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Com um mundo tão arraigado por preconceitos e esteriótipos de gênero, o esporte vem sendo um campo de batalha, que a cada dia mostra a luta pela valorização das mulheres. Sabemos o quanto o jornalismo esportivo é um mundo vibrante e apaixonante, mas não é possível negar que é um espaço que ainda domina o preconceito de gênero, apesar das grandes tentativas de inserção e grandes avanços, as mulheres ainda enfrentam obstáculos significativos. Evidentes em processos que vão desde a falta de representação e assédio, até a disparidade salarial.

De acordo com a pesquisa realizada pela Associação para Mulheres no Esporte e na Mídia (AME), apenas 12% das reportagens são produzidas por mulheres, somente 5% exercem cargo de liderança nas grandes editorias de mídia esportiva.

Já em um relatório feito pela União dos Jornalistas (NUJ), as mulheres jornalistas esportivas, podem receber até 25% menos do que os homens que exercem o mesmo cargo.

Além de profissionais mulheres sofrerem constantemente com assédio e comentários sexistas na internet, pesquisa feita pela organização internacional Women in Sport, revelou que 30% das mulheres jornalistas receberam mensagens com conteúdo depreciativo online, em comparação com apenas 8% dos homens.

Conversamos com a Beatriz Monna, exemplo de profissionalismo no jornalismo goiano, repórter e apresentadora na Tv Brasil Central, sobre o amor pela profissão, como surgiu sua paixão e a importância que o futebol teve em sua vida, opiniões à respeito de oportunidades, carreira, futuro e muito mais.

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LN: Então, para conhecer você um pouco melhor, um breve resumo seu, da sua vida acadêmica e profissional e há quantos anos você atua na área do jornalismo esportivo?

BEATRIZ: Sou formada há 4 anos. Me graduei em fevereiro de 2020, na PUC Goiás. E trabalho como jornalista esportiva há dois anos. Trabalho na TV Brasil Central, onde atuo como repórter, produtora, comentarista e apresentadora.

LN: Que legal! Faz um pouco de tudo né, e apenas com dois anos, já cobriu tantos jogos importantes de Goianão e até Sudamericana. Como você descobriu que seu coração estava no esporte e no futebol? No Brasil, que possui um índice muito grande de machismo no esporte, algum momento isso chegou a te impedir de escolher essa área?

BEATRIZ: A minha paixão por futebol vem desde pequena. E isso, graças ao meu pai. Ele sempre fez muita questão de que eu e minha irmã fôssemos ao estádio e assistíssemos aos jogos. Que acompanhássemos, de verdade, sabe? Então, eu cresci nesse ambiente. Tanto é, que as minhas melhores lembranças da infância, são no Serra Dourada. E, hoje, falando sobre isso, eu me sinto muito feliz por ele não ter me afastado desse universo (que até hoje é predominantemente masculino), pelo simples fato de ser mulher. Pelo contrário! Sempre fez questão de me incluir. E a minha paixão veio daí… Quando eu decidi cursar jornalismo, eu sabia que queria atuar na área esportiva. E no começo, durante a graduação, eu procurava estágio na área, para já ir adquirindo experiência. Na universidade, o meu estágio obrigatório foi na área esportiva. Eu estagiei na PUC TV, com a equipe de esportes de lá. E mesmo sabendo das dificuldades que eu enfrentaria nesse meio, nunca pensei em desistir de atuar na área

LN: Mas quais são as barreiras específicas que as mulheres enfrentam ao tentar se tornarem especialistas, você que é comentarista, repórter… já sentiu que foi privada de algum desafio no âmbito esportivo por acharem que você não era capaz?

BEATRIZ: Ah, nós mulheres encontramos alguns desafios nessa área. Existe bastante desconfiança! Por isso, quando eu falo sobre futebol, que eu emito a minha opinião, eu acabo me colocando numa posição de que: eu tenho que me esforçar mais, para provar que eu entendo. Que eu sou capaz e digna de estar onde eu estou. E nas transmissões, como repórter, eu me cobro ao máximo para não errar, porque eu sei o quanto é fácil pensarem: “é mulher…” Ter que ficar se provando, se reafirmando, se esforçando o dobro, para mostrar que eu tenho o mesmo conhecimento e capacidade de um homem que também gosta de futebol… Nunca fui privada de nenhum desafio profissional na área. E eu sou muito grata por isso! Mas eu sinto que já houve desconfiança sobre a eficácia do meu trabalho.

LN: E de que forma você acha que a mídia, seja ela a TBC ou qualquer outra, e às instituições esportivas, como a FGF ou a CBF, podem promover a igualdade de gênero e suporte às profissionais mulheres?

BEATRIZ : Dando mais oportunidades! A realidade do futebol sempre esteve muito distante para as mulheres. Esse ambiente foi naturalizado como masculino desde sempre. Mas, hoje, com uma abertura significativa para nós, que estamos cada vez mais ocupando o nosso espaço. A gente está vendo com mais frequência rostos femininos nas transmissões de futebol, nos estádios, nos programas esportivos… E é assim que deve ser. Colocar mulheres que atuam na área à frente de debates importantes, na cobertura de eventos esportivos importantes…

LN: Para finalizar, queria saber qual a sua inspiração no jornalismo esportivo, hoje em dia temos Renata Silveira, da TV GLOBO sendo a primeira mulher a narrar uma partida de copa do mundo masculina, e temos a grande Thais Freitas, um símbolo goiano no jornalismo. Quem foi sua referência? E quais sãos suas projeções de futuro no esporte?

BEATRIZ: Também me inspiro muito na Ana Thaís, na Gabriela Ribeiro e na Tati Mantovani. São grandes referências para mim! Para o futuro, eu espero construir um legado bonito na profissão. Honrar o que eu acredito dentro do jornalismo esportivo, ser referência no que eu faço e conquistar ainda mais o meu espaço.

A valorização da mulher caminha cada dia mais em direção à tempos melhores, em 2024, já percebemos o quanto o número aumentou em todas as áreas do jornalismo esportivo. Um problema complexo com preconceitos estruturais enraizados na sociedade, mas é somente através do enfrentamento do problema e com maior reconhecimento da mídia e instituições, que veremos melhorias.

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