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Um dos bares mais famosos de Goiânia, o Zé Latinhas, foi fundado em 1967 pelo seu Zé, o primeiro dono do estabelecimento que vendia carne de lata. Por ser muito apreciada pelos clientes, o restaurante assim foi intitulado em decorrência do seu apelido. O bar que fica localizado na Rua 8, região Central de Goiânia, funciona todos os dias como restaurante no horário de almoço das 11h às 15h30. Já durante as noites, funciona como Bar de quarta a domingo das 16h à 1h.

Para conhecer um pouco mais sobre esse Bar e sua importância para o Centro, o LabNotícias (LN) entrevistou uma das donas do comércio, Beatriz Gonçalves, Arquiteta e Sócia.

Sócios do Zé Latinhas. Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal.

Lab Noticias (LN): Bia para começarmos, gostaria de saber qual é a história por trás do nome “Zé Latinhas” e como o bar foi fundado?

Beatriz Gonçalves: O Zé latinhas foi fundado em 1967 e nessa época o seu Zé, que era o primeiro dono do restaurante, vendia uma carne de lata que era apreciada por muitas pessoas e ele foi carinhosamente conhecido como Zé latinhas e o restaurante assim foi intitulado também em decorrência desse apelido dele.

Então, o Zé latinhas teve vários momentos na sua história. Em um primeiro momento, ele era um restaurante quase que 24 horas, funcionava o tempo todo, tinha comida e bebida também. A rua já era um lugar boêmio, tinha o hotel aqui na frente, alguns outros comércios que também eram ligados a esse movimento noturno e diurno. Depois passou por um período em que os proprietários na época decidiram não abrir mais a noite, principalmente por conta de uma insegurança que rondava o espaço.

Assim ficou por muito tempo, abrindo apenas para o almoço, de uma maneira mais diurna. Até que o Seu Zé, o primeiro dono, vendeu para um dos meus sócios, o Vanderval, e ele resolveu voltar a abrir à noite, quando começou com esse movimento um pouco à noite, mas também percebeu que mais uma vez, o movimento que acontecia não era muito favorável para a existência do restaurante, e decidiu mais uma vez voltar a abrir só na hora do almoço.


LN: Qual é o conceito único ou diferencial que define o ambiente e a experiência no bar?

Beatriz Gonçalves: O conceito e o diferencial do espaço, parte muito de um pressuposto que a gente tinha desde as nossas primeiras conversas, que foi quase que uma diretriz para a gente montar e fazer existir o bar e o restaurante como ele é hoje. É a coexistência de um espaço boêmio no centro da cidade, com uma cidade que precisa desse espaço, mas ao mesmo tempo um espaço que muitas vezes é ligado a esse lugar de medo, de perigo, que por muito tempo o centro teve muito ligado.Em alguns lugares, em algumas questões ele ainda é muito ligado a essa ideia de inseguridade e é o que a gente mais tenta reverter.

A gente quer estar em sintonia e em coexistência com o que existe no centro Goiânia. A gente não quer esconder a insegurança que existe, mas a gente quer, claro, trazer uma segurança para as pessoas que estão aqui no sentido de que elas possam se apropriar desse espaço que é tão querido e tão importante para a nossa história como goianiense. Ser feliz e se divertir aqui, é nesse sentido que eu acredito que é a nossa grande diretriz, nosso grande objetivo com o bar.


LN: Você comentou sobre o centro, e sua localização, para o Zé latinhas, qual a importância disso? Quão importante é o bar para o centro e vice-versa?

Beatriz Gonçalves: Essa pergunta é muito interessante para mim, no sentido de que quando a gente estava no processo de conversar e pensar sobre essa nova ideia sobre o que era o Zé latinhas, sobre como ele iria se reinventar na noite, a gente procurou um pouco de respaldo no que já foi o Zé latinhas. Olhamos documentos antigos, marchandise antigos, cartões antigos, fotos antigas, achamos uma comanda muito antiga, que tinha vários itens muito diferentes, mas que tinha uma frase que marcou muito a gente, que voltou a ser o slogan do Zé latinhas, que é: o Zé é feito de Centro.

Numa lógica de que se não fosse o centro, eu acho que o Zé Latinhas, não existiria da forma como ele existe, porque tudo que a gente faz e pensa, é muito ligado à ideia de que estamos no centro, que temos um público que é ligado a esse espaço e é ligado à cultura desse espaço. Então, dentro dessa lógica de coexistência, a nossa ideia de trazer algo para o centro é exatamente voltar essa energia que vem para a gente, trazer um desenvolvimento noturno e cultural para essa região que tem muito potencial e que muitas vezes é relegada a esse outro lugar de centro antigo.

A gente quer muito que aqui as pessoas se encontrem, mas que elas se encontrem também com esse espaço, com esse centro, e com essa noção que a gente tem sobre como esse espaço é precioso, quanto ele deve ser respeitado e vivido, que é a forma mais importante de homenagear, é fazer parte.


LN: Pesquisando no Instagram do bar percebi que há noites temáticas, apresentações ao vivo ou outras atividades que atraem a clientela cultural. Como isso funciona e como vocês decidem?

Beatriz Gonçalves: Como muitas decisões que a gente tomou desde que abriu o bar, quando a gente saiu do plano da ideia, foi ligada a uma demanda. Aqui vêm muitas pessoas de diferentes backgrounds, diferentes classes sociais, gênero, sexo, classe e cor e as pessoas têm demandas diferentes para esse espaço. É claro que é impossível suprir todas elas, mas a gente tenta ouvir para poder espelhar isso através das nossas apresentações artísticas que a gente busca trazer para o espaço. O bar é aberto, então muitas pessoas não necessariamente precisam consumir do espaço para aproveitar o show e a gente incentiva isso também, porque é uma coisa importante devolver isso para a cidade.

Contudo, essas apresentações e essas diferentes práticas culturais que a gente traz para o bar, ela vem muito dessa ideia de que tinha pessoas que chegavam na gente e falavam: “nossa, isso aqui era muito propício para um sambinha no final do dia”, e a gente pensava, hum, realmente essa ideia é muito boa e a gente trazia o samba, as pessoas apareciam e continuávamos. O jazz é a mesma coisa, algumas pessoas falavam: “Nossa, o jazz em dia de semana seria super legal”, também trouxemos essa demanda. Essas apresentações foram aumentando com o tempo, hoje praticamente todos os dias que o bar abre tem uma apresentação aqui no Zé.

Mas no começo era diferente também, tínhamos uma noção mais estática de apresentações, artísticas, musicais, mas com o tempo, por conta dessa demanda, a gente foi trazendo novas pessoas, ideias e temáticas para a noite. Então, temos uma noite que é só do jazz, uma noite que a gente intercala entre o samba e também o chorinho, outra noite é mais brasilidades, em outra a gente faz um forrozinho e de vez em quando tem um brega. A gente foi ouvindo as demandas e trazendo essas pessoas que a gente tinha possibilidade de trazer.

Festa no Zé Latinhas. Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal.

LN: Bia, você comentou um pouco sobre a pandemia e a reabertura dos comércios, mas gostaria de saber como a pandemia afetou o funcionamento do Zé latinhas e quais medidas foram adotadas para lidar com essa situação?

Beatriz Gonçalves: Então, eu acho que, como todo o comércio ligado ao ramo alimentício, o Zé latinhas foi muito afetado pela pandemia. Até porque a gente só funcionava como restaurante e self -service quando começou a pandemia. Então, no começo da pandemia a gente ficou completamente fechado, endividamos muito, muito mesmo, a gente ainda paga essas dívidas referentes aos empréstimos que a gente pegou nessa época para conseguir pagar os funcionários, para pagar as contas que continuavam chegando. 

No começo da pandemia a gente ficou completamente fechado e quando as medidas foram ficando mais brandas a gente foi fazendo essa abertura aos poucos. Foi bem nesse processo que o Auro percebeu que o restaurante não ia conseguir sobreviver se continuasse da forma como era. A gente pensou nessa possibilidade de reavivar, dentro de uma nova perspectiva, de acordo com as medidas que a gente podia ter naquele momento.


LN: Bia, outra coisa que você comentou que o bar está passando por reforma. É isso mesmo? Gostaria de saber o que podemos esperar do futuro para o bar “Zé Latinhas”? Há planos de expansão, novas parcerias e iniciativas?

Beatriz Gonçalves: Estamos passando por reformas já tem um tempinho, estamos fazendo aos poucos até porque precisamos abrir o restaurante enquanto elas ainda estão acontecendo. A maioria das obras é muito ligada à estrutura. O prédio é antigo, estamos aqui desde 67, o prédio é mais antigo que isso ainda, então tem muitas coisas que, por usar um maquinário novo, precisa reformar, reformular para caber o que utilizamos hoje no prédio.

E algumas outras também estão ligadas às demandas que a gente tem no dia a dia, de aumentar a capacidade de venda do caixa, aumentar a capacidade dos banheiros. Enfim, essas questões são importantes para que a gente funcione plenamente, que as pessoas saiam daqui com uma boa experiência. 

Uma expansão de maneira física é meio difícil aqui. O prédio não tem uma possibilidade de crescimento, até porque é uma área muito consolidada da cidade, mas em relação à capacidade que a gente tem para receber pessoas é exatamente esse nosso objetivo, com essas reformas que a gente tem feito. Em relação a novas parcerias e iniciativas, estamos sempre nesse movimento de buscar novas coisas, de trazer mais possibilidades para o espaço e para as pessoas que frequentam aqui. Então, sim, temos muitos planos, tem muitas parcerias que acontecem e estão acontecendo e continuarão a acontecer. Tem algumas coisas, alguns eventos que a gente também já está planejando para um futuro próximo. E é isso, temos muitos planos vindo por aí, muito trabalho.


Para conhecer o Zé:

Por fim, Beatriz finaliza a entrevista convidando e ressaltando a importância do poder público para o Centro: “Gostaria de fazer um convite para quem for ler essa reportagem, para vir para o Centro, mesmo que não venha para o Zé latinhas, vem curtir esse espaço, tem muitas possibilidades, gente fazendo coisa legal, cuidando da gente. Esse espaço precisa das pessoas pra continuar sobrevivendo, e tem muito chão pela frente, e é necessário que as pessoas venham, para que também o poder público veja o que está acontecendo e veja a importância desse espaço”.

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