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A agricultura brasileira é um dos pilares fundamentais da economia do país, fornecendo alimentos não apenas para os brasileiros, mas também para uma parte significativa do mundo. No entanto, essa produção em larga escala enfrenta desafios constantes, incluindo pragas, doenças e perdas de colheita que podem comprometer a segurança alimentar e econômica.
Os agrotóxicos, também conhecidos como pesticidas, são ferramentas valiosas para combater essas ameaças e maximizar a produção agrícola. Eles desempenham um papel crucial no controle de pragas e doenças que podem dizimar culturas inteiras, protegendo assim o abastecimento de alimentos. Além disso, os agrotóxicos são importantes para a expansão da fronteira agrícola no Brasil, permitindo o cultivo em áreas previamente inóspitas.
Porém, o uso indiscriminado e inadequado de agrotóxicos também gera preocupações importantes. Questões ambientais, como a contaminação de solos e cursos d’água, bem como a potencial exposição de trabalhadores rurais e comunidades próximas, têm levantado debates acalorados. A busca por um equilíbrio entre o uso de agrotóxicos para maximizar a produção e a necessidade de preservar a saúde humana e o meio ambiente é um desafio crucial enfrentado pela agricultura moderna no Brasil.
“Atlas dos Agrotóxicos” de 2023, por Heinrich Böll.
A Fundação Heinrich Böll, da Alemanha, e várias organizações francesas publicaram recentemente o “Atlas dos Agrotóxicos“, que produziram em parceria. Os resultados do estudo, detalhados no jornal francês Libération, apontam os estragos causados por esses produtos no mundo.
No mapa mundial publicado pelo Libération, a América do Sul é o continente campeão do mundo no uso de agrotóxicos. A região é mencionada por ter dobrado, em 20 anos, o uso de pesticidas em suas lavouras. Em 2020, foram consumidas 770.393 toneladas de agrotóxicos na região, 119,4% a mais do que em 1999.
Para o professor da Universidade Paulista José Otávio, o importante é manter sempre as boas práticas agrícolas, e que o alto nível de utilização de agrotóxicos provém do crescimento de lavouras.
Até meados de julho deste ano, de acordo com informações do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o governo Lula deu sinal verde para a recepção de 231 agrotóxicos, um valor que chama atenção pela semelhança com o ritmo de liberações observado durante o primeiro ano de mandato do presidente Jair Bolsonaro e que ultrapassa o total anual de registros de agrotóxicos em qualquer um dos petistas anteriores.
Essas liberações levantam questionamentos sobre os critérios utilizados para aprovar novos agrotóxicos e os possíveis impactos ambientais e à saúde humana. Enquanto defensores argumentam que a disponibilização de novas ferramentas químicas é fundamental para enfrentar os desafios agrícolas, os críticos alertam para a necessidade de uma avaliação rigorosa dos riscos associados a esses produtos.
O “Atlas dos Agrotóxicos” também mostra que “49% dos agrotóxicos vendidos no Brasil são extremamente perigosos” para a saúde humana, animal e para os ecossistemas.
Para entender melhor esse contexto, é necessário ouvir diferentes perspectivas, desde especialistas em agronomia e toxicologia até representantes de organizações ambientais e movimentos sociais. O posicionamento do Ministério da Agricultura também é crucial para compreender as bases e essas liberações.
O agrônomo e professor da FIOCRUZ, Luiz Claudio Meirelles comenta sobre o assunto. “Os produtos são banidos na Europa ou em outros países, em sua maioria, por questões de saúde e meio ambiente. E nada nos difere dessas populações – do ponto de vista da exposição – e dos possíveis impactos que poderíamos ter em nossas saúdes “, afirma.
Em contrapartida, o agrônomo e também professor, José Augusto, defende o oposto. Para ele, é incoerente comparar as culturas pois muitos produtos não são utilizados por se tratarem de solos, pragas e formas de cultivo diferentes.
Em dezembro, destaca o Libération, a maioria dos cidadãos franceses (88%) e alemães (82%) se pronunciaram a favor da proibição do uso desses produtos, de acordo com uma pesquisa do instituto Ipsos. A maioria da população, nos dois países, tem consciência dos riscos que os agrotóxicos representam para a saúde. Apesar das dificuldades econômicas que uma interdição possa representar, mais de três quartos dos entrevistados acreditavam que é necessário dar “mais apoio aos agricultores” na UE para reduzir a utilização de produtos fitossanitários.
A complexa questão dos agrotóxicos no Brasil exige uma abordagem multidisciplinar e aberta ao diálogo. Ouvir as diferentes perspectivas, de especialistas em diversas áreas, de organizações ambientais e da própria esfera governamental, é essencial para traçar um panorama completo dos desafios e possíveis soluções.
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