Chuvas intensas revelam impacto das mudanças climáticas: Goiânia sofre consequências das precipitações extremas

Tempestades devastadoras e recorrentes causam transtornos para população goianiense neste início de ano
jan 17, 2024 , ,
Tempo de leitura: 5 min

Fortes chuvas têm assolado o território goiano nos últimos meses, fazendo com que os goianos sofram com a adaptação às bruscas mudanças climáticas e precipitações avassaladoras. Enquanto o ano de 2023 foi eleito “o ano mais quente da história” devido às temperaturas altamente elevadas, o início de 2024 tem sido marcado por tempestades intensas em Goiânia, que causaram graves transtornos à população da Capital.

Gráfico demonstra a elevação das temperaturas médias com o passar dos anos.| Fonte: INMET

A junção de temperaturas extremamente quentes e chuvas descomunais acarretam diversos desastres ambientais como alagamentos, enchentes e desabamentos, interditam as vias de locomoção e, nos piores cenários, fazem vítimas fatais. Parece ‘coisa de filme apocalíptico‘, né? Entretanto, essa tem sido a realidade enfrentada pela população goianiense na primeira quinzena do ano de 2024.

Novo ano, velha preocupação

Ao contrário do que pensa uma considerável parcela da população goianiense, as tempestades ocorridas não são uma novidade e tampouco uma surpresa para os órgãos públicos. Em setembro de 2023, a Prefeitura de Goiânia deu início à preparação de um plano de contingenciamento para possíveis danos causados pelos temporais, devido à previsões, divulgadas pelo Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas (CIMEHGO), de chuvas intensamente atípicas nos meses de janeiro e fevereiro de 2024.

Para a primeira quinzena de 2024, o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) previu chuvas intensas, com volumes maiores que 60 mm, acompanhadas de raios, rajadas de ventos e trovoadas, na Região Centro-Oeste. Já para a segunda metade do mês, há previsão de pancadas de chuvas localmente fortes que devem ultrapassar 90 mm.

De gota em gota, surge uma inundação de problemas

Quando essas tempestades convergem com locais inadequados para habitação, o transtorno torna-se potencialmente maior, apresentando risco à vida dos residentes dessas áreas. A engenheira ambiental e sanitarista, Samara Soares, doutora em Ciências Ambientais pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e técnica ambiental na Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SEMAD), revela que o solo do cerrado goiano não é considerado propício a desastres ambientais como alagamentos, processos erosivos, inundações, etc., portanto, a ação humana é, de fato, o principal fator que corrobora com os desastres ocorridos no território.

“Em relação aos aspectos físicos, como tipo de  solo e declividade, são pouco efetivos para implicar nesses desastres que acontecem em Goiânia.  Majoritariamente, a causa desses desastres é a ação antrópica, como por exemplo:  ocupações desordenadas, principalmente em  áreas de preservação permanente,  aumento da impermeabilização do solo que causa o escoamento superficial e consequentemente as manchas de inundação.”.

A engenheira também apresenta um conceito pouco discutido e ressalta um ponto importante: são as minorias aqueles quem mais sofrem com estas ocorrências; “Todos esses fatores  afetam principalmente a população marginalizada, considerada as minorias sociais como negros e mulheres, conceito ultimamente utilizado como racismo ambiental., destacou.

O geógrafo Manuel Ferreira, professor no Instituto de Estudos Socioambientais (IESA) da Universidade Federal de Goiás, comentou que os desastres poderiam ser evitados, entretanto, estamos passando por condições meteorológicas adversas e as cidades ainda necessitam de uma adaptação. Segundo o especialista, a cidade de Goiânia não estava preparada para receber volumes de chuva tão superiores aos que normalmente eram registrados.

O professor ressalta que, em pouco tempo, estas tempestades podem causar grandes transtornos: “Às vezes concentrado em uma hora de evento, ou meia hora, por exemplo, é capaz de trazer transtornos para cidade, como transbordamentos de córregos e rios, por exemplo, córregos canalizados como o Córrego da Marginal Botafogo, pontos de alagamentos que por uma deficiência no sistema de drenagem normalmente alagavam, mas agora com esse volume de chuva superior, extremos climáticos se repetindo, essas áreas se tornaram mais perigosas, com riscos de transbordamento e risco de causar mortes ou acidentes.”.

O plano de drenagem

O prefeito Rogério Cruz, junto à Universidade Federal de Goiás (UFG), tem elaborado o Plano Diretor de Drenagem Urbana (PDDU), um sistema que coleta as águas da chuva e previne alagamentos e transbordamentos no perímetro de uma cidade. De acordo com o professor Manuel Ferreira, o plano de drenagem é fundamental e eficaz, contudo, não é suficiente para conter os problemas decorrentes das inundações se não unido a outras ações.

Um ponto importante levantado pelo geógrafo foi a ocupação irregular nas margens de rios: “Nós temos todos os nossos canais hidrográficos com ocupação irregular nas margens, isso é um problema sério porque às vezes acabam afetando realmente o fluxo de água, obstruindo a vazão e potencializando o transbordamento. Então a revisão e adequação do sistema de drenagem na capital é uma obra essencial, mas é provável que não consiga evitar todos os problemas porque nós temos uma cidade extremamente impermeabilizada.”.

A engenheira ambiental afirma que Goiânia não possui um Plano efetivo para drenagem urbana: “Ao longo dos anos diversas ações e leis foram criadas tentando melhorar os aspectos da drenagem, mas muitas delas sem conexões, não levando em conta que o sistema é uma bacia hidrográfica e que medidas em um ponto tem implicações em outro. Exemplo, a solução de um problema de inundação num trecho mais acima do córrego, deve criar um novo problema em um trecho mais abaixo. Considerar o sistema como um todo é fundamental, e quantificar o impacto das futuras ações também.”, por fim, conclui que a efetividade do Plano depende não só do governo, para implementar as medidas, como também – e majoritariamente – da população, que é a maior responsável  pela geração do escoamento. Portanto, é essencial entender que o problema é complexo e não tem uma solução mágica, e precisa de esforço e contribuição de todos para resolvê-lo.

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