda há a cena que o homicida misterioso consegue entrar no apartamento de Sam e Tara, que ocasiona o momento em que as personagens Sam, Mindy e Annika precisam passar de um prédio para o outro por meio de uma escada pendurada na janela, similar ao que acontece em Nerve (2016). As três cenas funcionam excelentemente, mas deixam uma vontade insaciada por mais.

O sexto filme traz elementos dos anteriores, como a máscara utilizada pelos assassinos, o modulador de voz de Pânico 3 e até mesmo as motivações para a matança similares a de Pânico 2. Tentam inovar trazendo três assassinos, mas não convence, principalmente por ser uma tentativa de replicar Nancy Loomis (que já não era uma das mais icônicas Ghostface). Toda a originalidade proposta no início se perde, voltando a ser apenas mais um filme que apela para a autorreferência. O roteiro é extremamente seguro, sem tomar nenhum grande risco em matar os personagens já estabelecidos, mesmo após eles sofrerem com inúmeros tiros e facadas, e com justificativas infundadas para os furos perceptíveis.

A essência de Pânico é tomar riscos, entretanto não é isso que é visto aqui. Se tentaram apelar para a subversão em não dar fim à vida de Sam, Tara, Chad, Mindy, Gale ou Kirby, não funcionou. Ao final, fica parecendo mais que o filme é uma versão mais sangrenta e com gore de outra amada franquia: Scooby-Doo, só que sem o mesmo brilho e carisma.

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