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Na tarde de domingo, o estádio vibrava. Bandeiras eram balançadas ao vento, vozes entoavam cânticos, e o som do apito inicial anunciava mais do que um jogo: era o clímax de paixões que haviam sido alimentadas por meses. No entanto, à medida que o jogo avançava, outro espetáculo acontecia, não no campo, mas nas arquibancadas do estádio e em seus arredores.
No estacionamento, pedras eram arremessadas. Dentro do estádio, insultos se transformavam em empurrões, e em minutos, a festa da torcida deu lugar a um verdadeiro caos. Não era mais sobre futebol e muito menos sobre a paixão dos torcedores, era sobre a rivalidade que transbordava para a violência.
A violência entre torcidas organizadas é um problema que insiste em driblar os esforços das autoridades e da sociedade. Dados do jornalista Rodrigo Vessoni apontam que pelo menos 384 pessoas morreram no Brasil nas últimas três décadas em confrontos envolvendo torcidas de futebol . O que deveria ser um espaço de festa e união para famílias tornou-se, muitas vezes, um campo minado de conflitos.
Os motivos são complexos e se entrelaçam: rivalidades históricas, a cultura de confronto alimentada por alguns grupos e a ausência de uma punição efetiva para os responsáveis. Além disso, o futebol reflete, em certa medida, as tensões de uma sociedade marcada pela desigualdade e pela violência cotidiana.
Programas de conscientização, como a criada pelo Ministério do Esporte, tentam mudar esse cenário, promovendo campanhas educativas e diálogos entre torcedores. Mas enquanto as cenas de brigas continuarem ganhando as manchetes, o impacto dessas iniciativas será limitado. Afinal, como torcer com segurança quando o entorno do estádio parece uma zona de guerra?
No campo, o juiz apita o final do jogo. O time vencedor celebra, e a torcida explode em alegria. Mas, ao saírem do estádio, os gritos de celebração se misturam ao som de sirenes e brigas nas ruas próximas. O futebol, mais uma vez, perde de goleada para a violência.
Até quando a paixão pelo esporte será refém de comportamentos destrutivos? A resposta não está apenas nas mãos dos clubes, da polícia ou das torcidas. Está na capacidade da sociedade de recuperar a essência do futebol: o espetáculo que celebra o talento, a emoção e o poder de unir, e não dividir.