O limite do humor: Realmente existe?

Muitas vezes mal interpretado, o humor pode ter vários pontos de vista.
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Marcos Carbone
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Polêmico e sempre “controlado” pela sociedade, o senso de humor pode ser algo mais pessoal do que um senso comum. Afinal, quem define se algo é engraçado ou não, somos nós mesmos. Partindo do princípio de que “piadas” e discursos raciais, ou, que ferem os direitos humanos, são crimes, e não fazem parte da discussão, vem a pergunta: qual o limite do humor?

Relação Social

A resposta pode ser interpretada de diversas maneiras, por diversas pessoas e pontos de vista. Mas baseado no senso comum da sociedade, a graça acaba quando começa a incomodar o próximo. No entanto, é assim que grande parte da comédia era, e continua sendo feita nos dias de hoje.

Ao longo da História, a comédia foi se desenvolvendo, e dando cada vez mais autonomia para seu ator. Se antes os artistas eram os bobos da corte, que caso não agradassem eram mortos, hoje os comediantes passam pela “era do cancelamento”. Nas redes sociais tudo que é postado pode ser visto por todos. Portanto, o cuidado deve ser muito maior. Com pessoas dizendo o que se deve ou não fazer, virou a “terra do juízo de valor”, e quem não segue o padrão, está fora.

Nelas também, principalmente no Twitter, as pessoas estão hipersensíveis. Recentemente a palavra “gatilho” foi adotada pelo vocabulário web. E desde então, tudo que se posta pode ser um gatilho para ativar uma reação negativa de outro usuário. Fazendo com que as pessoas muitas vezes deixem de se
expressar, enquanto outras, parecem não ligar.

O comediante Léo Lins, por exemplo, conhecido justamente por fazer piadas mais “pesadas”, foi cancelado diversas vezes por atuações diferentes. A mais recente, foi por conta de uma piada sobre hidrocefalia.

Piada com Hidrocefalía, Leo Lins

Ele diz que o limite não está no humor em si, mas sim no local em que acontece. Porém, outros fatores devem ser levados em consideração. Um de seus argumentos é justamente esse: ao dizer que indo ao seu Show, as pessoas estão “buscando” aquilo, ou ao menos se sujeitando a ouvir. No entanto, a atitude do comediante nesse caso está longe de ser correta, pois além de estar em um grau de ofensa perigoso, é só mais uma das centenas de piadas impróprias que ele apresenta.

Público-alvo
Mas de fato o ambiente de convivência controla o tipo de humor do local, visto que é algo delicado e muito pessoal. Na TV aberta, por exemplo, hoje o humor sofre uma censura pesada em todas as emissoras, para se adaptar melhor ao público, que é muito amplo. Isso não significa porém, que as piadas sem censura são erradas, já que, vistas com os olhos certos, não serão problema.

Com isso, o mais  importante é o destino da piada, as pessoas que vão ouvir e comentar sobre ela. Afinal, elas têm livre interpretação da sua fala. Suponha que um aplicativo famoso de streaming resolva ousar e faça um show de Stand Up de humor negro e publique no App. Ainda que claramente destinado a um público específico, a obra está disponível para todos, passível a críticas gerais. Por isso, cada vez mais, um dos maiores problemas do humor, são pessoas que não o entendem da maneira correta. Elas analisam de um único ponto de vista e tomam como verdade absoluta, julgando a obra ou fala com base na sua visão de mundo.
Um exemplo é o Sitcom americano South Park, que é trabalhado de forma simples, mas com críticas brilhantes, muitas vezes encobertas pelo péssimo linguajar dos personagens, espantando as pessoas do foco principal. No Brasil, o seriado sofre bastante preconceito do público geral, por ter uma linguagem quase toda no estilo besteirol.

Sitcom americano South Park

O principal problema, no entanto, é seu humor crítico, que às vezes não é percebido pelo público, causando uma sensação de que o Sitcom apoia justamente o que na verdade critica. Brincando com esteriótipos, religião, drogas e outras pautas pesadas, que são consideradas tabu pela sociedade.

A influência do autor
Mas definitivamente o humor não tem o mesmo peso para todos. Se tratando de uma junção de fatores, seu limite depende também da pessoa que o testa. Portanto, a influência dela é algo a ser considerado. Isto é, uma piada pesada entre amigos quando se é alguém fora dos holofotes da mídia, não tem nada demais certo? Sim, mas quando se é famoso as coisas mudam. A fala alcança mais pessoas, ou ao menos é recebida de forma diferente. Consequentemente a influência é maior, logo, é preciso ter muito mais cuidado. 

Por ser um país muito grande e diverso, a compreensão de mundo dos Brasileiros é diferente. Alguém que mora no Rio Grande do Sul, tem costumes, vocabulário, e interpretações diferentes de alguém que mora em Pernambuco, por exemplo. Outros fatores também devem ser levados em consideração. As vezes a classe social do indivíduo determina seu círculo de amizades, gostos, e claro, ideais. Assim como a faixa etária é determinante quando o assunto é humor. Portanto, seu limite não pode-se resumir a uma única resposta, mas é sim, na verdade, uma questão de “feeling”. Uma simples ação pode vir a ser a coisa mais engraçada do mundo sob um determinado contexto, ou seja, a piada certa, na hora certa, para as pessoas certas.

por Marcos Paulo Carbone.

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