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Bruna Aquino de Amorim

Quanto tempo perdemos dentro de um transporte coletivo? Essa pergunta me veio à mente enquanto aguardava meu terceiro ônibus do dia, sentada no banco duro do terminal, após um motorista novato errar o caminho. Já estava ali há mais de uma hora, e o relógio parecia rir de mim enquanto a fila aumentava.

Meu dia começa antes mesmo do sol dar as caras. Às 5h, já estou de pé, me arrumando para encarar o primeiro estágio do dia. Só um não paga as contas. Levo, em média, duas horas para chegar ao trabalho e outras duas para ir do primeiro estágio ao segundo. São quatro horas dentro de um transporte público. No início, isso era insuportável. Chorava pela falta de tempo e pelo cansaço constante. Depois de um tempo, resolvi dar um basta na angústia e criar uma maneira de tornar essas horas “perdidas” mais úteis.

Foi assim que criei o “método trinta-trinta“, um sistema desenvolvido sem nenhuma base científica, apenas a partir das vozes na minha cabeça. Funciona assim: na ida, quando consigo um banco para sentar, uso os primeiros 30 minutos para ler. Não é nada muito sério ou acadêmico — só algo leve, para não sobrecarregar os pensamentos logo cedo. Depois, reservo mais 30 minutos para me atualizar sobre o mundo, ler notícias e, claro, acompanhar uma fofoca aqui e ali. Por fim, uso o último bloco para assistir a um vídeo, uma série ou um filme no celular. E assim, finalmente, chego ao estágio. Nem sempre no horário, porque, mesmo saindo cedo, os ônibus têm sua própria noção de tempo.

Essa rotina impressiona quem a ouve. As pessoas me parabenizam, me chamam de produtiva e perguntam como consigo viver assim. Spoiler: não consigo. Sobrevivo. Acordar antes das galinhas e passar horas sentada em cadeiras — seja no ônibus ou no trabalho — não é algo que se romantiza. Mas, de alguma forma, nos ensinaram que temos que transformar o caos em produtividade.

Perder quatro horas do dia dentro de uma caixa ambulante é normal? Devemos romantizar a exaustão de quem estuda, trabalha e ainda tenta “fazer o dia render”? Ou será que apenas sobrevivemos, esperando desesperadamente pelo fim de semana ou por um feriado que nunca será suficiente?

Afinal, a vida precisa ser só isso?

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