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A obesidade é uma condição médica crônica grave causada pelo acúmulo excessivo de gordura corporal, relacionada a fatores prejudiciais à saúde. Desse modo, a doença requer muita atenção, visto que pode acarretar o desenvolvimento de outros futuros problemas graves a curto, médio e longo prazo.
Em crianças e adolescentes, assim como em adultos e idosos, a condição acontece de maneira multifatorial, ou seja, diversas razões genéticas, comportamentais, sociais e particulares podem influenciar o estado nutricional. Portanto, faz-se necessário que a obesidade infantil se torne uma pauta cada vez mais discutida, pois está intimamente ligada à atuação e interação do indivíduo em vários contextos.
Números crescentes preocupam
Um estudo divulgado pelo Ministério da Saúde em 2021, baseado em dados de 2019, estima que cerca de 6,4 milhões de crianças tenham excesso de peso no Brasil e 3,1 milhões já evoluíram para obesidade. Assim, a doença afeta 13,2% das crianças entre 5 e 9 anos acompanhadas no Sistema Único de Saúde (SUS). Contudo, a tendência é de que esses números tenham crescido significativamente após a pandemia, devido a mudança drástica de rotina e ambiente.
Ademais, é de salientar que, até setembro de 2022, mais de mais de 340 mil crianças com essa faixa etária foram diagnosticadas com obesidade. Já em 2021, a Secretaria de Atenção Primária à Saúde (SAPS) reconheceu a condição em 356 mil crianças dos 5 aos 10 anos.
Identificado pela Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN) como um problema de saúde pública, a maior taxa obesidade se encontra concentrada na Região Sul do Brasil, com 11,52% das crianças obesas nessa faixa etária. Em contrapartida, é na Região Norte que encontramos os menores índices do país: cerca de 6,93%.
Já entre as crianças mais novas, a problemática tende a ser ainda mais recorrente. Em 2019, o Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (EMANI), em parceria com o Instituto de Nutrição Josué de Castro, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), afirmou que 18,6% das crianças abaixo de 5 anos apresentam risco de sobrepeso.
Caráter multifatorial
Como citado anteriormente, a obesidade infantil é resultado de uma série de fatores internos e externos ao menor. A saber, o problema pode ser oriundo do período da gestação, da influência da mídia ou mesmo do exemplo errôneo dos pais.
Com a sociedade cada vez mais tecnológica, o sedentarismo se torna uma grande ameaça para o indivíduo em todas as idades. Porém, ele é ainda mais nocivo para crianças, uma vez que elas trocam práticas ao ar livre fundamentais para o bom desenvolvimento por horas dentro de casa.
Além disso, o consumo frequente de alimentos ultraprocessados e industrializados também estão no topo da lista de causas da obesidade. A má alimentação pode acarretar problemas de saúde como diabetes e hipertensão mesmo nessa faixa etária. A nutricionista Sara Jacob fala sobre o perigo da má alimentação e aconselha os pais a estarem mais atentos aos valores nutricionais consumidos por eles e por seus filhos.
A influência da indústria alimentícia na maioria dos casos tem um efeito negativo no que tange à obesidade infantil e o consumo exacerbado de alimentos ricos em açúcar e gorduras saturadas. O Guia Alimentar para Crianças Brasileiras Menores de 2 Anos traz como premissa que alimentos ultraprocessados (que passam por grandes modificações até chegar à mesa, como salgadinhos de pacote) não devem fazer parte da rotina alimentar das crianças e também podemos incluir a população em geral.
Nesse caso, nós trabalhamos a educação alimentar e nutricional, ensinando para a família sobre a importância da alimentação saudável no desenvolvimento dessa criança e na prevenção de doenças crônicas futuras ( como diabetes, hipertensão arterial)
reforça.
Impactos e consequências
Além das intercorrências na saúde física. o lado emocional da criança também pode ser duramente afetado pelos problemas psicológicos e sociais resultados pela obesidade. Dificuldade de relacionamento e isolamento podem ser apresentados como consequência do bullying e outros tipos de discriminação sofrida.
Em conversa com o Lab Notícias. Leia Fernandes, psicanalista clínica, aborda detalhadamente o assunto. Para ela, o excesso de peso afeta a imagem que a criança tem de si mesma e pode prejudicar a forma como ela se enxerga perante a sociedade.
A obesidade pode afetar o psicológico do indivíduo, acarretando uma autoestima baixa, além de problemas com a autoimagem e autoacolhimento. Ademais, em casos extremos pode ser uma das causas do desenvolvimento do transtorno de personalidade, bulimia, anorexia, entre outros.
explica a profissional.
Por fim, a psicanalista afirma que o complexo de inferioridade também pode ser desenvolvido em decorrência da condição. Assim, Leia chama a atenção para o tratamento que a criança receberá no meio em que está inserida, pois isso também interfere intrinsecamente no desenvolvimento dos pequenos.
Além disso, a obesidade pode afetar o psicológico da criança e fazer com que ela se sinta diferente das demais crianças da sua idade, uma vez que ela precisa de afirmação ou aprovação paterna ou de outros para formação de identidade.
Observo que, desde muito novinhas, as crianças mais gordinhas começam a ouvir dos outros que ela é gorda. Não importa os nomes carinhosos que são usados para comunicar com a ela. Na realidade, estes termos como ‘fofinha’ só servem para lembrar a criança que ela é diferente das demais. Isso tende a se repetir inclusive na fase escolar ou no meio social em que a criança participa. Na realidade, o bullying pode começar em casa.
conclui.
Ações para o combate e prevenção da obesidade infantil
Devido ao cunho multifatorial da obesidade infantil. faz-se necessário que haja uma intervenção integrada de diversos setores para garantir um desenvolvimento saudável do menor. Além, claro, de uma alimentação balanceada na infância. é preciso dar atenção aos estágios anteriores da formação plena do indivíduo.
Desde a gestação, mãe e bebê necessitam de um acompanhamento próximo nos cuidados com a alimentação e saúde. A amamentação exclusiva até pelo menos os 6 meses e a introdução alimentar a partir dessa idade também requerem preparo. Isso porque é nesse período que o alimento será apresentado pela primeira vez ao indivíduo.
Para as crianças maiores, o envolvimento, atenção e cuidados dos pais permanecem indispensáveis. O cuidado com a escolha dos alimentos oferecidos, o incentivo à prática de atividades físicas e de ocupação longe do mundo virtual pode contribuir para a prevenção da obesidade infantil.
Com o objetivo de monitorar, avaliar e acompanhar a situação de crianças com obesidade tratadas pelo SUS, o Ministério da Saúde criou em 2021 a Estratégia de Prevenção e Atenção à Obesidade Infantil e a Campanha Nacional de Prevenção à Obesidade Infantil. Em resumo, as medidas visam combater o avanço da doença e estimular o desenvolvimento saudável dos menores. Dessa forma, cada vez mais crianças brasileiras poderão crescer com a qualidade de vida adequada na infância e, posteriormente, na vida adulta.
Foto em destaque: Reprodução/iStock