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Áreas da medicina como a radiologia, medicina diagnóstica e centros cirúrgicos, vem utilizando da tecnologia que cresceu muito nos últimos anos e que é motivo de polêmica e debates éticos, as Inteligências Artificiais.
As IAs são usadas principalmente para auxílio em cirurgias, diagnóstico e prognóstico de patologias, análise de exames de imagem, dentre outros. Em estudos feitos por pesquisadores da NYU Langone Health, divulgados pela Harvard Business Review (HBR), mostram como as Inteligências Artificiais ajudam a evitar complicações em cirurgias assistidas por elas.
Em entrevista feita com a futura médica, Letícia Matos, nesta terça-feira (31), vimos que a medicina alia-se à tecnologia e tende a evoluir cada vez mais. Dessa maneira, trazendo cada vez mais facilidade para procedimentos médicos e tornando o trabalho de profissionais da saúde cada vez mais produtivos. Além de, claro, aliviar a rotina pesada de quem trabalha na área.
LN: Quanto tempo faz desde que iniciou o curso? Como foi durante toda essa caminha?
Letícia: Estou no sexto e último ano do curso. A caminhada é longa! Passei pelo ciclo básico, clínico, enfrentei uma pandemia no meio e agora estou estagiando em vários cenários. Apesar de ainda ser estudante, já consegui ter uma boa ideia de como é a rotina médica.
LN: Durante o curso, já foi citado em aula ou ouviu falar sobre a aplicação das IAs na medicina?
Letícia: O tema nunca foi abordado em aulas. Mas os professores comentam, geralmente com certo receio quanto ao futuro da medicina diante dessas tecnologias.
LN: Quanto à profissão de médico propriamente dita, apesar de existirem várias especializações e áreas distintas, como é majoritariamente a rotina de um médico?
Letícia: A rotina é cansativa. Muitas vezes não existe fim de semana, feriado.. sequer horário de almoço. Muitos médicos dão plantão e trabalham horas seguidas. Isso varia muito de uma especialidade pra outra. Mas independentemente da área de atuação, o médico carrega muita responsabilidade, então acaba que o trabalho é sempre mentalmente exaustivo.
LN: Há estimativas de que essa tecnologia faça análises de imagens com precisão maior que as dos médicos, falando de exames de imagem por exemplo. Em vista disso, acha que a rotina, descrita por você anteriormente, pode mudar?
Letícia: Com certeza. A medicina já mudou muito com o desenvolvimento de novas tecnologias. Por exemplo, antigamente o prontuário era todo manuscrito, você tinha que procurar as fichas dos pacientes manualmente. Hoje na maioria dos lugares, pelo menos em todos os que tive acesso, o trabalho é digital. É muito mais rápido e é mais difícil de ocorrerem erros, como sumiço de prontuário, por exemplo. Acredito que se a IA for adequadamente aplicada, ela pode otimizar muito o trabalho médico. Não só dos médicos, mas de todas as áreas da saúde.
LN: Caso o banco de dados dessas tecnologias inteligentes não for feito de forma responsável, há perigo de surgimento de problemas sociais, como a seleção segregada de pacientes, por cor, etnia ou condição financeira, em filas de espera por exemplo. Com base em sua experiência, acha que as instituições de saúde estão preparadas para aplicações de sistemas como esse?
Letícia: Acredito que não. O Brasil é um país extremamente desigual. Muitos lugares são de difícil acesso, alguns ainda sequer tem acesso à internet. Isso pode tornar a coleta de dados restrita a uma determinada população e comprometer o algoritmo. Além disso, toda nova tecnologia, antes de ser aplicada tem que ser muito bem estudada e testada. Os benefícios tem que comprovadamente superar os riscos. Como eu disse, não cheguei a aprender nada sobre a IA oficialmente na faculdade. Acredito que não haja um consenso sobre o uso da IA na saúde e que o tema ainda seja pouco conhecido na área. Isso dá margem pra erro em sua aplicação, que pode não ocorrer na forma mais segura ou ética.
LN: Podemos dizer que a longo prazo há risco de “desemprego estrutural” nas áreas da saúde por causa das IAs, como por exemplo em áreas como radiologia?
Letícia: Essa é uma preocupação de alguns médicos. Toda IA deve ser supervisionada. No final a interpretação e definição de conduta é do médico e nenhuma tecnologia jamais irá substituir o contato humano. Gosto muito de uma pintura chamada “O doutor”. Nela um médico está a beira leito de uma criança em estado grave, provavelmente acometida por uma doença sem cura e que irá levá-la a óbito. Mas mesmo que nada possa ser feito, o médico permanece lá, ao seu lado, com uma postura de comprometimento que por si só da esperança e alivia o sofrimento. As pessoas não precisam apenas de um diagnóstico, uma receita, o olhar humano é fundamental. Com certeza algumas áreas da medicina vão sofrer bastante influência das IA. O profissional tem que se adaptar às mudanças e utilizá-las em benefício do paciente.
LN: Acha que esse tema deveria ter mais visibilidade, como por exemplo ser ensinado no curso de áreas da saúde em geral, não só na medicina?
Letícia: Sim, as IA tem se desenvolvido com uma velocidade muito rápida e é inevitável que elas acabem sendo englobadas no sistema de saúde.
LN: Como se sente quanto ao futuro da medicina, visando o cenário atual do crescimento exponencial desses sistemas inteligentes?
Letícia: Não me sinto ameaçada, na verdade, acredito que essas tecnologias tem muito a agregar na prática médica. Sei que a medicina ainda irá evoluir e mudar muito ao longo dos anos. Mas como eu disse, nada nunca irá substituir o olhar humano.