- Crônicas de um burnout anunciado - 9 de agosto de 2023
- Estreia na Netflix a 2° temporada de “De volta aos 15” - 18 de julho de 2023
- “Lei Taylor Swift” é proposta por deputados - 21 de junho de 2023
Ao acordar, antes até mesmo de verificar os milhares de grupos no WhatsApp, preciso tomar meu antidepressivo. Engulo quase que a seco o mesmo comprimido todos os dias na esperança de que além de equilibrar os meus neurotransmissores, ele seja a solução para uma rotina que me sucumbe e me engole a cada dia. Cansaço. Cobrança. Contas a pagar. Preocupação. Vou me atrasar. Tic Tac.
Tic Tac. Enquanto a hora corre, me equilibro entre dois estágios e a faculdade e tento fazer tudo ao mesmo tempo e em todo lugar, mas é claro que não consigo, ninguém consegue. Apesar de tudo, é só mais um dia corriqueiro, penso algumas vezes ao longo do dia sobre como gostaria de ter tempo para ir ao médico, fazer terapia e conseguir ter lazer, mas já fazem meses que não sei o que é isso, não tenho tempo para me cuidar. Tic Tac.
Tic Tac. Enquanto tento fazer um malabarismo impossível, conto as horas para chegar em casa, afinal, no fim do dia, posso finalmente deitar, só penso na minha cama. Não, a minha cabeça não descansa. Não, os inúmeros grupos de WhatsApp não param aos fins de semana. Sim, meu chefe me manda mensagem no domingo. Tic Tac
Tic Tac. Finalmente. Posso voltar para a minha cama, onde eu gostaria de ter ficado o dia todo, pra ser sincera. No caminho penso se vou jantar hoje ou o dia de hoje me soterrou tanto que vou deixar a alimentação para depois, de novo. Enquanto começo o dia com um antidepressivo, preciso terminar ele com uma tarja preta para conseguir dormir. Frontal, 2mg. Tic Tac.
Tic tac. Consegui reunir o resto de energia mental que me sobrou para o final de semana e decidi sair com meus amigos, tento me animar porque li em algum lugar que sair da rotina de casa – faculdade – trabalho – casa, seria bom para tirar o peso da rotina. Sinceramente, não vejo como isso ajuda, sento na cadeira de plástico desconfortável, com uma mesa alta demais para mim, petiscos caros demais para o meu salário e cerveja de qualidade duvidosa, e faço o meu pedido já calculando quanto dinheiro me sobra depois que pagar conta. Tic Tac.
Tic Tac. Na mesa de bar o assunto é o mesmo de sempre, meu amigo fala que está cansado e eu apenas escuto, não tenho energia pra dizer que eu também. Quando reclamam da falta de tempo no dia a dia, dou um gole na cerveja inflacionada e concordo. Não consigo me divertir, só consigo pensar na próxima pá de terra que a próxima semana jogará em mim. Tic Tac. Vivo esperando algo que nunca chega.