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A intolerância religiosa é um problema complexo que envolve uma série de fatores históricos, culturais, sociais e políticos. Historicamente, o Brasil é marcado pela diversidade religiosa, com uma mistura de crenças e práticas que remontam aos povos indígenas, africanos, europeus e asiáticos. Apesar dessa diversidade, os casos de intolerância vem obtendo uma crescente e manifestando-se de diversas formas. O registro de denúncias feitas ao Disque 100, um serviço do governo federal, cresceu, sobretudo após 2021. Também aumentaram as violações, que são os diversos tipos de violência relatados.

Em 2018, foram registradas 615 denúncias de intolerância religiosa no Brasil. O número saltou para 1.418 em 2023, um aumento de 140,3%. Já o número de violações passou, no mesmo período, de 624 para 2.124, um salto de 240,3%. Entre 2022 e 2023, o aumento das denúncias foi de 64,5% e, o de violações, de 80,7%.

Diante desse cenário, conversamos com Giovanni Soares, um praticante de religião de matriz africana, que enfrenta essas situações frequentemente.

LN: Como você descreveria a sua experiência pessoal com a intolerância religiosa no Brasil?

GS: Bom, eu frequento a religião de matriz africana, a Umbanda, conhecida por todos como uma religião que combina o catolicismo com o espiritismo. Eu pratico há 3 anos, já passei por duas casas espíritas e nesse meio tempo presenciei vários momentos de intolerância religiosa. As pessoas tentam distorcer o que a gente acredita e nos fazem pensar que estamos fazendo algo errado, o que acaba mexendo muito com o nosso psicológico. É bastante complicado.

LN: Você fala sobre como essas situações acabam envolvendo muito o psicológico. Como isso te afetou na vida pessoal, emocional e social?

GS: Quando eu me vi em uma religião de matriz africana, fiquei com muito medo de contar para todos. Porque eu tinha colegas que eram de outras religiões que não concordavam com a minha. E eu me lembro que fui para a escola e eles começaram a praticar bullying. De certa forma, afetando a minha religião. Falavam coisas como “Ah, vamos chamar Zé Pilintra aqui dentro da sala”. E isso fez eu me isolar de qualquer tipo de amizade. Emocionalmente, eu ficava muito abalado, porque eu não conseguia me socializar com outras pessoas. Eu fui procurar ajuda psicológica, conversava muito com a minha psicóloga. Ela falava assim: “Mas você sabe que a sua religião é a sua religião, que isso vai acontecer e você tem que saber lidar”. E sim, hoje em dia eu sei lidar com a intolerância religiosa, mas não com discurso de ódio, nem nada. Eu sempre procuro responder mostrando a minha fé para os outros.

LN: Quais são suas maiores preocupações e medos em relação à intolerância?

GS: Eu acredito que um dos meus maiores medos é entrar dentro do ônibus com a minha guia de proteção e saber que posso sair vivo de casa, mas não voltar. Ou sair para ir para o terreiro com roupa branca e saber que essa roupa pode voltar manchada de sangue por algum motivo, uma agressão. Sempre há pessoas maldosas que vão querer agredir, ou até fazer coisas mais graves. Eu já vi pessoas morrerem por causa da intolerância religiosa. Assim que saio de casa para demonstrar meu ato de fé, esse é um dos meus maiores medos.

LN: Como você acha que a intolerância impactou suas crenças e práticas religiosas?

GS: Uma das nossas práticas é acender velas e fazer oferendas para que a entidade se sinta bem e cuide e preserve da gente. Eu tinha muito receio de comprar velas no supermercado ou entrar em uma loja de artigos religiosos, sair com alguma coisa e as pessoas ficarem julgando. Porque a gente sente o olhar, na maioria das vezes, de repúdio, e também, é possível ouvir murmúrios. Isso acaba incomodando muito também.

LN: Como você acredita que a sociedade, em geral, pode melhorar sua resposta à essa situação?

GS: A melhor forma é conhecer novos ambientes, novas religiões e sair um pouco daquilo que foi escrito. Deve estar aberto a conhecer e compreender outras religiões. Muitas delas compartilham valores fundamentais de amor, compaixão e busca por uma conexão com algo maior. As pessoas precisam entender que não existe religião errada, apenas crenças diferentes.

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