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O quinto álbum do BaianaSystem, lançado em 16 de janeiro de 2025, é formado por 13 faixas colaborativas, marcando uma virada de chave do grupo. O Mundo Dá Voltas é uma viagem no tempo focada na ancestralidade, na fé e na cultura, guiado pelos instrumentos e letras que traduzem a maturidade do BaianaSystem ao longo desses últimos 15 anos de carreira.

Agora, o grupo entrega um álbum com ritmos menos agitados, em comparação com as últimas produções. Mesmo desacelerando, a construção de O Mundo Dá Voltas sabe a hora de impulsionar o Navio Pirata – nome do bloco de carnaval do Baiana System – e traz um som mais vibrante nas faixas Magnata, Balacobaco e Cobra Criada / Bicho Solto.

A CONSTRUÇÃO

O álbum levou três anos para ser produzido, a ideia inicial era que ele fosse o quarto disco do BaianaSystem, mas, devido a pandemia, a banda soltou “OXEAXEEEXU”, um grito melódico dos sentimentos do grupo em um mundo pandêmico. Ao longo desses três anos, os artistas conseguiram maturar o álbum e trazer mais uma experiência musical única, com diversas camadas. 

“O Mundo Dá Voltas” é um álbum feito por inúmeras mãos e vozes, em 13 faixas o grupo baiano consegue unir grandes nomes da música brasileira, em uma viagem ao passado, com Gilberto Gil e os setropolitanos Antonio Carlos & Jocafi e o mestre Lourimbau. As músicas perpassam pelo presente e futuro, trazendo novos artistas, como Melly, o pop com Anitta, o rap de Emicida, a voz inconfundível de Seu Jorge e o rock de Pitty. O Mundo entra na internacionalidade do álbum nas vozes da cantora chilena Claudia Manzo e da norte-americana Kandace Lindsey. Sem contar nas Voltas que o grupo Dá, trazendo novamente a Orquestra Afrosinfônica para parceria em suas músicas. 

O CICLO

O álbum começa com “Batukerê”, convidando para um sonho conduzido no ritmo dos tambores que também são relacionados com a fé. A ancestralidade é peça fundamental nesse novo capítulo do grupo, que, logo na primeira música, traz os laços da família e religião.

O tambor, o batuque também é um ancestralidade da música brasileira, como diz Roberto Barreto, músico do BaianaSystem, em entrevista ao Spotify. O artista ainda fala que batuque do tambor encontra o ritmo das batidas do coração e o girar da terra, elementos encontrados nas músicas e na capa de “O Mundo Dá Voltas”.

Capa do álbum “O Mundo Dá Voltas”. Criada por: Pedro Soares e Ícaro Soares

Em sequência, “A Laje” traz o despertar, com uma letra que brinca com ritmos e pensamentos, trazendo as faces das batalhas e contradições do mundo, em pensamentos feitos em cima da laje, iluminada pelo céu e as estrelas. A música consegue misturar sonoridades com o rap de Emicida, o Ijexá – ritmo afro-brasileiro iniciado na Nigéria – na participação de Melly e o R&B na voz de Kandace Lindsey e constrói um ritmo único.

“Intro Praia” e “Praia do Futuro” são o mergulho, o álbum dá o salto para dentro do mar, primeiro em uma faixa curta, que nasceu de um áudio de whatsapp enviado pela dupla Antonio Carlos & Jocafi para o vocalista do BaianaSystem, Russo Passapuso. A letra foi escrita 40 anos atrás, pensada como um forró, mas, nas mãos do grupo ganhou, uma complexidade musical ao som dos tambores, da guitarra baiana e de instrumentos de sopro.

12 das 13 músicas foram produzidas por Daniel Ganjaman, exceto “Porta Retrato da Família Brasileira”, que foi uma co-produção do músico e escritor angolano, Kalaf Epalanga, e do músico português, Dino d’Santiago. A faixa fala do retorno, na volta para as suas raízes, para a comunidade, para o quilombo, para a Améfrica Ladina – termo que intitula um livro de Lélia González sobre questões raciais.

Russo canta na letra de “Magnata” sobre uma ‘faixa inédita’, mas trechos da canção já foram recitados pelo grupo em algumas apresentações ao longo dos anos, como na música Sulamericano no show de 2019 no festival João Rock . O álbum também é um reflexo do que o BaianaSystem passou e construiu ao longo dos anos, quando o grupo apresenta “Magnata” em seu próprio ritmo, é impossível não viajar pela história do Baiana, que retoma os seus álbuns e compassos.

O sentimento de ser uma “Agulha” no “Palheiro”, no caos da cidade é trazida primeiro em “Palheiro”, faixa sem voz, apenas com o solo de Manoel Cordeiro que te guia para uma viagem para o futuro sem olhar para trás, em “Agulha”. 

Depois de passar por diversos ritmos e sonoridades, “Pote d’Água” volta ao passado, em uma letra que retoma mais uma vez a ancestralidade, dessa vez a brasileira, recitando nomes de povos indígenas. Letra que forma um casamento perfeito ao som do berimbau, do Mestre Lourimbau, na voz de Gilberto Gil, trazendo a sensação de pertencer.

“Cobra Criada / Bicho Solto” retorna para o presente, mostrando que apesar da ‘domesticação’ que os humanos chegaram na atualidade, ainda é preciso ter o instinto de bicho, que não se deixa ser dominado e coloca sua marca no mundo.

A música que inicia a volta final do álbum é “Balacobaco”, faixa que anuncia o carnaval. Além de retornar ao ritmo dançante do Baiana, a faixa traz um protesto na poesia recitada pela atriz Alice Carvalho e marca o ciclo, onde todo final também pode ser começo. A música já entrou no ritmo da maior festa brasileira e foi apresentada no Furdunço, pré-carnaval de Salvador, na qual o BaianaSystem é atração principal nos últimos anos e arrasta multidões atrás do Navio Pirata. 

A faixa que leva o título do álbum “O Mundo Dá Voltas” é regida pela Orquestra AfroSinfônica, que com uma potência e presença grandiosa te leva ao fechamento de ciclo. O quinto disco do BainaSystem termina onde começa, na fé. “Ogun Nirê”, é um agradecimento, um sentimento de entrega e de finalização até o último bater do tambor.

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