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Imagem: Rolling Stone Brasil

“O Poço”, o primeiro filme dirigido por Galder Gaztelu-Urrutia, tornou-se um fenômeno ao abordar uma história distópica e direta sobre desigualdade e sobrevivência. Lançado em 2019, o filme usou a metáfora de uma penitenciária, onde os detentos recebem comida de uma escada descendente. O objetivo era destacar as camadas de uma sociedade desigual e a limitada chance de solidariedade em um sistema que incentiva o individualismo extremo. A experiência foi perturbada, com o filme escolhendo símbolos fortes e questionamentos morais que provocaram um desconforto profundo no espectador – uma tática que refletiu várias questões sociais atuais, desde a desigualdade econômica até a alienação moral.

“O Poço 2” agora se depara com o desafio de ampliar esse universo sem comprometer a essência de seu antecessor. Este segundo filme retoma o ambiente sombrio e conhecido da prisão vertical, porém procura introduzir novos elementos à trama. De certa maneira, o diretor, preservando o ambiente claustrofóbico e a estética perturbada, mergulha nos dilemas psicológicos dos personagens, abordando tópicos que no primeiro filme foram apenas sugeridos, como a noção de que a verdadeira transformação só pode surgir de dentro e a função da esperança como instrumento de manipulação.

Apesar de “O Poço 2” se adequar perfeitamente ao tom e à atmosfera de seu antecessor, ele não se esquiva de explorar novos aspectos, como uma trama mais intrincada e personagens com motivações menos evidentes. Contudo, essa opção, embora aprimore o contexto da história, também pode tornar o enredo mais complexo e desafiador de seguir. A crítica principal continua a mesma: a estrutura social injusta e desumana. No entanto, o filme agora instiga o público a questionar até que ponto o sacrifício pessoal é benéfico ou até mesmo imprescindível para quebrar o ciclo de opressão.

É válido questionar: teria sido mais eficaz manter a simplicidade de “O Poço 1” ou “O Poço 2” cumpre bem sua função ao arriscar e complicar a trama? Além disso, podemos questionar até que ponto a profundidade psicológica dos personagens auxilia ou atrapalha a experiência geral do espectador. Quais novas metáforas ou alegorias poderiam ter sido exploradas para dar ao filme uma abordagem mais impactante? O filme acerta em manter-se fiel ao seu tom, mas poderia ter se beneficiado de uma abordagem menos pesada em alguns aspectos.

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