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Um certo dito popular diz que “Branco correndo é atleta e preto correndo é ladrão!”, e essa frase reflete muito bem o que rola dentro e fora de campo, quando o assunto é racismo no futebol. O esporte que nunca deixou de ser elitista e, junto a toda a discriminação e preconceitos existentes vem transpassando a vida daqueles que um dia sonharam em se destacar no futebol.
Atletas negros do mundo todo vêm sendo perseguidos e atacados por indivíduos que se dizem torcedores e admiradores do esporte, mas que na verdade são criminosos racistas, que pertencem a uma elite que espalha violência e opressão pelo mundo, mesmo antes do futebol existir.
Esses jogadores que muito lutam para conquistar espaço em meio ao caos violento que envolve o esporte, quando conseguem alcançar seus objetivos de infância, ganham de brinde também um alvo ainda maior nas costas, fato que é tão normalizado e invisibilizado por elites esportivas que tem como fundamento herdado, o racismo.
Livres para cometer racismo
As atitudes racistas desses indivíduos afloram em campo e evidenciam claramente a admiração pela depreciação do negro de forma deliberada. Ações que transmitem uma ideia de tolerância por parte desses indivíduos com relação a existência dos atletas negros. Já que o fato de estarem no mesmo ambiente e patamar que os atletas negros causa grande desconforto, por isso, nem sempre eles conseguem manter a postura de um racismo velado e acabam partindo para cima.
Essa linha de violência no futebol é mais uma consequência do brancocentrismo no mundo. No Brasil, desde o início, o esporte sempre foi voltado para pessoas brancas, consideradas de boa família e que tinham status na sociedade. Os times de futebol eram em sua maioria compostos por brancos, e as pessoas negras que naquela época não podiam nada, não podiam também jogar e nem assistir aos jogos. Em poucos casos, alguns times daquela época deram oportunidades para homens negros jogarem futebol quando o esporte ainda não era conhecido no país.
Aqui compreende-se que a oportunidade era dada em muitos casos por necessidade, pois queriam pessoas que tivessem talento nos times e quando não tinha nenhum branco que sabia e tinha qualidade para jogar, chamavam o jogador preto para pôr no lugar. Em muitas ocasiões não faziam porque queriam e gostavam, mas porque não tinham outra opção, naquele momento precisavam — ou seja, sempre houve um interesse por trás, um interesse de obter algo em troca, que não inibia o racismo no futebol e o preconceito escancarado.
Ser antirracista é inaceitável
Poucos times agiram de forma diferente e aceitaram jogadores negros sem indiferença, a exemplo da Ponte Preta, que por conta disso inclusive passou a ser chamada de “macaca” pelos torcedores racistas que não aceitavam a presença dos atletas negros. Outro exemplo é o Vasco, que foi um dos primeiros times a ser campeão tendo jogadores negros em sua composição, algo que para aquela época seria inaceitável, tanto que os times que tinham negros no grupo, como punição, eram perseguidos e impedidos de participarem dos campeonatos.
A cultura da punição continua até hoje, o fato de um jogador negro se destacar incomoda, sua dança incomoda, sua existência incomoda, e tudo isso é visto como provocativo e portanto é motivo para sofrer racismo. “Fazer parte tudo bem, agora querer se destacar é demais!“.
Você é bom, mas você é preto!
O racismo é crime e é terrível em todas as suas formas, e no futebol ele é totalmente contraditório a todo histórico de qualidade e competência apresentada por jogadores negros de diversos lugares do mundo e inclusive do Brasil. Jogadores que fizeram história por onde passaram, que ajudaram times a conquistarem títulos e taças importantes para o futebol, e que continuam sendo até hoje exemplos e inspirações para crianças do mundo todo, mesmo que alguns se recusem a aceitar devido ao racismo que vem de berço que o rei do futebol seja preto e não o contrário.
Ou seja, a questão não é a qualidade ou as atitudes provocativas dos jogadores, e sim a maldade expressa nas ações dos indivíduos que frequentam os jogos, que jogam e que comandam o jogo. Muito se fala em mal entendido, que em um momento de explosão pelo baixo desempenho do time ou do jogador ou pela rivalidade de jogo o indivíduo pode se deixar levar e acabar se expressando mal. Essa é uma visão errada, pois a pessoa só pode oferecer o que tem dentro dela, e nesses casos é um racismo que está impregnado e que nunca deve ser aceito e minimizado.
A vítima é culpada…
Os crimes de racismo no futebol quando cometidos não são levados a sério pelas autoridades, que deixam brechas para que eles continuem acontecendo, pois não são dadas as devidas punições aos criminosos. Em alguns casos o oprimido acaba sofrendo as penas ao invés do opressor, como no jogo entre Real Madrid e Valencia, que aconteceu no domingo (21/5), em que o jogador de futebol brasileiro, Vinícius Júnior, foi agredido e expulso do jogo após se indignar e reagir aos ataques racistas feitos por um estádio inteiro que gritava livre e confortavelmente “mono” (macaco) contra ele.
Desta vez o caso não está passando em branco. O jogador Vini reagiu a esse ataque de forma segura e se tornou líder de uma ação conjunta contra os racistas que se escondem por trás do esporte. O patamar de vida e importância mundial que ele tem hoje tornou toda a ação de combate possível, porque visivelmente se ele não tivesse onde está, talvez a mobilização em cima do ataque não tomasse uma proporção tão grande no mundo, sendo apenas mais uma das muitas violências que ele já sofreu ao longo de toda sua vida e carreira. Apesar de ser um dos melhores jogadores do mundo, o racismo ainda o atinge e desumaniza abertamente, por quem se sente livre e protegido para fazê-lo não importa as circunstâncias.
Cadê as punições?
O caso de Vini é um triste ocorrido, mas sua reação servirá como pontapé fortalecedor para que cada vez mais atletas se posicionem contra o racismo no futebol. Que juntos aos movimentos sociais e a todos que defendem um mundo sem preconceitos e discriminações, possam colocar esses criminosos em seus devidos lugares. E para isso acontecer é preciso que as autoridades também sejam antirracistas e queiram trabalhar em prol das vidas negras, sem minimizar as ações dos racistas e a dor de quem sofre racismo.
Mas enquanto não houver punições severas que coloque um fim a toda essa barbárie racista, este continuará sendo tóxico aos atletas negros. Um esporte que deveria ser um meio de trazer inclusão e diversidade, acaba sendo uma forma de fortalecer preconceitos racistas contra pessoas negras e contra tudo o que elas fazem.
Até mesmo uma dança incomoda, sendo vista como provocação pelos criminosos que usam disso como motivo para atacarem os jogadores negros sem receio nenhum. Indivíduos que fazem isso de forma livre, pois tem o aval e o apoio de quem está nos mais altos cargos comandando a liga racista. Autoridades que fingem não ver a gravidade da situação e fazem pouco caso, tratando a vítima como a culpada do próprio racismo que sofre, e que por agirem assim acabam evidenciando seus verdadeiros interesses, já que também são racistas.