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Lançado em 14 de fevereiro na Apple TV+, Entre Montanhas (The Gorge, 2025) quebrou recordes na plataforma ao aumentar sua audiência em 80% e atrair novos assinantes. O filme surge em um momento de ousadas experimentações no streaming, oferecendo uma premissa intrigante: dois atiradores isolados, posicionados em torres opostas, vigiam um desfiladeiro enigmático envolto em uma neblina sem fim. A verdadeira aposta da obra está na mescla de gêneros – terror, ação, romance, drama e suspense –, que busca atrair um público diversificado.
O filme é conduzido pelo diretor Scott Derrickson, conhecido por criar atmosferas densas em clássicos do terror, como O Telefone Preto e O Exorcismo de Emily Rose, além de ter dirigido Doutor Estranho para a Marvel. A fotografia do filme é um de seus grandes acertos: as paisagens nórdicas, com seu frio e isolamento, reforçam o clima de mistério e suspense. O roteiro, assinado por Zach Dean, busca entrelaçar diversos gêneros sem se limitar em uma identidade única, o que gera uma narrativa que transita do silêncio contemplativo para momentos de ação frenética e sobrevivência. Em entrevistas, Derrickson descreveu o longa como diferente de todos os seus projetos anteriores: “Nunca vi um filme assim e é o tipo de filme de grande orçamento que eu gostaria que Hollywood fizesse mais”, afirmou o diretor em entrevista à Veja de São Paulo.
Outra coisa que se destaca é o elenco de peso, que reúne talentos consagrados. Miles Teller, conhecido por sua atuação intensa em Whiplash e Top Gun: Maverick, encarna Levi Kane com uma sutileza que reflete seu histórico de papéis complexos e emocionais. Ao seu lado, Anya Taylor-Joy, que ganhou projeção internacional com The Queen’s Gambit e Emma, imprime em Drasa uma mistura cativante de vulnerabilidade e força. Complementando essa formação, Sigourney Weaver, ícone do cinema de ficção e terror – com atuações marcantes em Alien e Avatar –, adiciona um tom de autoridade, enriquecendo a narrativa com sua experiência e presença inconfundíveis.
A trama acompanha Levi Kane, um atirador americano de renome – considerado entre os cinco melhores do mundo –, e Drasa, uma franco-atiradora lituana, cujas vidas são marcadas por traumas pessoais e escolhas profissionais duras. Inicialmente, o filme se destaca por seu ritmo pausado: durante quase os dois primeiros terços da obra, a narrativa se desenrola de forma calma, permitindo que os personagens se revelem de maneira sutil. A comunicação entre eles, feita por binóculos e recados manuscritos (lembrando o memorável clipe de You Belong With Me, de Taylor Swift), constrói uma tensão poética e um romance que desafia a distância física.
Contudo, a ambição de abranger tantos gêneros também revela suas fragilidades. A atmosfera contemplativa cede espaço para uma transição abrupta: o silêncio é substituído por sequências de ação e terror, com confrontos envolvendo criaturas e efeitos visuais tecnicamente competentes, mas que acabam recorrendo a clichês previsíveis. O enredo, que inicialmente se beneficiava de um mistério bem construído, perde parte de sua profundidade ao revelar de forma apressada e demasiadamente explicativa os segredos do desfiladeiro.
Embora algumas críticas tenham sugerido uma falta de química entre os protagonistas, uma análise mais minuciosa revela que a conexão do casal se baseia justamente em suas experiências singulares: dois atiradores de elite, solitários e marcados por passados violentos. Essa ligação se desenvolve de maneira natural, demonstrando que a proximidade emocional não depende somente do toque físico. Entretanto, apesar do terreno fértil que a história dos personagens e seus traumas poderiam oferecer para debates mais profundos, o filme opta por abordagens e diálogos que, em certos momentos, permanecem na superfície.
A proposta do longa-metragem tem dividido opiniões entre críticos e público. Segundo o Rotten Tomatoes, o filme obteve cerca de 65% de aprovação entre os críticos e 77% de aprovação do público. No Metacritic, a obra alcançou uma pontuação média de 57, indicando uma recepção mista. Especialistas elogiam a inovação da premissa e a qualidade visual, mas apontam que, no segundo ato, o apelo mercadológico e a transição para sequências mais clichês prejudicam a coesão narrativa.
Entre Montanhas é uma aposta corajosa e, em muitos aspectos, bem-sucedida, ao se vender pelo mistério e pela diversidade de gêneros para cativar seu público. Embora a obra não beire a genialidade, ela cumpre seu papel de entreter do início ao fim – entregando momentos de romance e ação que, apesar de algumas transições abruptas e desfechos previsíveis, oferecem um conjunto final envolvente. Em resumo, para os espectadores que valorizam a estética visual e a proposta de um enredo que se desdobra em múltiplas oportunidades, o filme é uma opção descontraída e divertida.