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Moda. A palavra soa como uma promessa, algo efêmero e ao mesmo tempo essencial. Na rua, ela se espalha como um perfume, leve, mas capaz de tocar todos ao redor. Não é só a roupa que veste o corpo, é ela quem revela o espírito, o humor, a vontade de ser visto ou, paradoxalmente, de se esconder.

Eu sempre observei a moda com um olhar curioso, quase antropológico. Afinal, em um mundo onde as pessoas se vestem para se expressar, é curioso perceber como a roupa pode dizer tanto sem usar palavras. Cada peça tem um propósito: o casaco oversized que fala de conforto e uma liberdade rebelde, os sapatos de salto que ditam passos altos e as expectativas que os acompanham, o jeans surrado que conta histórias de aventuras e o vestido de festa que grita, sem som, uma história de glamour.

Mas, se pudermos olhar mais de perto, veremos que a moda vai além das tendências que passam com as estações. Ela reflete um desejo de pertencimento e, ao mesmo tempo, uma vontade de se destacar. A mesma calça cargo que foi símbolo de um movimento grunge agora se transforma, anos depois, na peça favorita de influenciadoras no Instagram, que a vestem de forma diferente, misturando estilos, cruzando fronteiras. A moda é isso: um campo aberto de interpretações, um reflexo constante de quem somos e de quem queremos ser.

Lembro de uma tarde qualquer em uma cafeteria do centro da cidade. Estava lá, observando as pessoas ao redor, como sempre faço, e percebi um pequeno desfile acontecendo. Uma mulher de meia-idade entrou, vestida com uma saia midi de flores e uma blusa branca simples. Nada demais à primeira vista, mas havia algo no jeito dela, no olhar firme e na postura, que tornava tudo tão especial. Ela estava “dizendo” que a beleza não precisava de esforço, que a suavidade da escolha estava na confiança com que se colocava o look. E eu percebi, naquele momento, que a moda tem esse poder: não é o que você veste, mas como você veste, com que energia você se coloca no mundo.

Enquanto ela se sentava, um jovem passou por mim, com uma jaqueta de couro preta, calças rasgadas e tênis brancos. Ele estava indo para algum lugar onde talvez ninguém o conhecesse, mas naqueles segundos de observação, ele me deu a sensação de que a jaqueta não era apenas um pedaço de couro, mas uma armadura contra o que quer que o mundo estivesse preparando para ele. Era o estilo de quem ainda busca o próprio lugar, talvez com medo, mas com a coragem de ousar.

A moda, então, se revela como algo muito mais profundo do que simplesmente “o que vestir”. É uma declaração constante, uma afirmação silenciosa de identidade. Cada geração reinventa o conceito, mistura o novo com o velho e transforma tudo em algo que reflete o momento. Mas, por mais que a moda se reinvente, existe algo que nunca muda: a necessidade de se expressar.

Às vezes, a moda é uma fuga; em outras, é um escudo. Em algumas situações, ela é pura diversão. E, em muitas ocasiões, é apenas uma forma de estar no mundo com confiança. E é isso que é fascinante: a moda não pede desculpas. Ela não se preocupa com regras, nem com o que é certo ou errado. Ela é a voz da liberdade, da experimentação, do desejo. E, ao fim e ao cabo, ela só pede uma coisa: seja você, seja no tom mais ousado, seja no gesto mais simples.

No fim das contas, a moda não é sobre estar na “vitrine” das grandes tendências. Ela é sobre ser visto, por quem você é e pelo que você sente, e fazer do corpo a tela que você escolhe pintar todos os dias. Afinal, cada um de nós é, de certa forma, uma obra em constante exposição, movendo-se de um lugar para outro, em busca de uma forma que nos seja confortável e, ao mesmo tempo, única. E quem sabe, no fim, seja essa busca pelo equilíbrio entre a ousadia e a intimidade o que faz a moda ser tão irresistível.

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