- Feminicídio: Até quando? - 27 de outubro de 2024
- Mobilidade Urbana de Goiânia: Um desafio nas ruas da capital - 3 de outubro de 2024
- Decreto altera a posse de arma de fogo mas não traz segurança ao cidadão - 12 de setembro de 2024
A morte de mulheres continua em crescimento no Brasil. Segundo dados do ‘Monitor de Feminicídio’, mais de 2.600 mulheres já foram vítimas em 2024. O feminicídio é definido como crime de assassinato ou tentativa de assassinato de mulheres em razão de seu gênero. Os dados atualizados do Monitor revelam um aumento alarmante nos casos em todo o país. São Paulo lidera, com um aumento significativo de mais de 350 casos, seguido pelo Paraná, com 216 casos, e Minas Gerais, com mais de 200 casos registrados.
Esses números refletem uma tendência preocupante de aumento da violência contra as mulheres em diversas regiões do Brasil. Destaca-se a necessidade urgente de políticas públicas eficazes, além de uma maior conscientização e educação para promover a igualdade de gênero e prevenir a violência doméstica. Entre os fatores que contribuem para o feminicídio estão a violência doméstica, a desigualdade de gênero e a cultura machista.
Como começou?
O assassinato de mulheres por razões de gênero é um fenômeno complexo que tem raízes históricas profundas. Embora a violência contra as mulheres exista há séculos, o conceito de feminicídio ganhou destaque nas últimas décadas, especialmente a partir dos anos 1990, quando ativistas e estudiosos começaram a articular a ideia de que esses crimes não eram apenas atos de violência isolados, mas parte de um padrão mais amplo de discriminação e opressão de gênero.
O termo “feminicídio” foi popularizado por volta de 1976, mas a conscientização sobre a questão aumentou a partir de casos emblemáticos, como os assassinatos de mulheres em Ciudad Juárez, no México, que atraíram atenção internacional. No Brasil, a Lei do Feminicídio, sancionada em 2015, tipificou o crime e buscou aumentar as penas para os agressores, mas a implementação da lei ainda enfrenta desafios.
Organizações e movimentos feministas têm trabalhado para aumentar a conscientização sobre o tema, e o governo tem promovido políticas públicas, embora a eficácia dessas ações ainda seja debatida. O monitoramento e a denúncia de casos são fundamentais para combater essa violência.
Viver com medo?
“No início, ele era amoroso, me ajudava em casa, era bastante prestativo, mas, em menos de dois anos de relacionamento, percebi que aquilo era uma máscara. Começou com xingamentos, discussões por coisas bobas, ele bebia muito e fumava maconha na frente dos meus filhos. Não demorou muito para começar a me bater; o xingamento virou tapa, o tapa virou soco, e o soco se tornou uma facada. Quase morri, mas estou viva graças ao meu tio, que ouviu meus gritos na casa ao lado. Ele foi preso, mas tenho medo de que um dia volte a se vingar. Nunca mais tive contato, mas sei que, uma hora ou outra, ele sairá, pois a justiça não é certa. Acho que nunca mais me sentirei segura.” – Depoimento de uma das vítimas de Goiás que prefere não ser identificada.
Daniela, servidora pública, revelou que já passou por abusos psicológicos em relacionamentos anteriores, e isso trouxe insegurança. Hoje, devido a traumas do passado, ela não consegue manter relacionamentos por medo do que possa acontecer, tendo em vista que tem pessoas próximas que já sofreram tentativas de feminicídio. “Ele ficava monitorando minhas redes sociais, me seguia quando ia a algum lugar, até no mercado. Passei 9 meses vivendo desse jeito, com medo de ser agredida ou, pior, de terminar e ser morta, de ser mais uma vítima de feminicídio. Mas, através de amigas, conheci os movimentos feministas e, com o apoio de diversas mulheres, consegui dar um basta nisso. Graças a Deus, não virei estatística.”
Soluções para o futuro
Para solucionar o feminicídio e a violência contra as mulheres, diversas ações podem ser implementadas. Em primeiro lugar, é fundamental promover a educação e a conscientização sobre questões de gênero, respeito e igualdade desde a infância, além de realizar campanhas que ajudem a mudar atitudes e comportamentos prejudiciais. O fortalecimento das legislações também é crucial; é necessário criar e reforçar leis que criminalizem o feminicídio e a violência de gênero, garantindo que sejam aplicadas de maneira eficaz e justa.
Outro aspecto importante é o apoio às vítimas. É essencial estabelecer redes de apoio que ofereçam abrigo, assistência legal e psicológica, garantindo que esses serviços sejam acessíveis e de qualidade. Além disso, o treinamento de profissionais, como policiais, juízes e profissionais de saúde, é fundamental para que possam reconhecer e responder adequadamente aos casos de violência de gênero, oferecendo um atendimento sensível.
O envolvimento da comunidade também desempenha um papel vital, incentivando a participação da sociedade civil em ações de prevenção e apoio, promovendo uma cultura de respeito e igualdade. As políticas públicas precisam ser integradas, abordando as causas estruturais da violência, como a pobreza e a desigualdade de gênero, e promovendo o empoderamento econômico das mulheres por meio de programas de capacitação, acesso a crédito e incentivos para o empreendedorismo.
Por fim, investir em monitoramento e pesquisa sobre feminicídio e violência contra as mulheres é crucial para entender melhor o problema e formular estratégias eficazes. Essas ações exigem um compromisso contínuo de governos, organizações, comunidades e indivíduos para criar um futuro mais seguro e igualitário para todos.