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Rikelme Silva dos Santos
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A inclusão das mulheres na política tem sido cada vez mais recorrente em nosso país: de acordo com o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), as mulheres constituem a maioria do eleitorado, ou seja, apresentam maior número entre os cidadãos que vão às urnas votar. Entretanto, apesar de serem maioria do eleitorado, vemos que o número de mulheres que se candidatam é inferior a 34% do número de candidatos das eleições, representando apenas 33,55% das candidaturas. 

O LN entrou em contato com a vereadora Sandra Gadia, vereadora no município de Inhumas-Go, Sandra é a única integrante feminina da Câmara Legislativa Municipal da cidade, sendo a candidata mais votada entre todos os candidatos, com 1.104 votos. Sandra Gadia formou-se em Assistência Social pela PUC-Goiás, e se especializou em Gestão Pública Municipal pela Universidade Estadual de Goiás (UEG).

Durante a vida, ela atuou como assistente social antes de se eleger nas eleições municipais de 2020. Sandra concedeu entrevista ao LN e contou sua trajetória como vereadora, além de falar sobre as dificuldades enfrentadas pelas mulheres dentro do parlamento.

Reprodução/Arquivo Pessoal

LN – Quais são alguns desafios enfrentados pelas mulheres ao ingressar na política no Brasil?

Sandra Gadia – “Bom dia, um dos principais obstáculos é a sub-representação, onde as mulheres ocupam significativamente menos cargos políticos do que os homens. Isso é agravado por uma cultura machista que perpetua a discriminação e o sexismo, muitas vezes resultando em violência política de gênero”. 

LN – Como o sistema de cotas para mulheres impacta a participação feminina na política brasileira? 

Sandra Gadia – “Essas medidas buscam corrigir a sub-representação histórica das mulheres na política e garantir uma participação mais equitativa nos processos eleitorais. Assim, ao reservar um número mínimo de vagas para candidaturas femininas, o sistema de cotas estimula os partidos políticos a recrutarem e apoiarem mulheres candidatas, aumentando assim a presença feminina nos cargos eletivos. Como resultado, observa-se um aumento gradual da participação das mulheres na política brasileira ao longo dos anos, especialmente em cargos legislativos, como deputados federais, estaduais e vereadores. Embora ainda haja um longo caminho a percorrer para alcançar a igualdade de gênero na representação política, o sistema de cotas tem sido fundamental para criar oportunidades e incentivar as mulheres a se candidatarem e a participarem ativamente da vida política do país”.

LN – Além das cotas eleitorais, quais são outras formas de incentivar a participação feminina na política? 

Sandra Gadia – “Campanhas de conscientização e educação são fundamentais para informar a população feminina sobre seus direitos políticos e destacar a importância de sua presença na esfera política. Essas campanhas podem ajudar a desmistificar o processo político e encorajar mais mulheres a se envolverem. Programas de capacitação política específicos para mulheres também desempenham um papel crucial. Ao fornecer treinamento em habilidades de liderança, comunicação e gestão de campanhas, esses programas ajudam as mulheres a se prepararem melhor para concorrer a cargos eletivos e desempenhar papéis ativos na política. O apoio financeiro é outro aspecto importante. Iniciativas que oferecem financiamento público de campanha, bolsas de estudo para candidatas ou oportunidades de microfinanciamento podem ajudar a superar as barreiras financeiras que muitas mulheres enfrentam ao ingressar na política. Além disso, programas de mentoria e redes de apoio entre mulheres políticas experientes e novatas podem fornecer orientação, suporte e oportunidades de networking para as candidatas. Isso ajuda a construir uma comunidade solidária e capacitada de mulheres na política”.

LN – Quais são os resultados alcançados até o momento pelas políticas de incentivo à participação das mulheres na política? 

Sandra Gadia – “Segundo dados divulgados pelo Tribunal Regional Eleitoral de Goiás, O número de mulheres que se candidataram nas eleições de 2020 é o maior das últimas três eleições gerais. A participação feminina, em porcentagem, também é maior em 2022 na comparação com 2018 e com 2014, sendo contabilizado 33,3% de participação. Ainda segundo o TRE, o número de cidades que nunca elegeram mulheres vereadoras diminuiu em 58,82% nas duas últimas eleições. Além disso, o número de mulheres que tentaram ser reeleitas em prefeituras municipais também cresceu: um aumento de 90 pontos percentuais em 2020 se comparado ao número de 2004. Vereadoras, prefeitas e vice-prefeitas que tentam a reeleição sempre estiveram, proporcionalmente, em menor quantidade se comparadas aos homens”. 

LN – Quais são os avanços e as conquistas na participação das mulheres na política brasileira nos últimos anos?

Sandra Gadia – “Nos últimos anos, a participação das mulheres na política brasileira tem registrado avanços importantes, refletindo um movimento em direção à igualdade de gênero e à representação mais equitativa nos espaços de poder. Um dos marcos mais significativos foi a implementação de cotas de gênero para as eleições, que garantem uma representação mínima de mulheres nas listas de candidatos, contribuindo para aumentar sua presença nos cargos eletivos. Além disso, tem-se observado um aumento gradual do número de mulheres eleitas para cargos políticos em todos os níveis de governo, incluindo deputadas federais, senadoras, deputadas estaduais e vereadoras. Paralelamente, mulheres têm ocupado posições de destaque e liderança dentro dos partidos políticos, instituições governamentais e organizações da sociedade civil, assumindo presidências de partidos, cargos ministeriais e presidências da República em níveis estaduais e municipais. A atuação das mulheres políticas em pautas relacionadas aos direitos das mulheres e à igualdade de gênero também tem sido significativa. Elas têm sido defensoras de políticas públicas voltadas para questões como violência doméstica, igualdade salarial, saúde reprodutiva e participação feminina no mercado de trabalho”.

LN – Sandra, para finalizarmos, que conselhos você daria para mulheres que desejam ingressar na política atualmente?

Sandra Gadia – Primeiramente, é essencial entender suas próprias motivações e refletir sobre quais questões e problemas em sua comunidade a motivaram a entrar na política. Além disso, buscar conhecimento sobre os processos políticos e as questões relevantes para a comunidade é fundamental para estar preparada para o papel de vereadora. Manter a autenticidade e a transparência em suas interações com os eleitores é essencial para construir confiança e credibilidade. Trabalhar em colaboração com outros vereadores e líderes comunitários para encontrar soluções para os desafios enfrentados pela comunidade é fundamental. Persistir e manter-se resiliente diante dos obstáculos é crucial para o sucesso político. E, por fim, não ter medo de assumir uma posição de liderança e defender suas convicções com determinação é essencial para ser uma voz forte para a comunidade.

De acordo com estudo coordenado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e pela ONU Mulheres, com o apoio da organização IDEA Internacional, o Brasil é um dos últimos países na América Latina em relação aos direitos e representação feminina, ficando em 9º lugar entre onze países.

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