Por que não há mais pilotos brasileiros na Fórmula 1?

O Brasil está presente na Fórmula 1 desde a década de 1960, então a falta de brasileiros na categoria não é por ausência de talentos
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Foto: Instagram- gabrielbortoleto_

Três décadas após a morte de Ayrton Senna, ainda há dificuldades para os brasileiros estarem presentes na Fórmula 1. Durante as homenagens ao maior piloto brasileiro da categoria, muitos fãs questionaram por que não há brasileiros no esporte.

O Brasil está presente na Fórmula 1 desde a década de 1960, então a falta de brasileiros na categoria não é por ausência de talentos. No entanto, a estrutura do automobilismo nacional e mundial torna o acesso ao esporte algo distante.

Um dos países mais tradicionais da Fórmula 1, com oito títulos mundiais, o Brasil está fora do grid desde que Felipe Massa se aposentou da categoria em 2017. O Brasil nunca deixou de formar pilotos de alto nível técnico, alguns deles com potencial para conquistar o Campeonato Mundial, como ocorreu com Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet e Ayrton Senna.

Hoje, os nomes mais próximos da F1 são Felipe Drugovich, que atua como piloto de testes da Aston Martin, e Gabriel Bortoleto, que faz parte da academia de pilotos da McLaren na Fórmula 2.

Então, quais são as razões para não termos um piloto brasileiro na Fórmula 1?

Falta de talento?

Com apenas 10 equipes e 20 vagas na Fórmula 1 atual, conquistar um lugar na categoria não é uma tarefa fácil. Em entrevista ao Show do Esporte, em 2023, o antigo chefe da equipe Haas, Gunther Steiner, explicou os principais motivos para o Brasil não ter mais um piloto na Fórmula 1:

“Chegar à Fórmula 1 hoje é muito difícil. Você precisa ter muito talento e uma carreira muito boa na F3 e F2. Só há 20 lugares na principal categoria do automobilismo mundial, e esse é o maior problema. Outra coisa que as pessoas não percebem é que você precisa estar na hora certa, no lugar certo. Você pode ser muito bom, mas se não houver uma vaga, você não entra de jeito nenhum. Se o piloto fica dois ou três anos sem pilotar, as pessoas esquecem o quão bom ele é. Por isso não temos mais pilotos brasileiros na Fórmula 1.”

Falta de investimento

Um dos grandes problemas para os brasileiros participarem do esporte é o altíssimo custo para ter um carro, competir, se manter e crescer nas categorias, desde o kart, passando pela Fórmula 4, F3 e F2, até chegar à Fórmula 1. Isso se agrava com os carros sendo cada vez mais modernos e avançados.

Outro fator que dificultou a chegada de brasileiros à Fórmula 1 foi a alta do dólar. Se esse investimento já era alto – especialmente sem a ajuda de patrocínios –, a desvalorização do real complicou ainda mais. Desde o fim da Fórmula Futuro, em 2012, até o surgimento da Fórmula 4, em 2022, o Brasil não teve uma categoria de base capaz de preparar jovens talentos oriundos do kart.

Uma das opções para os pilotos com recursos era competir na Europa. Aqueles sem esse poder de investimento optavam pela Stock Car ou simplesmente abandonavam o sonho.

Tudo isso está relacionado à ineficiência de gestões anteriores da Confederação Brasileira de Automobilismo, além de ser uma questão de mercado: montadoras como Ford, Fiat, Renault e Chevrolet, que já organizaram suas próprias categorias, mudaram o foco dos investimentos.

Durante uma entrevista, o ex-piloto Felipe Massa comentou ao Brazil Journal o que é necessário para chegar na categoria: “Para chegar à Fórmula 1, é preciso de várias coisas. A mais importante, no começo, é o talento. Sem isso, não dá para avançar. Depois, é necessário ter categorias de base, e o Brasil sofreu muito com isso nos últimos anos. A base é muito importante para preparar o piloto. Hoje em dia, temos a Fórmula 4, que é recente e está evoluindo, mas ainda está um nível abaixo da Europa”.

O orçamento de uma equipe de Fórmula 1 na temporada de 2022 foi de 140 milhões de dólares (cerca de R$ 691 milhões), um teto definido por regulamento. Equipes de segunda e terceira linhas costumam “leiloar” vagas para jovens pilotos que trazem bons patrocinadores.

Não é segredo que muitas equipes dependem de patrocínios trazidos pelos pilotos para sobreviver e serem competitivas. O brasileiro Felipe Nasr, por exemplo, perdeu seu lugar na Sauber após não conseguir manter o patrocínio do Banco do Brasil.

Um exemplo no grid é o canadense Lance Stroll, cujo pai, Lawrence Stroll, dono de uma fortuna estimada em US$ 3,8 bilhões, comprou uma equipe para que o filho corresse. A Force India foi rebatizada como Racing Point e depois como Aston Martin. Atualmente, é a quinta colocada no Mundial de Construtores.

Dessa forma, pilotos pagantes ocupam assentos em uma categoria já altamente disputada. Entre as vagas disponíveis, estão os “rookies” (novatos) e os pilotos já no grid, que garantem certa vantagem por sua experiência.

O incentivo financeiro é determinante para a entrada dos “rookies”. Não é à toa que a categoria é conhecida pelo lema “Cash is king” (“O dinheiro manda”), termo popularizado na série da Netflix Drive to Survive.

O esporte não é conhecido por sua receptividade. Sendo o ponto mais alto do automobilismo, a Fórmula 1 é o objetivo maior da carreira dos pilotos.

“Acredito que estamos em um momento em que isso aqui se tornou um clube dos meninos bilionários”, disse Lewis Hamilton em entrevista ao jornal espanhol AS no ano passado.

Falta de cobertura e infraestrutura

A Fórmula 1 depende de promoção. No Brasil, há uma falta de cobertura da mídia quando não há brasileiros na categoria principal. Em parte, isso se deve ao aspecto cultural, já que o foco do país está no futebol.

Outra limitação é a concentração de pistas no Brasil, que se dá basicamente no Sul e no Sudeste, restringindo o acesso daqueles que sonham em seguir carreira no automobilismo. Em entrevista à Agência Brasil, o presidente da Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA), Giovanni Guerra, destacou a importância do investimento no kart para o desenvolvimento de talentos no país:

“Temos no Brasil kartódromos públicos e privados construídos de acordo com a vontade política e/ou recursos financeiros de cada local. Posso assegurar que há pilotos em todos os cantos do país. O que falta é impulsionar campeonatos em cada região para os pilotos locais terem oportunidade de competir e se desenvolver.”

Haverá um brasileiro na Fórmula 1 em 2025?

Foto: Instagram- gabrielbortoleto_

Ainda restam duas vagas a serem ocupadas na Fórmula 1 em 2025. Red Bull e Sauber ainda não confirmaram suas duplas para a próxima temporada. Algumas promessas da Fórmula 2 estão entre os cotados para essas vagas. Entre os jovens pilotos, está o brasileiro Gabriel Bortoleto, especulado na Sauber.

Gabriel Bortoleto, que pilota pela Invicta Racing e faz parte da academia da McLaren, é o segundo colocado na categoria, atrás apenas de Isack Hadjar. Ele foi especulado na Sauber para 2025, mas os rumores ainda não foram confirmados.

Após vencer em Monza saindo da última posição, Gabriel foi novamente especulado na Sauber para a próxima temporada. Segundo o site italiano Formu1a Uno, o brasileiro de 19 anos teria sido incluído na “lista” de Mattia Binotto, chefe da equipe, que estaria focando em jovens pilotos.

O questionamento que fica é: não existe uma preocupação em ver novamente o verde e amarelo subindo ao pódio ao som do hino nacional? Se os jovens talentos brasileiros tivessem mais investimento, talvez o Brasil já seria o número um no ranking de países com mais títulos mundiais. Ayrton Senna, considerado por muitos ao redor do mundo como o maior piloto de todos os tempos, não tem um sucessor atualmente. O país do futebol, que dedicou um título da Copa do Mundo à memória do ex-piloto, ainda sonha em ouvir o clássico hino da vitória ao final da última volta.

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