Previsão de chuvas acende alerta para doenças animais

'No final ano a gente se preocupa muito, porque temos um aumento no número de diagnósticos dessas doenças nesse período,com o aumento das chuvas' Diz Brenda Reis, médica veterinária
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Goiânia e região tem previsão de chuva para os próximos 15 dias, o que gera a expectativa do início do período chuvoso, depois de um longo tempo de seca. Mas para os tutores de pets é necessário preparação. Brenda Reis, médica veterinária, que faz atendimentos em uma clínica em Aparecida de Goiânia, nos disse que além da preocupação com trovões, raios e relâmpagos, que podem assustar ou até mesmo levar o animal a se ferir, doenças como Parvovirose, Cinomose e Leptospirose tem maior chance de propagação.

“No final do ano, a gente se preocupa muito, porque nós temos um aumento no número de diagnósticos dessas doenças nesse período, com o aumento das chuvas”

Brenda Reis, Médica Veterinária

Ela nos explica que no caso do parvo vírus, depois que um animal apresenta a doença é necessário fazer a limpeza e descontaminação da residência, que muitas vezes não é realizada e quando chove, a água lava o local onde o animal, que pode ter ido a óbito estava, carregando o vírus até a rua ou outras residências, onde outros animais entrarão em contato com essa água contaminada e acabarão contraindo o vírus.

“É uma doença que acomete principalmente animais mais jovens, os mais sensíveis, sendo até 1 ano, mas eles podem pegar até 2 anos, principalmente quando o animal não tem nenhum tipo de vacina”, segundo ela, esses filhotes tem mais sensibilidade, pois desidratam com mais facilidade. Os sinais/sintomas causam uma queda de glicemia, e de temperatura, chamada de tríade que evolui para o óbito.

Na clínica onde a veterinária presta atendimentos, chegam à receber cerca de 3 animais com o vírus por semana durante o período das chuvas, e o diagnóstico tardio diminui as chances de sobrevivência do animal.

“Nunca vou me esquecer de quando estava me formando na faculdade, e no meu estágio, acompanhei meu primeiro caso da doença, era um Basset de apenas 3 meses de vida, estava internado fazia 3 dias, sem apresentar melhoras, com vômito agudo, diarreia aguda com presença de sangue, bastante prostado, e infelizmente, a parvo vírus evoluiu para o coração. O animal então sofreu uma parada cardiorrespiratória, e foi a primeira vez que eu vi e participei do protocolo de reanimação. A veterinária que estava responsável pelo caso, conseguiu retornar o animal por três vezes, foi realizado o protocolo completo por três vezes, com intubação, mas infelizmente, esse animal veio a óbito”, conta a veterinária, com lágrimas nos olhos.

A vacinação hoje é a principal forma de prevenção contra a doença, e a mesma deve ser fornecida uma vez ao ano, depois do protocolo de vacinação infantil. E assim que for recebido o diagnóstico, ou depois do tratamento ou óbito do animal, sua residência deve ser higienizada. Essa higienização pode ser realizada com água sanitária, “você faz a diluição correta do produto, de acordo com o rótulo, molha o ambiente, deixa agir por cerca de 15 a 20 minutos, depois você faz o enxágue”.

Em maio deste ano, foi aprovado pela Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados, o projeto de Lei 2007/23, que prevê que sejam realizadas campanhas nacionais de conscientização sobre a Parvovirose canina, onde a ideia gira em torno de informar a população sobre a transmissão, sintomas, e formas de prevenção e tratamento. A proposta tramita em caráter conclusivo e ainda será analisada pela Comissão de Constituição e Justiça e Cidadania.

Vanessa Maria da Silva tem uma Boxer, e nos contou como foi sua experiência com o que ela acredita ter sido a doença: “Compramos a Shakira quando ela tinha apenas 3 meses, ela já veio vermifugada, então precisávamos fazer apenas as vacinas, meu marido levou e no estabelecimento foi oferecido duas opções, escolhemos a mais barata, fornecemos todas as doses, no tempo correto, então foi uma surpresa quando ela ficou doente. Ela ficava deitada tristinha, vomitou muito e teve uma diarreia escura muito fedida. Na época eu não tinha dinheiro dinheiro para levá-la no veterinário, então fui até uma casa agropecuária, que me disse que tinha um surto de Parvovirose acontecendo no nosso setor. Comprei os remédios e dei direitinho, e ela ficou boa, poderia ter ficado maior, mas, sobreviveu”.


A Parvovirose, é uma doença infectocontagiosa, causada pelo parvo vírus canino tipo 2.
Sinais Clínicos:
Diarreia hemorrágica
Prostração
Anorexia
Vômitos
Dor abdominal
Desidratação
Hipovolemia
Choque.


“Já a Cinomose, outra doença viral, chegamos a diagnosticar 3 animais diariamente no período de chuvas em 2023, e esse aumento se dá tanto pela falta de vacinação, quanto pelo contato com material contaminado, e o aumento de fugas dos animais de suas residências por conta das chuvas e o contato desses animais com outros que podem estar contaminados.” A doença que é considerada um das mais graves nos animais, é altamente contagiosa e é transmitida através das excreções e secreções de cães e outros animais.

Revisão Literária feita por Carlos Manuel de Ávila sobre o assunto diz que a transmissão se dá principalmente por aeressol e gotículas infectantes no ar, mas que animais com infecção aguda também podem transmitir a doença através das fezes, urina, e exsudatos ( catarro, pus, sangue, entre outros).

“Aqui na clínica grande parte dos animais que atendemos com a doença, eram animais mais velhos, onde o tutor até fez o protocolo de vacinação infantil, mas que não fez a vacinação anual, ou que não acreditavam que animais sem raça definida, os SRD, precisavam receber a vacinação”.

Brenda Reis, também nos explica que a doença, além de ser altamente contagiosa, também deixa sequelas: quando a doença evolui, ela passa do sistema respiratório para o nervoso, podendo causar convulsões, tiques nervosos, como tiques de cabeça, contrações involuntárias dos músculos, e quando evolui para essa fase neurológica a recuperação desse animal completa é muito difícil.

Ela ressalta ainda a importância de que assim que o animal começar a apresentar os sintomas da doença, o tutor deve levá-lo o mais rápido possível para o atendimento veterinário, pois, quando esse atendimento é tardio, as opções de tratamento se tornam escassas, em alguns casos sendo necessária a eutanásia do animal, pois a recuperação fica impossível.

“Não são todas as clínicas que fazem a internação de pacientes positivados para Cinomose, porque ela é extremamente contagiosa, então é necessário que o estabelecimento tenha, no mínimo quatro internações diferentes, por essa razão é imprescindível que o tutor procure ajuda especializada” .

Ela revela ainda que existe um estigma nas clínicas veterinárias, sobre a faixa etária que a doença acomete os animais, que precisa ser quebrado:

“Recentemente eu fiz um atendimento com uma paciente filhote, que veio de outro profissional, que apresentava secreção ocular, e esse profissional que a atendeu anteriormente fez um tratamento para conjuntivite e úlcera de córnea. Eu realizei o teste rápido, que precisa de pegar um período específico da virulência, então nem sempre aponta para a doença, e ele negativou, eu solicitei alguns outros testes, como exames de sangue, onde não apontou nenhum outro diagnóstico possível. Ela então evoluiu para os sinais neurológicos, então eu solicitei um PCR para Cinomose, que demora um pouco para sair, mas já entramos com o tratamento base, de acordo com os sinais clínicos que ela estava apresentando. Ela não respondeu bem ao tratamento, continuou evoluindo de forma negativa, e quando o resultado do exame saiu ela realmente estava positivada para Cinomose. E liga uma luz na nossa cabeça, que o filhote, que teoricamente tem menos chance de apresentar a doença, já que tem o protocolo de vacinação infantil, pode ser acometido por ela. E o tempo que foi perdido entre o primeiro sinal clínico, até o segundo atendimento, provavelmente era o tempo para entrar com o tratamento efetivo, e ela poderia ter tido o óbito evitado”

Brenda Reis, médica veterinária.

Revisão literária, de Carlos Manuel de Ávila, aponta que não existe protocolo de tratamento específico para a doença, já que não existe ainda um antiviral específico, e que o tratamento é realizado de acordo com os sintomas do animal, o que torna a consulta com um veterinário o quanto antes de suma importância.


Na Revisão literária, de Carlos Manuel de Ávila, temos uma lista de sintomas que variam de acordo com a cepa de infecção, e etapa da doença:

Início:

  • Anorexia
  • Desidratação
  • Depressão
  • Picos febris
  • Corrimento Nasal
  • Corrimento Ocular

Fase respiratória:

  • Tosse
  • Pneumonia
  • Corrimento nasal
  • Dificuldade respiratória

Fase gastrointestinal:

  • Vômito
  • Anorexia
  • Diarreia, com ou sem sangue

Fase nervosa/neurológica:

  • Vocalização
  • Cegueira
  • Convulsões
  • Contração muscular rítmica
  • Perda parcial ou generalizada de motricidade
  • Movimento de andar em círculos

Segundo Brenda Reis, a época de chuvas ainda pode aumentar a incidência de problemas de pele e infecções de ouvido, e no caso de locais com incidência de alagamentos, é necessária atenção redobrada para essas doenças e a Leptospirose, que além de infectar seu animal, pode ser transmitida também para seres humanos.

Ela reforça ainda, que a prevenção para essas doenças são similares, e se dá através da vacinação, manejo correto dos animais, cuidado com a segurança, limpeza e desinfetação de onde esses animais vivem, cuidado para esses animais não entrem em contato direto com enxurradas ou fontes de água que podem estar contaminadas.

A falta de tratamentos acessíveis, e o grande número de animais em estado de abandono nas ruas, faz com que a prevenção dessas doenças, que ainda sofrem com a falta de um protocolo específico, seja a principal medida para manter a saúde dos animais. Mas, também deixa claro a necessidade de incentivos as pesquisas e desenvolvimento de antivirais efetivos, disponibilização de campanhas vacinação para a população mais carente, assim como medidas como castração massa dos animais em estado de rua, visando a diminuição de sua população que está mais suscetível ao acometimento das doenças.

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