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Depois do sucesso Por Supuesto (2021), responsável por lançar a carreira musical de Marina Sena, o novo lançamento promete uma experiência envolvente, diferente do álbum anterior. Vício Inerente (2023) mistura seu tom vocal único a melodias variadas em diversos estilos musicais. Marina se lançou no mundo musical com o MPB mas sua nova era é uma artista do funk, rap, pop, reaggeton e as batucadas do axé.
A construção desse álbum se potencializa em todas as suas camadas, desde a identidade visual das fotografias, o uso de figurinos que marcam a silhueta e suas curvas, destaque ao tom azul fortíssimo, até a iluminação e o uso de objetos do fundo do mar como acessórios. Esse projeto mostra uma Marina mais confiante em si, não somente nos figurinos mas também na composição musical que embala em camadas ainda não exploradas pela cantora.
Para falar de música é inegável não citar as mudanças da indústria musical, já que o crescimento de redes como o tik tok, transformaram o que hoje consideramos musicalidade. Na atualidade é necessário apenas versos curtos e dançantes, que sejam capazes de compor uma boa coreografia e uma melodia viciante.
Estratégia ou não, o lançamento de ‘Que tal‘, a faixa número 7 do álbum, compõe uma ‘dancinha’ no tik tok, e já foi replicada algumas centenas de vezes. A música é uma parceria com o rapper Fleezus, uma mistura de rap, com uma pitada de reggaeton e pop. Ao que tudo indica é uma estratégia para atingir não somente os ouvintes convencionais, mas também a camada tiktoker dessa indústria musical. É perceptível e arrisco dizer, que essa escolha também significa uma artista mais convicta de seu poder e capaz de atingir a todos.
Essa escolha acaba por cair no embalo da nova onda musical, que apesar de divertida, se atém somente à viralização de uma pequena parte da música e ignora todo o restante do produto. No entanto, sua potência não pode ser delimitada só a isso, Marina Sena, ao contrário de cantores que constroem hits para essa plataforma, demonstra a preocupação em entregar um álbum rico em todas suas vertentes, seja na musicalidade, nas referências e na composição imagética.
Isso fica ainda mais perceptível nas músicas ‘Mande um sinal’ e ‘Pra ficar comigo’ que compõem uma aura mais romântica e mostram o lado MPB/POP que Marina Sena carrega em sua história. Já a faixa ‘Dano sarrada’, inicial do álbum, é talvez a mais impactante. Ela mistura funk, techno e pop, tem a ousadia como primordial em sua letra, inovando até mesmo em sua nomeação.
Marina não brincou quando prometeu lançar algo tão diferente do convencional de suas músicas, misturando o vocabulário mais encontrado em estilos musicais como o funk, a artista mostra que é capaz de fazer poesia com expressões vistas socialmente de forma marginalizada. Ainda que haja pessoas que prefiram o estilo convencional que a colocou nas paradas de sucesso, um MPB mais calmo e tranquilo, essa nova Marina parece mais potente musicalmente.
Destaque também para a crítica de Cleber Facchi, que reforça a potência musical da artista e sua habilidade em transformar as músicas em hits na cabeça dos ouvintes. Mas avalia que “nem todas as faixas partilham do mesmo refinamento”. Em contraponto a primeira faixa do álbum já alcançou a marca de 3 milhões de plays no Spotify, demonstrando que ela vem conquistado os fãs e o público nesse vício inerente.
Além disso, essa nova fase na carreira da artista, traz uma mulher ousada, muitas vezes criticada como vulgar. Em entrevista para a revista GQ, ela disse que não consegue entender “porque as pessoas se sentem tão mal com essa coisa de mulher sensual’.
Marina ainda tem um longo caminho a percorrer, e apesar da indústria musical atual, a artista já deixou claro que veio para inovar, mesmo que precise se render a esse meio casualmente. Agora mais confiante em si, ela tem tudo para ter uma carreira cada vez mais potente.