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A família tem a função de complementar a formação do indivíduo, pois são os responsáveis diretos por ele. No entanto, a função de educar, de fornecer a educação formal é responsabilidade da escola, ou seja, ambas são responsáveis pela formação cognitiva, afetiva, social e da personalidade das crianças e adolescentes.
Para tratar melhor sobre esse tema o presidente da Academia de Aparecidence de Letras, e consultor da editora FTD, Rafael Albuquerque, concedeu entrevista ao Lab Notícias.
LN: Até onde os pais devem interagir com a atividade escolar? Porque me parece que para os pais ter que reensinar o que o filho aprendeu na escola, tem um déficit ali de educação ou não?
RAFAEL: É um assunto muito delicado porque todo pai é pedagogo, não é? Todo pai tem o dom do ensino. Quando eu digo pai, família, né? Quando a gente fala sobre educação e escolarização, que são duas coisas que se completam, não é a mesma coisa. Educação é uma coisa, escolarização é outra. A escola é que ajuda a educação do filho, ajuda a família, não é a família que ajuda a escola. Existem certos temas que são delicados, a gente teve grandes problemas, principalmente na pandemia e pós-pandemia, principalmente por causa da polarização política que a gente vive e de alguns temas que não deveriam ser colocados na escola, eu fiz até uma enquete no meu Instagram, sobre assuntos que são um pouco mais delicados da escola falar.
LN: Qual foi a mais votada?
RAFAEL: Foram duas, foi sexo e sexualidade. Mas não há propósito de que não se deve falar sobre isso na escola. E tem muitos pais que estão ali também e que os pais querem esse tipo de ajuda porque não sabem como abordar isso com o filho, sobre sexo e sexualidade. Mas a gente precisa falar isso com os nossos filhos até para que o respeito se prevaleça em todas as situações. Então não foram professores só que me pediram esse tipo de assunto. Os pais também me pediram quero falar sobre isso com meu filho. Como que eu falo? Como fazer? É porque aí fica parecendo que é uma transferência de obrigações.
Porque a escola tem obrigação de escolarização. Esse é o ponto da escola. Só que segundo o ECA, que é o Estatuto da Criança Adolescente, todo adulto é responsável por todas as crianças. Esse adulto normalmente é um professor dentro de uma escola. Então, quando a gente fala que certos assuntos não podem ser feitos, não é assim, não é assim. Alguém tem que falar. Se a família não está falando, precisa ser a escola, porque senão, como é que vai ser esse adulto?
LN: É porque eu acho que o grande problema da discussão é quando você pensa em educação como um meio político, né? E aí entra numa discussão política do tipo, meu pai, ele é contra a discussão do sexo na escola. E o outro pai fala, não, meu pai é a favor. O que ensinar nesse caso?
RAFAEL: Nós estamos politizando coisas que não precisavam ser politizadas, sabe? Quando a gente fala sobre sexo e sexualidade, muita gente já fala assim, ah, esse pessoal da esquerda. Espera aí, por que que a esquerda falaria sobre isso e a direita não? “Ah, a gente vai falar sobre respeito à diversidade. Isso é a pauta da esquerda”. Por que isso é pauta da esquerda? Isso não é pauta da esquerda. Esquerda é uma questão política e social. É triste a gente saber que muita coisa está sendo levada para política sem a necessidade. Todo mundo precisa falar sobre esses assuntos. Pessoal da esquerda e pessoal da direita. Não adianta falar que isso é assunto que a esquerda fala. Por que é assunto que a esquerda fala? Por que a direita não fala? A direita precisa falar também. São assuntos que permanecem para a formação do cidadão.
LN: Os pais podem entrar para discutir uma pauta? Qual que é a função do pai nessa discussão.?
RAFAEL: Vamos lá. Dana White uma vez falou o seguinte: eu não sei o segredo do sucesso, mas o segredo do fracasso é tentar agradar todo mundo, então por que o pai não deve entrar na escola e saber que pauta vai ser colocada na escola? Porque o pai não estava na discussão da BNCC. O pai às vezes não é professor, muitas vezes ele não é professor. Então o pai ele é advogado, ele é médico, ele é engenheiro: ele tem que acreditar na escola, ele tem que confiar naquele processo. Se você não confia naquele processo daquela escola, troca de escola. Por quê? Porque a escola tem o seu plano político pedagógico. Então cada escola tem o seu. Se você coloca seu filho numa escola militar, você espera que tenha uma educação daquela forma. Se você coloca o seu filho numa escola religiosa, você vai esperar uma educação daquele tipo. Se for uma escola leiga, vai ser de uma formação leiga. Então confia na escola. Você colocou seu filho nessa escola por um motivo. Confie. Confie no processo.
LN: Comunicação efetiva com os filhos, as crianças saem de casa com aquela construção familiar do que pode, o que não pode, e chega na escola e se depara com outra criança que é criada de uma forma completamente diferente, né? E é difícil você também ensinar que todo mundo tem uma criação, né? Você dizer pro seu filho aqui, filho, a gente respeita qualquer gênero e sexualidade, e ele chega na escola e se depara com um grupo que não respeita, né? Ser diferente na escola é um grande problema né? Até pra você ser um pai que ensina valores humanos pro seu filho e ele chegar num lugar que a maioria não respeita, é um problema, né?
RAFAEL: É um problema gravíssimo, sabe? Por isso que todo mundo tem que se juntar nessa questão. O respeito tem que ser servido junto com arroz e feijão no almoço. Porque quando você conversa com seu filho sobre vários assuntos. vale lembrar que muitos pais que são contra a gente falar sobre certos temas na escola e não falam em casa. Eles dizem que isso é um tema para se debater em casa e não o fazem. Então como e quando a criança vai aprender? Quando ela descobrir que existem outras formas de pensar como é que vai ser? Já vai ser na lata, vai já vai ser conhecendo mesmo. Então o interessante é o pai conversar sobre tudo. Quando digo pai, não vamos colocar a figura paterna não, vamos colocar a família responsável pela escola, mais exatamente, pela criança. Então é importante a gente conversar sobre tudo. Qual é a nossa função de professor e a função de família? A gente precisa fazer com que aquela criança se torne um ser autônomo. Como que a gente vai fazer um ser que pensa por si só se ele não souber tudo que está ao seu redor? Ele precisa ter certas responsabilidades que a vida adulta vai cobrar dele uma hora, né? A vida adulta bate forte. Então, o aluno precisa estar preparado pra receber essas pancadas. Então, e outra coisa, o pai vai ficar segurando a mão do filho até quando? Até quando ele faltar? E quando ele faltar, como é que vai ser essa criança? Então, o filho precisa ter responsabilidade. A primeira responsabilidade do filho é a tarefa de casa. Ele ali com três, quatro, cinco aninhos, a primeira responsabilidade dele é essa, é a tarefa de casa.