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Na intricada teia das questões de saúde pública, a gravidez na adolescência emerge como um desafio complexo e multifacetado. Em um país que segundo o Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc), por hora, nascem 44 crianças de mães de adolescentes, entrevistamos a ginecologista e sexologista clínica, Tattielle Lemos, para aprofundar a compreensão sobre os riscos físicos, impactos psicológicos e as medidas preventivas cruciais relacionadas a essa realidade. Ao explorar as nuances desse fenômeno, buscamos lançar luz sobre as complexidades que permeiam essa questão premente, transcendentemente presente em diferentes estratos sociais.
Repórter (LN): Primeiramente, poderia se apresentar aos leitores do Lab Notícias?
Tattielle Lemos: Sou a Drª Tatielle Lemos, fiz Residência Médica de Ginecologia Obstetrícia na Santa Casa de Goiânia e eu sou pós-graduada pela IBC Med de São Paulo em Sexologia.
(LN): Por que a gravidez na adolescência é uma questão de saúde pública?
Tattielle: Então, a gravidez na adolescência é considerada uma questão de saúde pública devido aos riscos que as adolescentes enfrentam. Trata-se de uma gestação de alto risco, aumentando as chances de prematuridade, anemias significativas, aborto, pré-eclâmpsia e várias outras complicações que podem ocorrer em uma gestação normal. Para uma adolescente, esse risco é ainda maior, uma vez que o corpo não está totalmente preparado para gerar um bebê. Além das questões físicas, há também considerações psicológicas. A adolescente não possui o preparo psicológico necessário para ser mãe, o que impacta tanto a paciente quanto o ambiente familiar como um todo. Isso pode resultar em interferências nos estudos, sendo prejudicial para a adolescente e para a sociedade em geral.
LN: E quais são as principais preocupações médicas associadas à gravidez na adolescência?
Tattielle: As principais preocupações em uma adolescente grávida incluem o fato de ser uma gestação de alto risco. Doenças hipertensivas relacionadas à gravidez são comuns, mesmo que a paciente não seja hipertensa. Além disso, há o risco de desenvolvimento de diabetes gestacional e complicações no parto devido à falta de preparo do canal de parto e estrutura óssea inadequada. Essas complicações podem aumentar a mortalidade materna, sendo motivo de grande preocupação na saúde dessas adolescentes.
LN: Sendo assim, o que podemos dizer sobre o impacto psicológico nessas meninas?
Tattielle: O impacto psicológico é, na minha opinião, o mais significativo. Embora haja mudanças físicas, como estrias e possíveis problemas de peso, o principal desafio é o impacto psicológico. Tornar-se mãe na adolescência implica em mudanças profundas na vida de uma mulher. Mesmo para mulheres mais maduras, como eu, que tive um filho aos 38 anos, a adaptação à maternidade pode ser difícil. A responsabilidade de cuidar de uma criança pode ser avassaladora, alterando completamente a vida da adolescente, que deixa de ser apenas ela mesma para viver em função de outra vida. O impacto psicológico supera, em muitos casos, o impacto físico.
LN: Como elas podem passar pela gestação de maneira saudável?
Tattielle: Após a gestação ter ocorrido, a melhor maneira de promover uma gravidez saudável é adotar hábitos de vida saudáveis. Muitos adolescentes têm uma alimentação inadequada, consumindo alimentos pouco nutritivos e ricos em sódio, o que pode levar a complicações como síndrome hipertensiva da gestação. A orientação é realizar um pré-natal adequado, com acompanhamento médico especializado, e adotar hábitos saudáveis, como alimentação balanceada, prática de atividade física e a abstinência de vícios como álcool, drogas e tabaco.
LN: E quais são as medidas preventivas para reduzir a incidência desses casos?
Tattielle: Para reduzir a incidência, acredito que o diálogo aberto entre pais e filhas é fundamental. Em um mundo onde muitas vezes os adolescentes agem às escondidas de seus pais, é importante que os pais estejam dispostos a conversar abertamente com suas filhas. Recriminações e proibições muitas vezes levam as adolescentes a esconderem suas escolhas. Aconselho os pais a oferecerem orientações e apoio, buscando a ajuda de profissionais de saúde quando necessário. A prevenção deve envolver tanto a conscientização quanto o suporte emocional, proporcionando um ambiente seguro para que as adolescentes possam buscar auxílio sem receios, que pode passar alguma orientação. Então, no meu ponto de vista, a prevenção melhor é o diálogo entre a família e a família elevar para um profissional. A gente sabe que o menor não pode ficar sozinho no consultório, mas eu sempre falo para a mãe que é interessante deixar essa menina um pouco sozinho com a gente, porque às vezes ela quer perguntar alguma coisa, é o direito dela. Então, acho que esse é meu ponto de E claro, o preservativo, o método anticoncepcionais, né?
LN: Tatielle, com base na sua experiência diária, a classe econômica/social dessas adolescentes influencia nesse cenário?
Tattielle: Em relação à classe econômica e social, de fato, observamos uma incidência maior na classe baixa, que possui menos condições de vida. No entanto, isso não exclui as adolescentes de classes mais altas, pois também enfrentam essa situação. Em meu consultório particular, atendo principalmente pacientes de classe média alta, e vejo casos de gravidez na adolescência nesse segmento também. Embora haja uma maior incidência na classe baixa, fatores como abuso também contribuem para o problema, independente da classe social. A falta de estrutura familiar é um aspecto que pode explicar essa prevalência em determinados contextos sociais.
LN: E quanto a reação das famílias? O pai da criança costuma acompanhar a grávida?
Tattielle: Então, geralmente o pai e a mãe da adolescente vai ter uma rebeldia, vai ter um estresse, mas depois eles aceitam com muito amor, porque é uma vida, né? E ali já cria expectativas, você é vovó e tem toda a dificuldade de aceitação inicial, mas como vê que não tem o que fazer agora nós vamos ter que criar a aceitar e acompanhar essa adolescente nas consultas. E com relação ao pai da criança, eu acho que depende muito, depende se é um namorado presente, se eles já tinham uma relação estável, geralmente eles acompanham, sabe? Às vezes a sogra vai acompanhando junto com o pai e a adolescente, né? Então acho que é tudo muito variável, mas infelizmente a. A maioria não tem uma relação estável, foi uma relação sexual desprotegida, então não tem esse acompanhamento. Mas, em alguns casos, a gente vê, sim, o acompanhamento dos pais.