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O dia Mundial de Combate a AIDS é celebrado no dia 1° de dezembro. A data foi estabelecida em 1988 pela Organização das Nações Unidas(ONU) e Organização Mundial de Saúde(OMS) após a descoberta do vírus da imunodeficiência humana(HIV) sendo criada como uma forma de união de forças de diversos países para combater a síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS).
Qual a diferença entre o HIV e a AIDS?
Em entrevista dada para o LabNoticias, o Médico Infectologista Marcelo Daher, explicou a diferença entre as duas doenças:
“Apesar do HIV ser o causador da AIDS, eles não são a mesma coisa. O paciente que tem o diagnóstico de HIV positivo, muitas vezes não tem sintomas da doença e quando começam os sintomas, que a gente já chama de doenças definidoras de AIDS, aí sim a gente define que ele está com a AIDS. Então não é a mesma coisa, o modo do exame é igual mas são classificações diferentes para estágios diferentes da mesma infecção pelo vírus HIV.”
Em dados publicados pelo Ministério da Saúde em fevereiro deste ano, mais de um milhão de pessoas no Brasil possuem HIV e somente cerca de 52 mil casos de AIDS foram registrados no país nos últimos 10 anos.
Surgimento da doença
De acordo com o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS(UNIAIDS) o surgimento não é certo, mas sabe-se que ela é uma variante do vírus da imunodeficiência símia(SIV) e o primeiro contágio à humanos foi em meados dos anos de 1930, a partir de sangue infectado durante caçadas. Apesar do surgimento ter sido na década de 30, os primeiros casos foram registrados apenas no final dos anos 70 nos Estados Unidos, Haiti e África Central.
O primeiro caso de AIDS no Brasil foi em 1980, mas a doença ainda não tinha sequer um nome, apenas dois anos depois que a doença foi nomeada como Doença dos 5H ( os H’s significavam, Homossexuais, Homofílicos, Haitianos, Heroinômanos – usuários de heroína, e Hooker – sigla em inglês para profissionais do sexo). Tal nomeação reforçava ainda mais os preconceitos como a homofobia e racismo. Apenas em 1983, que a condição parou de ser referenciada como Doença 5H e passa a ser chamada de HIV/AIDS. Ainda na década de 1980 os primeiros testes foram criados.
Formas de contágio e métodos de prevenção
Durante a chamada Epidemia da AIDS dos anos 80, algumas das formas de contágio foram identificadas, e em nossa entrevista com o Infectologista Dr. Marcelo Daher, ele nos contou quais são todas identificadas atualmente:
“A gente conhece muito bem isso hoje, sabemos que os meios de transmissão do HIV são por via sexual, esse é o meio principal, nós temos o meio de transmissão quando a mãe gravida doente do HIV, não tem o diagnostico e não tem o tratamento adequado, passa a doença para o filho, a chamada transmissão vertical e também a transmissão através do uso de drogas, compartilhando seringas e agulhas.”
Em relação aos métodos de prevenção Marcelo Daher disse:
“Os métodos eficazes de prevenção são; o uso do preservativo, um pré-natal eficaz, o tratamento eficaz da gestante, o tratamento da pessoa doente e as pessoas podem usar como um forma de prevenção um medicamento que a gente chama de Profilaxia Pré Exposição, que é o PREP. Ele é um medicamento diário e com isso vai diminuir muito o risco da pessoa se infectar, isso é para quem não tem a doença, um meio de prevenção muito bom.”
No Brasil, o Ministério da Saúde, além de disponibilizar o PREP, também disponibiliza o medicamento antirretroviral de Profilaxia Pós Exposição, o PEP, como forma de prevenção contra o HIV para uso dentro de até 72 horas após a exposição de risco.
Diagnóstico e tratamento
Desde o ano de 2013, O Conselho Federal de Enfermagem, disponibiliza a realização de testes rápidos de forma gratuita nas Unidades Básicas de Saúde, esses testes detectam não somente o HIV, mas também outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST), como a sífilis e hepatites virais.
Falando sobre o diagnóstico o Infectologista pontua:
“Os sintomas da doença do HIV são muito variados, então não dá para dizer que a pessoa vai ter um sintoma igual as outras. Os sintomas são extremamente variados, cada pessoa reage de uma maneira, cada pessoa pode apresentar um sintoma diferente, por isso que é importante a testagem frequente, principalmente para aquelas pessoas de maior risco, pois não existe um sinal especifico da doença”
Atualmente, ainda não foi encontrada uma cura para a doença, entretanto, existem meios de tratamento gratuitos disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde. Qualquer pessoa diagnosticada com o vírus tem acesso ao tratamento imediato após o diagnóstico. Tratamento este que não apenas garante a não evolução do vírus no organismo da pessoa contaminada, como também evita que essa pessoa possa transmitir a doença para outras.
Pessoas devidamente medicadas mesmo não transmitindo a doença enfrentam preconceitos. Em entrevista realizada pelo LabNoticias com Pedro Henrique (nome fictício, pois a fonte preferiu resguardar sua privacidade) que é soropositivo, disse quais dificuldades enfrenta para dizer abertamente sobre ser portador do HIV
“Enfrento o preconceito na esfera familiar e na profissional, por estigmas ainda presentes na sociedade. As pessoas da minha família que sabem, muitas vezes, têm receio de dividir talheres, por exemplo, ou me acham super frágil, como se tivesse a própria AIDS. No âmbito profissional, indiretamente, sei que sofreria preconceito por conta de conversas que meus colegas de trabalho têm sobre o assunto, infelizmente carregadas de muita desinformação e preconceito. Muitas vezes essas conversas são atreladas ao fanatismo religioso. A dificuldade em dizer que sou soro positivo abertamente é, por muitas vezes, receio de preconceitos que já sofri em momentos que revelei essa intimidade com outra pessoa. Eu seu que, na prática, não preciso falar sobre minha condição positiva a meu parceiro, em meus antigos relacionamentos, mas eu fazia questão de contar para meu namorado, por questão da minha própria índole e para saber se teria ao meu lado alguém com a mente aberta. Fico muito feliz que meu namorado, quando eu contei, mesmo não sabendo muito sobre o assunto, foi bem receptivo e quis aprender comigo, e foi e sempre é super fofo com essas questões.”
Pedro Henrique, falou sobre a importância do Dia Mundial de Combate a AIDS e os debates sobre o assunto:
“É de suma importância para que cada dia mais acabe com o preconceito sobre as pessoas que possuem essa condição em suas vidas, e que não se resumem em um diagnóstico, somos um universo de coisas além dessa condição. Muita parte da responsabilidade da, ainda grande, proliferação do vírus se dá por desinformação propagada por mídias e locais carregados de fanatismo religioso e preconceito.”
Visão de um futuro
Importância do suporte emocional
Muitas pessoas que testam soropositivo se veem desamparadas e sem perspectiva de futuro. Em um estudo realizado pelo periódico científico BMJ Journals, é apontado que pessoas com a doença tem 100 vezes mais chances de cometer suicídio que o restante da população. Muitas vezes não chegam a essa medida extrema, em alguns casos apenas abandonam o tratamento.
O suporte emocional entra como peça chave para a vida das pessoas soropositivas, seja ele por meio da família, amigos, entes queridos, grupos de apoio ou ONG’s(Organizações Não Governamentais). Sobre a questão Pedro Henrique disse:
“O suporte emocional é de muita importância, antes de saber o diagnóstico, tanto depois também, no meu caso eu recebi meu exame e não fui acompanhado pela clínica, e abri meu resultado na faculdade, tive tanto medo de morrer que eu quase tirei minha vida para parar esses sentimentos, tive muito apoio de amizades para entender as coisas e não me desesperar. Minha família ficou arrasada quando descobriram, pois de início tentei levar meu tratamento em segredo, e depois de muita conversa e algumas idas em infectologista para explicar a minha mãe, ela entendeu que eu me cuidando vou ficar bem, sendo que tive a sorte de estar em um momento que temos tratamento grátis e acessível para todos, e por eu ser indetectável, graças a eu ter descoberto e estar tratando direitinho desde o começo. Meu namorado e futuro marido é muito incrível sobre o assunto de suporte, pois ele é meu porto seguro, muitas vezes assistimos séries juntos onde falava da infecção antes de ter tratamento, mostrando pessoas que recebiam sentenças de morte e ouviam preconceitos de todos os lugares, eu me emociono sempre por ter sido sortudo em viver na época que estamos, e muito triste por saber o quanto nossos corpos e vidas foram mutilados por preconceito no início do surto viral. Ele sempre me conforta, me entende e me acolhe nos momentos que fico muito frágil e sensível com esse e outros muitos assuntos, desde o início, mesmo sendo indetectável, tinha receio de o machucar, pois era bastante traumatizado no sentido que eu era uma doença somente, eu sou muito grato por ele me mostrar e me tranquilizar que sou muito mais que isso, que mereço amor e carinho, que ele me ama mesmo com minha condição, assim como eu amo ele muitão, por tudo.“
Além de entes queridos, grupos de apoio e ONG’s são meios muito importantes, para o mantimento da saúde mental de pessoas positivadas. Existem inúmeras comunidades por todo o mundo e pelo Brasil, no Estado de Goiás o Grupo AAVE, que existe desde 1995, presta todo tipo de apoio a essas pessoas. Outros grupos como o perfil HIV Goiás promovem esse tipo de suporte.
Previsões da ONU sobre a doença e situação do Brasil no assunto
Este ano a UNIAIDS publicou um relatório que prevê que se algumas medidas forem tomadas, o HIV deixará de ser um Problema de Saúde Pública Global até o ano de 2030. Dentre as medidas estão os objetivos de:
- Ter 95% das pessoas vivendo com o HIV diagnosticadas;
- Ter 95% dessas pessoas em tratamento antirretroviral;
- Ter 95% dessas em tratamento com a carga viral controlada.
Atualmente os chamados “95-95-95″ foram atingidos apenas pelos países: Botsuana, Essuatíni, Ruanda, a República Unida da Tanzânia e Zimbábue. Na América Latina, o Brasil é o que mais se aproxima desses números, sendo de acordo com a mesma entidade com os percentuais de 88-83-95, respectivamente.
Desde 2017 os avanços contra a doença no Brasil foram consideráveis e visam a cada dia melhorar a qualidade de vida de todos os portadores da doença e prevenir o surgimento de novos casos. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária em parceria com Ministério da Saúde liberou a venda de autotestes rápidos para que o diagnóstico seja mais rápido.
No Brasil os testes rápidos, medicamentos para o tratamento e os meios de prevenção como os preservativos e o PREP são disponibilizados de forma gratuita em Unidades de Saúde. Durante o Dezembro Vermelho, campanhas de conscientização e prevenção são realizadas não apenas nas Unidades de Saúde como em pontos estratégicos, como praças e eventos sociais.
Parabéns pela matéria extremamente importante para a nossa sociedade de hoje!!!! É importante que todos tenham conhecimento sobre esse tema.