- Entre a Paixão e a Violência: As confusões das Torcidas Organizadas - 30 de outubro de 2024
- Tempo seco e umidade baixa: Goiás entra em alerta vermelho - 4 de setembro de 2024
- Em busca de um objetivo: A rotina caótica dentro do ônibus - 14 de junho de 2023
Na madrugada do último domingo (27), a torcida organizada Mancha Alviverde, vinculada ao clube Sociedade Esportiva Palmeiras, atacou o ônibus da torcida do Cruzeiro Esporte Clube, conhecida como Máfia Azul. A emboscada ocorreu na Rodovia Fernão Dias, em Mairiporã, São Paulo. Dois ônibus que transportavam os torcedores do Cruzeiro foram alvo do ataque; um deles teve os vidros quebrados e o outro foi incendiado. Além disso, um torcedor da organizada de Minas Gerais morreu e outros 17 ficaram feridos devido às agressões.
De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), o confronto ocorreu na rodovia, em direção a Belo Horizonte, por volta das 5h da manhã. Torcedores da Mancha Verde invadiram as pistas e bloquearam o ônibus da torcida do Cruzeiro, que estava vindo de Curitiba para o jogo contra o Athletico-PR. A PRF informou que mais de 100 integrantes das duas torcidas estavam envolvidos na briga.
Um torcedor do Cruzeiro identificado como José Victor dos Santos Miranda, de 30 anos, integrante da Máfia Azul de Sete Lagoas, faleceu carbonizado no ataque e outros 17 torcedores ficaram feridos.
A Polícia Civil de São Paulo está analisando vídeos que circulam nas redes sociais e filmagens de câmeras de segurança para identificar os responsáveis pelos ataques. Em uma postagem no Instagram, a torcida organizada do Palmeiras se manifestou, afirmando que não organizou, participou ou incentivou qualquer ação relacionada ao ocorrido, e que a torcida não deve ser responsabilizada por atos cometidos por 50 torcedores. Além disso, reafirmou seu repúdio a qualquer forma de violência.
Facções Criminosas
Junto com a Polícia Civil, o Ministério Público (MP) acompanha as investigações. O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) da Promotoria vai apurar o envolvimento de torcidas que agem como “facções criminosas”.
Torcida Organizada
Não é de hoje que essas fatalidades ocorrem no futebol brasileiro, com o crescimento das torcidas organizadas a rivalidade entre clubes passou a se manifestar além das partidas. Durante a década de 90, o Estado de São Paulo vivenciou intensos confrontos entre essas torcidas, refletindo um aumento da violência no cenário esportivo.
Segundo o UOL, um dos conflitos mais intensos que marcaram o futebol brasileiro ocorreu em 1995, quando Palmeiras e São Paulo Futebol Clube disputaram a final da Supercopa na capital paulista. Na ocasião, o Porco (torcida do Palmeiras) venceu a partida e a Mancha Verde foi liberada para entrar em campo e comemorar a vitória. Integrantes da Independente (torcida organizada do Tricolor) também invadiram o gramado, e a confusão continuou.
No entanto, o desfecho da história foi trágico, com a briga resultando em mais de 100 feridos, e um torcedor do Palmeiras foi assassinado com golpes de pauladas na cabeça por um são-paulino, que acabou sendo condenado a 12 anos de prisão.
O Ministério Público pediu a extinção das torcidas organizadas. Além disso, os integrantes dessas torcidas foram proibidos de entrar nos estádios usando os uniformes de suas respectivas organizações, assim como bandeiras e instrumentos musicais. No entanto, os torcedores continuaram frequentando os jogos, mesmo sem os trajes proibidos, e os confrontos persistiram.
Naquele período, as torcidas organizadas de ambos os clubes mudaram seus nomes para evitar a extinção. A Mancha Verde passou a se chamar Mancha Alvi Verde, enquanto a Independente adotou o nome de Torcida Independente Tricolor.
Em entrevista, Tahylná Porto, da torcida organizada do Vila Nova Futebol Clube, relata que entrou na torcida ainda criança e já sofreu violência de outros times:
Infelizmente, sofri algumas violências e não tem muito o que fazer. A ideologia da torcida é uma só, estamos ali pelo time que torcemos.
Mônica Castro, torcedora do São Paulo, revela que toma medidas de proteção.
Quando viajo para outros estados, prefiro vestir a camisa do time apenas dentro do estádio. Geralmente, vou sozinha ou com amigas, e estamos mais vulneráveis. Tento ir embora o mais rápido possível após a partida.
Foto: Acervo Pessoal da Mônica Castro
Mônica ainda relembra ter vivenciado uma situação de agressão dentro do estádio.
Uma vez, em um jogo em Brasília, uma menina ao meu lado tentou pegar um autógrafo do jogador Bernard e, sem perceber, estava no meio da torcida do Cruzeiro. Eles vieram pra cima dela e rasgaram a blusa. A polícia chegou a tempo de separar, mas já era tarde. No último jogo aqui em Goiânia entre São Paulo FC e Goiás pela copa do Brasil, estava tudo correndo bem até que dois caras da independente (torcida organizada do São Paulo) começou a brigar, pois um empurrou o outro na hora de cantar, nisso o clima já pesou porque o álcool bateu e já viu. Sorte que os companheiros deles separaram a briga. Eu estava mais próxima já cheguei pra trás.
Em 2003, foi instituído o Estatuto do Torcedor, com o objetivo de assegurar direitos e deveres aos torcedores. Muitas das normas e proibições em vigor atualmente já constavam no Estatuto desde sua elaboração. Por exemplo, membros de torcidas organizadas têm acesso ao estádio apenas com seus uniformes, instrumentos musicais e faixas em áreas específicas. A entrada de bandeiras de mastro permaneceu proibida durante todo esse tempo. Contudo, na última semana, a Justiça autorizou o seu retorno.
A Revista PB destacou o alarmante problema da violência no futebol brasileiro, que resultou em 384 mortes desde os anos 80, muitas delas sem punição. A nova Lei Geral do Esporte, que amplia as responsabilidades dos clubes e torcidas organizadas, busca combater a impunidade. No entanto, especialistas argumentam que apenas punir não resolverá a questão.
No dia 17 de outubro de 1988, Cleofas Sóstenes Dantas da Silva, conhecido como “Cleo da Mancha Verde”, foi assassinado com dois tiros próximo à sede da torcida que fundou, ao lado do estádio Parque Antártica, em São Paulo. Os autores do crime nunca foram identificados.
Mais de 34 anos depois, em 8 de junho de 2023, a torcedora palmeirense Gabriella Anelli, de 23 anos, foi atingida por estilhaços de uma garrafa arremessada por um torcedor flamenguista, vindo a falecer 48 horas após os ferimentos. Jonathan Messias Santos da Silva foi preso e acusado de homicídio doloso.
Foto: Reprodução/ Correio Braziliense
As estatísticas mostram que a violência está enraizada em problemas sociais, e é necessário um pacto de conscientização entre diferentes partes, incluindo governos e torcidas. A Associação Nacional das Torcidas Organizadas (Anatorg), ressalta também na matéria a importância do diálogo com as autoridades para promover mudanças.
Informações do Jornalista Rodrigo Vessoni
O levantamento revelou que a maioria das mortes envolveu torcedores organizados, enquanto outros casos surgiram de brigas em bares ou entre vizinhos. Em 2023, já ocorreram sete mortes relacionadas a torcedores, todas próximas a estádios em dias de jogos.
Além da violência, o racismo nas arquibancadas tem se intensificado, levando a um endurecimento das leis. A nova legislação classifica o racismo como crime imprescritível, com penas severas. No entanto, a Anatorg considera a lei inconstitucional, argumentando que a punição deve recair sobre os indivíduos, não sobre as instituições.
Com o aumento dos casos a partir da década de 1990, medidas foram implantadas pelas federações esportivas, principalmente em São Paulo. No entanto, especialistas consideram essas ações ineficazes, incluindo a determinação de torcida única em clássicos, a proibição de bandeiras e o controle na venda de bebidas em garrafas de vidro em áreas próximas aos estádios.
Esta reportagem foi realizada por meio do auxílio de duas Inteligências Artificiais (IA’s). ChatGPT para a estruturação e organização de ideias, e a IA Canva para a criação do gráfico.