‘Acompanhante Perfeita’: Filme mescla reflexão prática e funcional sobre relacionamentos e inteligência artificial

Estrelado por Sophie Thatcher (Yellowjackets) e Jack Quaid (The Boys), longa usa um tema clichê de maneira divertida
Tempo de leitura: 6 min
Eduardo Bandeira
Acompanhante Perfeita. Poster do Filme. Foto: Reprodução
Poster do filme “Acompanhante Perfeita”. Foto: Reprodução.

Lançado em fevereiro de 2025 e dirigido por Drew Hancock, Acompanhante Perfeita traz uma abordagem moderna sobre as interações entre humanos e inteligência artificial. O filme chega em um momento em que discussões sobre tecnologia e suas implicações nas relações interpessoais ganham cada vez mais destaque, ampliando o interesse por narrativas que exploram os limites entre o humano e o artificial.

O longa apresenta Íris (Sophie Thatcher), uma jovem aparentemente em um relacionamento perfeito com Josh (Jack Quaid). O casal, acompanhado de um grupo de amigos, decide passar um fim de semana em uma cabana isolada. No entanto, o que parecia ser uma viagem tranquila toma um rumo inesperado. O elenco de apoio, que inclui Lukas Gage, Megan Suri, Harvey Guillén e Rupert Friend, contribui para criar uma atmosfera dinâmica, trazendo diferentes reações e tensões à medida que a verdade vem à tona.

Cuidado, Spoilers adiante!

Apesar de dar indícios da natureza de Íris logo no início — com sua paixão excessiva e quase ultrarromântica por Josh, além da obediência fiel aos comandos do namorado —, o mistério se instala já nos primeiros segundos do filme, quando Íris revela, em seu monólogo, que assassinou Josh. A partir daí, cabe ao espectador decidir, ao longo da trama, se deve considerá-la uma heroína ou uma vilã.

O desenrolar da história traz uma reviravolta curiosa: quando se descobre que Josh e Kat (Megan Suri) planejavam usar Íris para assassinar Sergei, o anfitrião, e roubar seu dinheiro, o roteiro subverte a lógica tradicional de filmes sobre inteligência artificial. Em vez de temer a máquina, o público se vê torcendo por Íris, desejando que ela escape da armadilha criada pelos humanos.

Íris em cena de Acompanhante Perfeita. Foto: Reprodução.
Íris em cena de Acompanhante Perfeita. Foto: Reprodução.

Em meio à fuga de Íris, o enredo revela que Eli, amigo do casal, também trouxe seu namorado robô, Patrick, para o fim de semana entre amigos. Entre perseguições armadas, mortes e muito sangue, o filme vai além do suspense e da ficção científica ao refletir sobre relacionamentos abusivos e a cadeia de sofrimento associada à dependência emocional, usando a inteligência artificial como metáfora para essas dinâmicas.

Acompanhante Perfeita se insere dentro de uma tendência recente de filmes que mesclam o terror com reflexões sociais, como Bela Vingança (2020), Corra, Querida, Corra (2020), Não Se Preocupe, Querida (2022) e Pisque Duas Vezes (2024). O que chama a atenção neste caso é que, ao contrário dos filmes mencionados, que foram realizados por mulheres, esta obra é dirigida e escrita por Drew Hancock, um estreante que traz uma perspectiva masculina para uma narrativa que, de certo modo, poderia ter se beneficiado de uma visão mais profunda sobre as relações de gênero.

Embora a trama tente dialogar com temas de manipulação emocional e controle, ela não consegue explorar essas questões de maneira satisfatória, tornando-se mais superficial do que seu conteúdo sugere. Mesmo com boas ideias, o filme falha ao não conseguir dar o peso necessário às suas mensagens, que acabam se diluindo em uma execução mais leve, voltada para o entretenimento rápido, mas funcional.

A proposta de combinar comédia e terror, visível já nos trailers, busca capturar a atenção do público jovem, o que fica evidente com o elenco de rostos conhecidos. No entanto, a piada constante e o tom satírico durante o filme acabam por enfraquecer sua proposta, muitas vezes interferindo na construção da tensão, que é um aspecto fundamental em um thriller psicológico. A tentativa de equilibrar humor e terror não se sustenta por completo, pois o filme acaba se afastando da intensidade que deveria ter, tornando-se mais uma caricatura de suas próprias ideias.

Por isso, muitas vezes o público pode se confundir se está assistindo a um filme de romance, ficção científica, comédia ou terror. Em certo ponto, quando Patrick passa a ser comandado por Josh para capturar Íris, nota-se até uma pegada Exterminador do Futuro. Essa mistura torna a experiência indigesta em certos momentos, mas, para aqueles que gostam de passar por diversas emoções ao assistir a um filme, não atrapalha na diversão.

Pode-se dizer que a força do filme está nas atuações. Jack Quaid entrega uma performance marcante, consolidando um padrão em interpretar personagens masculinos com sérios problemas de autoestima e fragilidade egóica, como visto anteriormente em Pânico 5. Aqui, ele brilha ao dar vida a um antagonista sádico e fácil de odiar. Por outro lado, Sophie Thatcher oferece uma interpretação envolvente, madura e empática, dando profundidade à complexidade emocional de Iris.

Jack Quaid em cena de Acompanhante Perfeita. Foto: Reprodução
Jack Quaid em cena de Acompanhante Perfeita. Foto: Reprodução.

O diretor Drew Hancock, sendo um novato, apresenta um trabalho com falhas, mas competente. Ele se esforça para garantir que a história tenha um bom ritmo e seja visualmente interessante, utilizando elementos como flashbacks e mudanças na perspectiva para manter a tensão. Sua direção não é impecável, mas ele demonstra conhecimento e confiança em sua abordagem. No entanto, o que poderia ter sido uma reflexão mais profunda sobre as interações humanas e a inteligência artificial acaba se limitando ao entretenimento leve.

Em resumo, “Acompanhante Perfeita” se inspira em alguns dos episódios mais marcantes da série Black Mirror, trazendo à tona os clichês típicos desse subgênero, mas sem se levar excessivamente a sério. A escolha de não se aprofundar em uma reflexão mais filosófica permite que a interação entre os personagens seja mais leve e agradável, com uma dinâmica que conquista pela diversão. Embora o filme recorra a elementos já bastante conhecidos, ele consegue utilizá-los de forma eficaz, sem a pretensão de inovar ou reinventar. Talvez essa seja sua principal virtude: ser um entretenimento funcional e divertido, ideal para quem aprecia ficção científica, e quem sabe, também romance e terror.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *