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O ambiente político brasileiro em 2024 foi tomado por um preocupante aumento da violência, principalmente contra lideranças e candidatos. Um exemplo significativo foi a agressão de José Luiz Datena (PSDB) contra Pablo Marçal (PRTB) no debate promovido pela TV Cultura em 15 de novembro.

Segundo um levantamento realizado pelo Observatório da Violência Política Eleitoral (OVPE) criado recentemente, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), o número de atos violentos contra lideranças políticas aumentou em mais de 100% entre os meses de abril e junho, em comparação com o mesmo período no último ciclo eleitoral. Em todo o Brasil, foram registrados 128 casos, incluindo boicotes,agressões físicas, ameaças e homicídios.

Os dados destacam um cenário de insegurança, que ameaça não apenas as lideranças políticas, mas a própria democracia. 

Reprodução: Ana Clara Moscatelli

Onda de violência choca eleitores e políticos     

O LN conversou com políticos e eleitores para entender como essa escalada de violência está afetando a participação democrática e o cenário eleitoral. Entre os entrevistados, está a vereadora Sandra Gadia, a única mulher eleita na Câmara Municipal de Inhumas (GO) e a mais bem votada nas últimas eleições na cidade. Sandra relata, com grande descontentamento, ter sofrido violência política repetidamente, sendo impedida de trocar de partido e recebendo um boicote ao concorrer à presidência da Câmara Municipal, mesmo com seu forte respaldo popular. “Infelizmente, ser a única mulher eleita e a mais bem votada não garantiu respeito. Pelo contrário, fui alvo de impedimentos e boicotes constantes, o que mostra que a violência política vai muito além das agressões físicas, ela busca silenciar e deslegitimar quem ocupa lugares que, pela história, não eram permitidos para nós”, afirmou a vereadora com um tom de decepção. 

Outro caso é o da eleitora e professora Nara Núbia, muito conhecida na cidade de Inhumas por seu engajamento político e atuação na educação, a professora também passou a ser alvo de uma campanha de violência e intimidação. Durante os últimos meses, ela recebeu ataques diretos e ameaças que ultrapassaram o espaço profissional, atingindo também sua vida pessoal. Para Nara, o impacto psicológico foi devastador.

“Receber essas mensagens de ódio é assustador. Eles me chamavam de ‘puta’ e ‘prostituta’, tentando desqualificar quem eu sou e tudo que defendo”, conta, com a voz embargada. “Não pararam por aí, usaram o nome dos meus familiares para me chantagear, insinuando que algo poderia acontecer com eles se eu continuasse a falar e me posicionar abertamente sobre política.”

Ela descreve o sentimento de impotência e medo que tomou conta de sua rotina, mas também a determinação de não se deixar calar. “Esses ataques não afetam apenas a mim; eles ferem quem eu amo, principalmente meu filho. Dói profundamente, mas não vou me esconder. É assustador ver a que ponto pode chegar a intolerância, mas eu serei a resistência”, afirma Nara, emocionada.

O caso da professora revela um lado sombrio da violência política, que busca destruir a identidade e a coragem de quem ousa se manifestar publicamente. “Nunca pensei que algo assim pudesse acontecer comigo. Você sempre acha que a violência é distante, que é coisa que só se vê na TV,até que se torna parte da sua vida”, desabafou.

TSE e Lideranças condenam a violência no cenário eleitoral

Diante desse cenário, em um discurso realizado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no dia 26 de setembro, a Ministra do Supremo Tribunal Federal do Brasil, Cármen Lúcia, condenou enfaticamente a escalada da violência e alertou para o que chamou de “retrocesso civilizatório”. A ministra também cobrou ações efetivas por parte da Polícia Federal e dos Tribunais regionais eleitorais (TREs) para garantir a segurança e a integridade das eleições. 

“ A violência praticada no processo eleitoral não desrespeita apenas o agredido, mas a toda sociedade e a própria democracia” afirmou Cármen Lúcia. “Política não é violência, é a superação da violência”, concluiu, destacando que a agressão contra uma liderança política fere a cidadania de todo o eleitorado.

Até o final do primeiro semestre de 2024, o Brasil já havia registrado mais de 220 episódios de violência eleitoral, dos quais 43 resultaram em assassinatos de políticos e seus familiares, no entanto, os números continuaram a subir no segundo semestre, e até o dia 16 de setembro, o OVPE  já havia documentado 455 novos casos de agressão, incluindo episódios de violência física,verbal e psicológica .

Observatório de Violência Política : uma nova esperança  

Enquanto o Observatório contra a Violência Política surge como uma esperança para monitorar e reduzir os casos de hostilização, a ministra Cármem Lúcia alerta que apenas medidas punitivas não serão suficientes. De acordo com ela, é necessário um esforço conjunto de toda a sociedade, envolvendo órgãos públicos, partidos políticos e a população, para resgatar o respeito e a civilidade no debate público.

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