Brasil no comércio exterior: a corrida para se manter competitivo

Confira principal alternativa de mercado do Brasil no comércio exterior após 10 anos desde o ínicio da crise das commodities
Tempo de leitura: 6 min
Tayná Freitas
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Foto: Barrett Ward/Unsplash.

O Brasil é um dos 193 países no mundo (reconhecidos pela ONU), e como uma das 20 principais potências econômicas mundiais, o País tem seu devido papel no comércio exterior. A Divisão Internacional do Trabalho (DIT) nada mais é do que o dever de cada nação em um escopo mundial, o que cada um é especializado por produzir para contribuir com o sistema de troca e manutenção da economia global.

Assim como outros países do BRICS, a função do Brasil na divisão internacional é a produção e exportação de commodities, produtos de baixo valor comercializados em grande escala, como soja, etanol, milho, ferro, níquel, nióbio, entre outros. Essa é a principal atividade comercial que sustenta a balança financeira brasileira, e o principal parceiro econômico do País é a China. Em dados coletados pela Análise Econômica, até agosto deste ano, a nação asiática já havia chegado a um total de US$ 69,2 milhões de dólares em exportações de produtos brasileiros, seguida pelos Estados Unidos, com US$ 26,1 milhões.

 

Gráfico da Análise Econômica apresentado no 11° Eice – Encontro Internacional de Comércio Exterior.

Porém, desde 2014, os produtores de commodities vêm enfrentando uma grande briga na luta pela sobrevivência mediante à crise das commodities que se estabeleceu pelo primeiro déficit registrado na balança comercial desde os anos 2000, correspondendo a uma desaceleração de US$ 3,930 bilhões. Essa realidade apenas se aprofundou na última década, acelerada sobretudo por conta da transição econômica chinesa. Considerando as altas e baixas cada vez mais frequentes nas taxas de juros dos EUA, mediada pelo Federal Reserve Board (FED), Banco Central dos estadunidenses, a situação pode piorar para os importadores brasileiros.

O comércio global é mediado pelo dólar, a moeda internacional, e quanto mais a moeda se torna instável, mais o real sofre. Em uma exemplificação adaptada pela Análise Econômica do livro “O sorriso do dólar”, de Stephen Li Jen, o percurso taxa de juros baixa, taxa de juros elevada e taxa de juro muito alta termina com o real extremamente enfraquecido. Quanto mais a moeda brasileira se desvaloriza, mais os exportadores ganham, porém, mais os importadores gastam.

Para solucionar uma conta que pode terminar em um déficit na balança comercial, uma opção para o Brasil se manter competitivo no comércio exterior é encontrar ou investir em novos parceiros econômicos.

A busca por novos mercados

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Foto: Bernd Dittirch/Unsplash.

Greves portuárias, como no caso dos Estados Unidos, e guerras no Oriente Médio afetam principalmente a exportação de produtos para dois dos principais parceiros comerciais brasileiros (China e Estados Unidos), e uma alternativa para essa situação é a África. De acordo com dados do World Bank, o PIB das regiões ocidental e central do continente africano teve um crescimento de 3,6%, o segundo maior atrás apenas do sul asiático. Essa informação delata uma boa perspectiva sob mercados de fácil acesso direto do Brasil por meio do Atlântico. 

Em 2023, as exportações brasileiras para o continente africano atingiram um recorde de US$ 13,2 bilhões. Essa marca fez da África o quarto principal destino das exportações brasileiras, com potencial de crescimento ainda maior. O Perfil de Comércio e Investimentos África, divulgado pela ApexBrasil em 3 de junho deste ano, destaca o interesse do Brasil em intensificar o comércio com a região, especialmente por meio de projetos setoriais focados em nove países africanos.

Relação simbiótica entre Brasil e África

Além das exportações, os Investimentos Estrangeiros Diretos (IED) entre Brasil e África também vêm crescendo. Em 2022, o estoque de IED brasileiro no continente alcançou US$ 2,1 bilhões, com Angola (US$ 1,4 bilhão), Seychelles (US$ 262 milhões) e África do Sul (US$ 123 milhões) entre os principais destinos. Esses investimentos incluem projetos significativos, como a nova fábrica da Positivo em Ruanda, avaliada em US$ 118 milhões, e a planta de motores elétricos da WEG na Argélia, de US$ 102 milhões.

A tendência de recuperação do IED africano no Brasil também é evidente, com um saldo de US$ 2,3 bilhões em 2021. Entre os investimentos relevantes, destaca-se o data center da Angola Cables em Fortaleza (CE), de US$ 135 milhões, que exemplifica o interesse africano em setores tecnológicos e de commodities brasileiros. Esses projetos são indicativos da expansão da cooperação bilateral e da relevância da África para o comércio e investimento brasileiro.

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Um dos principais bens de consumo duráveis produzidos pelo Brasil são automóveis. Foto: Lenny Kuhne/Unsplash.

O crescimento do PIB da região oeste e central da África chega acompanhado da necessidade por bens de consumo duráveis, e o Brasil enquanto nação que já passou pelo boom industrial pode oferecer suporte à costa atlântica africana. Dessa forma, o País abre mais opções de mercados a exportar, conseguindo se manter não apenas como vendedor de commodities, mas ampliando a exportação de produtos manufaturados com valor agregado.

Nesse caso, em um cenário comercial global, a economia brasileira se torna mais variada, especializada (dentro ainda dos conformes com a principal função sendo exportadora de commodities), e, portanto, mais competitiva, mantendo o Brasil como um competidor relevante.

Esta matéria foi escrita em conjunto entre os jornalistas Tayná Freitas e Otávio Augusto Ribeiro dos Santos.

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